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O voo agreste do cantor Almério, vencedor do Natura Musical

Caruarense colocou um batalhão para votar nele e assim conseguir gravar o segundo disco

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 13/12/2015 às 12:30
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Caruarense colocou um batalhão para votar nele e assim conseguir gravar o segundo disco - FOTO: Divulgação
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Conhecido pelo critério e conhecimento musical extremos, o historiador e crítico musical Zuza Homem de Melo perguntou, sem meias palavras, quando encontrou o pernambucano Almério Feitosa, semana passada, em São Paulo: “Então, preparado para o sucesso?”. Mais esfuziante, o DJ Zé Pedro dizia, antes do cantor se apresentar ao lado de Luis Melodia na festa do prêmio Natura Musical: “Viva! A música brasileira acaba de ganhar mais uma estrela”. Almério, ali, tentava se equilibrar entre a felicidade e a tensão. “Pra gente, que vive na batalha, na sombra da produção concentrada entre o Rio e São Paulo, ganhar esse prêmio foi muito bom. Foi uma noite mágica, mas fiquei feliz e também concentrado, preparando a cabeça para tudo que pode vir pela frente”, diz Almério, por telefone, de São Paulo, onde está e tenta fechar alguns shows após ser contemplado, por votação popular, pelo edital da empresa de cosméticos que vai patrocinar seu próximo disco e o show de lançamento.

“O show será no Santa Isabel, no Recife, no dia 3 de junho”, informa Almério. “Mas o patrocínio é apenas para esse show e para o disco.  Estou tentando viabilizar uns shows em São Paulo e no Rio”, ele diz, já sondado, inclusive, pela produtora do ídolo Luis Melodia para uma agenda no eixo. Aos 35 anos de idade, filho de um ‘chofer de praça’ e de uma funcionária pública de Altinho, ao lado de Caruaru, ele vê finalmente a possibilidade de uma carreira nacional. “Estou trabalhando a cabeça para construir as coisas da melhor forma”, ele diz.

O último mês foi especialmente tenso para Almério. Com os amigos, ele viveu uma campanha imensa para conseguir os votos no site do edital que garantiram o patrocínio. “Tanto que os produtores do Natura Musical estavam preocupados com a gente. Eu organizei multirões de 20, 30 pessoas votando. Eu chamava os amigos e fazia ensaios abertos enquanto eles votavam. Fui para bares, museus, praças, juntava a galera. Onde havia internet boa, eu fazia o ‘Vota que eu canto’, diz ele. “Montei uma base na casa da minha mãe, que tem uma internet muito boa. Foi uma pressão psicológica muito grande, uma disputa infinita. Eu acordava e já tinha gente votando”.

Se a tensão aumentou, a vida de músico sempre foi dura para Almério, embora prazerosa. “Várias vezes, eu tive que pagar pra me apresentar em festivais, porque tinha que arcar com vários custos”, ele diz. Ultimamente, Almério se dividia entre shows nos bares e restaurantes  de Caruaru e apresentações no Recife como o show com repertório de Chico e Caetano feito em parceria com Gerlado Maia no Café Castro Alves, no bairro de Santo Amaro.

Seu pai faleceu aos 11 anos. No ano 2000, ele deixou a casa onde vivia com a mãe e os três irmãos em Altinho para tentar a vida artística em Caruaru, a maior cidade da região. “Para me manter, fui trabalhar numa banca de revistas e cantava na noite. Por sorte, essa banca ficava na frente de um estúdio onde conheci muita gente boa como Herbert Lucena”, ele lembra. ”Em Caruaru, a gente ainda tem que matar um leão por dia”, diz, entre risos. Na frente daquele estúdio, ele acabou participando da gravação dos discos de Ivan Márcio e Valdir Santos. “Já nasci cantor, e era muito estimulado pelo meu irmão mais velho.”

Encantado com as bandas de pífano de Caruaru, Almério começou a fazer  “uma samba pifado” nos bares quando recebeu um convite para abrir os shows da cantora Rogéria no bar Fim de Feira. Foi o que podemos chamar de turnning point em sua carreira. Em vez de cantar clássicos da MPB como faziam doze de cada dez cantores da noite, ele reuniu na apresentação as composições de todo mundo que estava fazendo música em Caruaru. E era, não por acaso, um timaço: Ortinho, Junio Barreto e próprio Herbet Lucena, entre outros. Quando fez, logo depois, num teatro da cidade, o show Almério canta Caruaru, largou seu outro emprego. “Eu trabalhava de dia na banca de revistas e de noite me dedicava à música. Era cansativo”, diz ele, que nunca fez faculdade. “Não deu tempo. Mas ainda penso em cursar cinema ou jornalismo. Não pra mudar de profissão, mas pra me ajudar a escrever as letras”, diz.

Ampliação e continuidade de seu disco de estreia, Desempena é o nome do segundo disco que tem pré-produção agora em dezembro. “Em março, deve estar pronto”, diz ele, que vai contar com a parceria e direção musical do amigo Juliano Hollanda. “Meu primeiro disco tem muita informação. Nesse próximo, eu quero deixar minha voz em mais evidência, e dialogar com o violão de Juliano, que é muito doce, lírico. De uma nota, ele faz uma canção. Será também um disco inspirado no álbum Quadrafônico, de Alceu e Geraldo, um disco que mudou minha cabeça. Tenho até medo de dizer isso, porque é um álbum muito, muito genial”.


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