Iconoclasta

Festival de Curitiba: Denise Stoklos se extingue e reinventa em solo

'Denise Stoklos em Extinção' celebra de forma original 50 anos de teatro

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 06/04/2018 às 16:31
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'Denise Stoklos em Extinção' celebra de forma original 50 anos de teatro - FOTO: Divulgação
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Uma das atrizes mais celebradas e iconoclastas do país, Denise Stoklos utilizou o palco do Teatro Guairinha para revisitar sua vida e carreira – e demoli-las. Lá, ela estreou, quinta-feira (5), o solo Denise Stoklos em Extinção, trabalho que reforça sua potência criativa e capacidade de se reinventar enquanto mantém, vigorosamente, sua essência.

Celebrando 50 anos de carreira, a artista paranaense é uma referência internacional. Já se apresentou em trinta países, em sete idiomas, foi convidada para transmitir seus conhecimentos por instituições como a Universidade de Nova York, especialmente seu Teatro Essencial, método que busca ressaltar o máximo da teatralidade com o mínimo de artifícios cênicos.

No novo trabalho, ele toma como ponto de partida o livro Extinção, de Thomas Bernhard, para fazer provocações sociais e pessoais. Na obra do austríaco, um homem de espírito libertário precisa confrontar – e destruir ­– os resquícios de sua formação familiar, uma vez que ele observa no pai, na mãe e nos irmãos os símbolos do que há de mais atrasado no mundo. Stoklos mescla trechos da obra com sua própria trajetória, sem priorizar um ou outro.

PULSANTE

O cenário, com entulhos que lembram carvão e destroços, é complementado por um telão em que há, por vezes, projeções de momentos da carreira da atriz, diretor e dramaturga, assim como imagens de sua intimidade, como cenas da infância. Há também um momento emocionante com exibição de vídeo de Antonio Abujamra falando da relação do artista com seu fazer, a fama e o público.

Quase sempre lendo, o que pode causar um estranhamento à princípio, Denise Stoklos ora brinca com a plateia, ora dá socos emocionais contundentes. Em vários momentos ela borra as fronteiras entre sua história e a de Extinção. Assim como propôs o autor austríaco, ao invés de celebrar de forma acrítica o que conquistou, os 50 anos de teatro (a atriz tem 68), ela busca se desvelar, picotar, para continuar avançando. “Quero me extinguir pela palavra”, chega a afirmar em determinado momento. E com a verborragia, seus movimentos precisos e expressões marcantes, ela vai demolindo tudo – o teatro, a sociedade, ela mesma e a própria plateia.

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