Presidenciável

Em campanha, Bolsonaro vai à Cidade de Deus

'Não ouvi nenhum tiro', disse Bolsonaro após visitar comunidade mais violenta do Rio

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Publicado em 02/02/2018 às 9:00
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'Não ouvi nenhum tiro', disse Bolsonaro após visitar comunidade mais violenta do Rio - FOTO: Foto: Reprodução/Facebook
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O presidenciável e deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) escolheu esta quinta-feira, dia 1º - o segundo consecutivo marcado por tiroteios na Cidade de Deus, comunidade pobre na zona oeste carioca - para uma visita-surpresa à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local. Desconsiderando o clima tenso na região, onde os confrontos entre policiais e criminosos voltaram a causar a interrupção do tráfego na Linha Amarela, o pré-candidato a presidente confraternizou e posou para fotos com os PMs. Os policiais militares são, tradicionalmente, parte expressiva do eleitorado do parlamentar, capitão da reserva do Exército.

"Não ouvi nenhum tiro", disse o deputado. "Foi tranquilo. Eles me receberam muito bem. Fui dar o meu apoio. Aqui no Brasil, a polícia não tem autoridade, é muito diferente da Europa, por exemplo. Aqui, ela é escanteada, acusada, trabalha em péssimas condições."

De acordo com a sua equipe, Bolsonaro voltava de um compromisso em Bento Ribeiro, na zona norte, e "parou para ver o que estava acontecendo" na Cidade de Deus, por volta das 11h. Poucas horas antes, um tiroteio na Linha Amarela, próximo à Cidade de Deus, havia fechado a via.

Cena

Ao chegar à UPP, Bolsonaro foi saudado por policiais militares ao estilo militar, com continências. Alguns agentes o chamaram de "chefe". Em fotos que circularam nas redes sociais, o presidenciável aparece ao lado de PMs que portavam fuzis, dentro da base. O parlamentar também circulou pela parte da favela que fica perto da base da PM. Ali, tirou fotos ao lado de carros blindados da corporação, conhecidos como caveirões. Também conversou com alguns moradores. A visita durou cerca de 20 minutos.

Segundo a equipe do presidenciável, a ideia de ir à Cidade de Deus foi de um dos filhos do deputado, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), que o acompanhou na visita. Carlos tem se empenhado na possível candidatura do pai, e seu gabinete na Câmara dos Vereadores tem funcionado como uma espécie de "QG" da futura campanha.

Bolsonaro cultiva eleitores entre militares e policiais. O deputado costuma ir a enterros de PMs mortos por criminosos no Estado, quando está no Rio. Também comparece a formaturas de turmas da corporação, além de trocas de comando e solenidades nas Forças Armadas.

Oficiais

A reportagem procurou o comando da Polícia Militar para saber sua opinião sobre a ação do parlamentar durante a operação da corporação na Cidade de Deus. A PM respondeu que o assunto deveria ser tratado com a assessoria de imprensa da Unidade de Polícia Pacificadora, que a reportagem consultou. Até a publicação desta matéria, não havia resposta da assessoria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ranking

Cenário de confrontos entre traficantes e policiais militares nos dois últimos dias, com três mortos e interrupções do tráfego na Linha Amarela, além de motoristas abandonando veículos sob os disparos, a Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, foi a região da capital que mais registrou tiroteios em janeiro. Foram 41 confrontos armados, segundo o aplicativo Onde Tem Tiroteio (OTT-RJ), superando a Rocinha, na zona sul, onde ocorreram 32 enfrentamentos no período.

A Favela do Jacarezinho, onde um delegado foi assassinado por criminosos há duas semanas, ficou em terceiro, com 23 trocas de tiros. "Os criminosos voltaram com tudo", avalia Paulo Storani, mestre em Antropologia e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o grupo de elite da Polícia Militar do Rio. "O projeto (das Unidades de Polícia Pacificadora) deveria oferecer outros benefícios sociais, mas acabou se restringindo à polícia e perdeu força."

Conforme Storani, a região é problemática há muito tempo, porque existe ali uma disputa entre traficantes e milicianos. "Muitas vezes os confrontos começam entre esses dois grupos, e a polícia chega para intervir. Os moradores ficam no meio dessa confusão", conta.

Desde fevereiro de 2009, a Cidade de Deus conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). A base só reduziu a criminalidade na região durante os primeiros anos. "Agora, a Cidade de Deus está em destaque, mas a situação é semelhante em várias outras comunidades do Rio, como Rocinha, Alemão e Jacarezinho. A PM está sobrecarregada, os criminosos perderam o medo das UPPs e não há uma política de segurança capaz de combater o tráfico e as facções", afirma Storani.

Nesta quinta-feira, dia 1º, os confrontos entre traficantes e policiais se repetiram na Cidade de Deus, desta vez sem mortes até as 19h. Por volta das 20h, uma jovem de 19 anos foi atingida nas costas por uma bala perdida. Até às 23h30 estava sendo atendida em um hospital municipal.

Os tiroteios recomeçaram de manhã, causando pânico entre moradores e quem passava pela região. A Linha Amarela permaneceu interditada por 50 minutos, a partir das 8h.

Por volta das 7h30, um grupo de pessoas protestava em uma via perto da Linha Amarela e ameaçava incendiar um ônibus. A PM foi chamada e uma viatura que manobrava na própria Linha Amarela foi atacada a tiros por criminosos que fugiram. Ninguém se feriu, mas a PM reagiu, e os confrontos na região recomeçaram.

Operação

Em São João de Meriti e Belford Roxo, na Baixada Fluminense, as Polícias Civil, Federal e Rodoviária Federal realizaram nesta quinta uma operação conjunta contra o tráfico de drogas e o roubo de cargas. O objetivo era cumprir 65 mandados de prisão e 85 de busca e apreensão. Três suspeitos foram mortos e 12 pessoas, presas.

Outros quatro mandados de prisão foram cumpridos, mas as pessoas já estavam detidas por outros crimes. Segundo a polícia, foram apreendidas quatro pistolas, um revólver calibre 38 e duas motocicletas roubadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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