Caos em Jardim Fragoso

Três dias após inundação, bairro de Jardim Fragoso ainda guarda rastros de destruição

Após chuva de 242 milímetros atingir o bairro, em Olinda, moradores tentam retomar a rotina, mas precisam lidar com a situação caótica deixada pelo temporal

Da editoria de Cidades
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Publicado em 03/06/2016 às 7:30
 Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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O cenário é desolador. É o retrato dos moradores do bairro de Jardim Fragoso, em Olinda, Região Metropolitana do Recife, três dias após o temporal que atingiu o estado na última segunda-feira. Os 242 milímetros de chuva que caíram sobre o bairro, segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), deixou um rastro de destruição. A dimensão do estrago está nas ruas, ainda cheias de lama e entulhadas com os pertences dos moradores, que, numa matemática cruel, já não contam nos dedos o que foi levado pela enchente. O que contribuiu para tamanho dano? Para os moradores, a obra de alargamento do Canal do Fragoso, sob responsabilidade do Governo do Estado.

Nesta quinta-feira (02), a reportagem do JC foi a Jardim Fragoso conferir como os moradores estavam retomando a rotina após a chuva. Andar pelo bairro foi uma tarefa árdua. A principal via da área, a Rua José Alexandre de Carvalho, estava completamente esburacada. A mobilidade ficou comprometida. O principal problema era a não chegada dos ônibus que servem a região, impedidos de fazer o tradicional trajeto pela rua devido às crateras. “Os próprios moradores estão colocando metralha na pista para tapar os buracos e permitir a passagem dos ônibus, pelo menos”, disse a aposenta Rosinete Oliveira, 63 anos, moradora da rua há 35. Ela, como muitos outros, tentava reorganizar a casa com o pouco que sobrou. 

Do outro lado da rua, a residência da também aposentada Gilda Teixeira de Almeida, 70, foi a que sofreu mais danos. A força da água derrubou o muro da casa, construída há quatro décadas. “Perdi tudo. A água nunca tinha chegado a essa altura. Vou tentar aproveitar os tijolos do muro que caiu. Quero vender essa casa, mas vai ser difícil. Não vale nem R$ 100 mil”, contou. Dentro do imóvel, as paredes denunciavam até onde a água tinha chegado, cerca de 1,5 metro acima do chão.

A Rua Frei Querubim espelhava a situação das demais vias do bairro. Muita lama e entulho. Desde que a água baixou, os moradores, na tentativa de esvaziar as casas, vêm colocando móveis e eletrodomésticos nas calçadas ou no meio das vias. Eram sofás, camas e geladeiras perdidas para a água. Com a sujeira acumulada, o cheiro de lixo podre não cessava. Animais como cobras, ratos e escorpiões foram encontrados nas casas dos moradores. 

A reclamação unânime no bairro era de que a obra de alargamento de um trecho de 2,3 quilômetros do Canal do Fragoso motivou a inundação. “Nunca havia tido um alagamento dessa proporção aqui, só começou depois que iniciaram essas obras do Canal do Fragoso. O canal transborda e água invade a casa de todo mundo”, reclamou o motorista Fernando Antônio Rodrigues, morador do bairro há 20 anos. De acordo com os moradores, o canal é um gargalo. Para eles, a origem do problema está em um aterro formado no meio do curso d’água, que afunilou o rio e não deixou espaço para a água correr, ocasionando o transbordamento. 

 Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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Porém, o titular da Secretaria de Habitação do governo do Estado, pasta que toca a obra, vê outros motivos para a inundação de quatro dias atrás. “Todos os estudos técnicos solicitados indicam que o alargamento não teve influência na inundação. Temos que levar em consideração o volume de chuva registrado no bairro. Nunca choveu tanto em um dia desde que passamos a registrar o índice pluviométrico da área em 2014. Foram 242 milímetros, mais que o dobro do dia mais chuvoso em 2015. O acumulado de maio foi de 733 milímetros”, defendeu o secretário Marcos Baptista. Sobre o aterro citado pelos moradores, ele garantiu que não há obstrução, pois há tubulações que permitem a passagem da água. 

O alargamento do Canal do Fragoso faz parte do projeto da Via Metropolitana Norte. Ao custo de R$ 336 milhões, estão previstas a construção de 840 unidades habitacionais, alargamento e revestimento de 4,5 km da calha do Rio Fragoso, construção de um viaduto sobre a PE-15, doze pontes sobre o canal e implantação de 6,1 quilômetros de vias marginais na região. A intervenção na calha do rio evitará os constantes alagamentos registrados nas épocas de chuvas na região. Segundo a Secretaria de Habitação, os 2,3 km iniciais do canal estarão alargados até maio de 2017. 

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