TECNOLOGIA

Gestão feminina busca espaço na cibersegurança

No setor de tecnologia da informação, comandado majoritariamente por homens, empresa pernambucana é ponto fora da curva

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JC

Publicado em 24/05/2024 às 6:00
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Demanda global crescente, a segurança cibernética virou tema recorrente na agenda de CEOs e executivos de qualquer tipo de empresa. O avanço da digitalização dos negócios abriu portas para a inovação ao mesmo tempo em que ampliou os riscos. O Nordeste, que resguarda destaque quando o assunto é tecnologia, com parques tecnológicos como o Porto Digital do Recife, em Pernambuco, também virou exportador das soluções de cibersegurança, invertendo a lógica de produção, concentrada no Sudeste, e também a conjectura predominantemente masculina à frente de empresas de tecnologia.

Somente em 2024, o setor de cibersegurança deve movimentar no Brasil o equivalente a R$ 8,8 bilhões, conforme levantamento da International Data Corporation (IDC),uma fatia considerável desses recursos passa pela região nordestina.

No Recife, a BIDWEB , criada em 2002, é uma das precursoras no setor no país, com reconhecimento local e inserções tanto no Nordeste quanto no Sudeste. A empresa, embarcada no Porto Digital, projeta faturar R$ 50 milhões este ano, reverberando soluções desde a sua sede no Recife até as filiais em São Paulo, Fortaleza e nos Estados Unidos.

“O Nordeste, num movimento capitaneado por Pernambuco, tem se destacado na oferta de mão de obra e de serviços tecnológicos para o Brasil e para o mundo. Não à toa, estou aqui e mantenho a sede da minha empresa de segurança cibernética desde seus primórdios. Com o advento da pandemia, com a atuação remota, as ordem dos fatores se inverteram de maneira mais intensa, garantindo ao mercado local a ‘exportação’ da tecnologia produzida aqui”, diz a CEO e fundadora da Bidweb, Flávia Brito.

A Bidweb foi fundada por Flávia, uma mulher do Agreste pernambucano que contrariou a vontade dos pais, estudou tecnologia, superou desafios e hoje é conselheira do Porto Digital - anos após ser uma das primeiras mulheres a empreender no parque tecnológico. A entrada da Bidweb para o ecossistema do Porto Digital, em 2014, potencializou o negócio, que passou de uma pequena sala locada para as principais contas do Nordeste e de Pernambuco no setor. Em 2018, foi criado o Bidlabs, laboratório de pesquisa para resposta aos clientes, tornando-se uma empresa especialista em segurança estratégica no universo digital.

A Bidweb atualmente se destaca dentro do universo do Porto Digital, que já é o maior e mais relevante parque tecnológico urbano da América Latina, com crescimento de 14% no faturamento em 2023 e R$ 5,4 bilhões de receita de suas 415 empresas e dos mais de 18.400 colaboradores.

“Enfrentei todo o tipo de preconceito e dificuldade desde o momento em que pensei em seguir na carreira de tecnologia da informação. Ainda dentro de casa, tive de enfrentar o desconhecimento e medos do meu pai, que não se dava por satisfeito com a minha escolha por Ciência da Computação - que não era algo para mulheres e sobretudo, à época, não era futuro para qualquer pessoa que pensasse em ter uma carreira bem sucedida”, conta Flávia.

Flávia Brito é uma das poucas em meio a um universo predominantemente masculino. Hoje, entre os gestores de tecnologia, tem trabalhado pela inclusão de outras mulheres no mercado, promovendo cursos exclusivos para mulheres e participando ativamente em iniciativas de empoderamento feminino, que invistam e defendam a formação e contratação de mulheres em empresas de TI, garantindo inclusive oportunidades de cargos estratégicos a elas.

Qualificação feminina é o caminho para preenchimento de vagas

Em franca expansão, o mercado de cibersegurança é uma das verticais do setor de Tecnologia da Informação que demanda uma grande quantidade de profissionais qualificados. De acordo com a consultoria IDC, o Brasil terá um déficit de 140 mil profissionais de cibersegurança até 2025, e boa parte dessas vagas podem e devem ser ocupadas por mulheres.

“A demanda do mercado existe, mas este é um setor que exige muita qualificação. Agora é a hora de formar os profissionais que a área está demandando e focalizar nas lacunas que historicamente precisam ser fechadas no setor: o que quero dizer que devemos priorizar a formação de mão de obra feminina, para não cometermos os mesmos erros que nos levaram à concentração masculina nas empresas de T.I.”, afirma Flávia Brito.

De acordo com levantamento da Check Point Software Technologies - multinacional americana-israelense, as mulheres ocupam cerca de 25% dos cargos de cibersegurança. Mesmo com a rápida expansão prevista para o mercado, a perspectiva é de que elas cheguem a 30% destes cargos no mundo até 2025, aumentando para 35% até o ano 2031.

“A presença feminina traz uma perspectiva diferente para a resolução de problemas complexos e decisões estratégicas. Comprovadamente, a diversidade de gênero no local de trabalho promove um ambiente mais inclusivo e inovador, que são características pertinentes para o desenvolvimento de soluções que visam à coibição de ciberataques, e por isso devemos promover com vigor o avanço feminino no setor”, reforça Flávia.

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