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Dantas Suassuna ilustra capa de Natal do Jornal do Commercio

Após um recolhimento artístico, Dantas Suassuna planeja um 2015 produtivo. Artista pintou o Natal a pedido do JC

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 24/12/2014 às 16:17
Ricardo B. Labastier/JC Imagem
Após um recolhimento artístico, Dantas Suassuna planeja um 2015 produtivo. Artista pintou o Natal a pedido do JC - FOTO: Ricardo B. Labastier/JC Imagem
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Os últimos anos foram de uma volta do autoexílio artístico no Sertão para, enfim, “reencontrar-se” por completo com seu pai, não fosse a supresa que 2014 preparou para Manuel Dantas Suassuna. O pai partiu, encantou-se como o vento. Mas o reencontro entre os dois não deixou de existir. Eles estiveram e estão juntos em tudo: nos projetos, nas obras, nos sonhos e, para sempre, no olhar particular sobre o Sertão e o povo brasileiro. Filho e herdeiro da arte deixada por Ariano Suassuna, Dantas foi convidado pelo Jornal do Commercio para ilustrar a capa especial de Natal que circula hoje no Estado. Nos traços fortes, brutos e precisos, o artista nos revela a beleza do espírito natalino com sua sensibilidade: o nascimento da família, como essência da vida e renovação da fé. 

Sem título, a obra foi pintada em acrílico sobre papel, com base num registro rupestre encontrado por Dantas nas suas expedições artísticas no Rio Grande do Norte. “Quando me convidaram, comecei a ver referência europeia do nascimento de Cristo, mas depois resolvi fazer uma coisa diferente do que tradicionalmente se faz. Queria fazer uma coisa que ao mesmo tempo pudesse ser feita com referência diferente. Uma imagem inusitada. Como eu estava dando uma série de oficinas de pinturas rupestres, veio a ideia de fazer baseada numa pintura que eu vi recentemente, e assim fiz”, explica o artistas plástico. 

O Natal retratado por Dantas na pintura especial está alicerçado na família. Não só a família cristã, mas a de todos os povos, crenças e fés. “Você partindo de uma forma europeia, estaria direcionando o olhar. E da forma que eu retratei, você abrange todas as famílias”, ressalta. “Quis mostrar um Cristo bem simples, não carregado de forma religiosa e acadêmica. Não quis botar segmento. Deixei a cargo de quem está vendo interpretar o nascimento”, completa Dantas, que em junho de 2014 lançou a exposição Fragmentária: o silêncio, o caos, o labirinto e o altar, a terceira em quatro anos. No trabalho, ele fez uma mergulho sobre sua formação artística e tudo aquilo que se manifesta como trajetória de arte e pintura no Brasil. 

Foi na última parte da exposição que Dantas louvou seu pai, junto a outros dois escritores que compõem o olhar do artista plástico sobre o Sertão. Ariano estava igualado a João Guimarães Rosa e Euclides da Cunha. “Quando montei O altar, tive um pressentimento. Nunca disse isso a ninguém. Mas me dei conta de que estava colocando papai junto a dois mortos”, revela. Um mês depois da abertura da exposição, Ariano Suassuna morreu, sem chegar a visitar Fragmentária. 

Dois mil e catorze marcou uma retomada na vida de Dantas, como ele mesmo conta. “Esse ano foi fundamental. Em tudo. Pelo que estava a acontecer, pelo que me programei, pelo que consegui e pelo que não consegui fazer”, diz o artista. “Sou o único filho de papai artista. Como falei a você, sou o herdeiro de sangue e artístico. Mas durante minha vida, eu e papai sempre conversamos muito. Eu decidi que seria artista muito novo. Quando comecei na carreira, e tinha meu pai ao meu lado e, diferente dos outros, tive que me afastar artisticamente, não emocionalmente, para criar uma identidade própria. E isso foi conversado com ele. Assim, fui para o Sertão”, relembra Dantas. 

Com mais de 50 anos e uma identidade artística já definida, Dantas foi voltando aos poucos para o lado do pai. “Agora em 2014, a gente estava se programando para fazer um trabalho em conjunto, dentro do livro dele. Além disso, a gente tinha se programado para fazer um filme, eu entrevistando ele, sobre nossa relação e a vida dele. Esse 2014 foi e está sendo um marco”, resume ele, hoje responsável por cultivar a memória do pai e levar adiante sua obra. “Isso está me aproximando mais ainda da figura do meu pai”.

Os projetos de Dantas seguem a todo pique. Dentro da liberdade que Ariano lhe deu, o artista cria sua obra desapegado de qualquer amarra, norteado apenas pelo conceito do armorial: a busca de uma arte brasileira, com influência no tripé indígena, ibérico e o africano.

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