Patrimônio

Engenho São João é devorado pelo mato em Itamaracá

Construção do século 17, o Engenho São João, onde nasceu o abolicionista e conselheiro João Alfredo, é de propriedade do Estado

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 09/09/2018 às 8:08
Foto: Leo Motta/JC Imagem
Construção do século 17, o Engenho São João, onde nasceu o abolicionista e conselheiro João Alfredo, é de propriedade do Estado - FOTO: Foto: Leo Motta/JC Imagem
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Não é figura de linguagem dizer que a casa-grande do Engenho São João, na Ilha de Itamaracá, está sendo engolida pelo mato. Basta olhar a foto publicada nesta página para ver o emaranhado de capim na área interna da edificação, às margens da PE-35, no Litoral Norte de Pernambuco. O matagal cobre quase todo o piso que ainda resta no casarão destelhado.

A casa-grande do Engenho São João, tombada como patrimônio histórico do Estado em 1983, tem rachaduras nas paredes, cupins nos portais e pedaços de ladrilho amontoados pelo chão. Para evitar o desabamento do monumento, a Fundarpe fez uma obra de estabilização das paredes em 2008. Aproveitou o serviço e fechou com tijolos todas as entradas de portas e janelas, que tinham sido saqueadas.

Mas a medida não intimidou novos ataques. Vândalos abriram passagens nos tijolos na parte de trás do imóvel. O mato cresce dentro da casa (árvores também) e na escadaria de pedra da fachada principal. Uma corda amarrada no gradil da sacada de uma janela lateral e fezes de cavalo em volta sugerem que o cabo é usado para prender animais no quintal.

O Engenho São João, construído no século 17, é reconhecido como um dos primeiros estabelecimentos do gênero movidos a vapor no Brasil. De acordo com a Fundarpe, o tombamento só protege a casa-grande, local de nascimento do abolicionista e conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira (1835-1919). No século 19, a propriedade pertencia ao avô materno do político pernambucano.

Abolição

João Alfredo, falecido no Rio de Janeiro, exerceu a função de conselheiro durante o reinado de dom Pedro II (1840-1889). Foi ministro do Gabinete Rio Branco, que promulgou a Lei do Ventre Livre para conceder liberdade aos filhos de escravos, em 1871. E presidiu o Gabinete 10 de Março, que publicou a Lei Áurea (redigida por ele) em 13 de maio de 1888, libertando os negros da escravidão no Brasil.

O casarão de fachada neoclássica que se arruína em Itamaracá é uma construção possivelmente do século 18 e deve ter sido erguida sobre as ruínas da edificação mais antiga, segundo informações da Fundarpe. A placa de identificação do Engenho São João, colocada defronte da antiga fábrica, lugar onde se produzia o açúcar, está corroída e apagada.

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