LUTO

Morre Fernando Menezes, referência do jornalismo esportivo e pernambucano

Fernando Menezes, 86 anos, faleceu na manhã desta quinta-feira (9) por volta das 5h30 da manhã vítima de uma parada respiratória. Ele já sofria há 10 anos com Alzheimer

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Marcos Leandro

Publicado em 09/12/2021 às 9:12 | Atualizado em 09/12/2021 às 21:02
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Uma das maiores referências do jornalismo esportivo e pernambucano, Fernando Menezes, 86 anos, faleceu na manhã desta quinta-feira (9) por volta das 5h30 da manhã vítima de uma parada cardiorrespiratória. Ele já sofria há 10 anos com Alzheimer. O Sport, time do coração do cronista, solicitou à Federação Pernambucana de Futebol um minuto de silêncio antes de a bola rolar nesta quinta para o jogo Sport x Athletico-PR pelo Campeonato Brasileiro. 

Mestre de várias gerações do Jornalismo, Fernando Menezes era um grande contador de histórias

Fernando Menezes era uma das figuras mais queridas na redação do Jornal do Commercio, onde trabalhou por grande parte de sua vida como repórter especial e colunista, tanto que era carinhosamente chamado de "Vovô Fernando". Também foi comentarista da Rede Globo nos anos de 1980. 

Fernando Menezes lecionou na UFPE durante 17 anos e também recebeu uma homenagem da instituição de ensino. A mensagem ficou por conta da coordenadora da graduação em Jornalismo da universidade, Adriana Santana, que falou da atuação do jornalista no Departamento de Comunicação Social da UFPE. 

Ele deixa três filhos, Henrique, Andreia e Carlos Frederico Menezes, além de seis netos. O velório foi realizado às 15h e a cremação às 19h, no cemitério Morada da Paz, em Paulista.

Redação do JC para e faz homenagem aos 75 anos de vovô Fernando Menezes

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“Na redação do JC, Fernando foi um ícone, uma referência. Respeitado e amado por todos nós. Era nosso Vovô Fernando. Assim o chamávamos, carinhosamente. Sempre foi muito além de um cronista esportivo. Era um intelectual. Uma cabeça sempre efervescente. Seu bom humor, sua análise sempre cortante dos fatos, seu afeto com os jovens repórteres (como eu fui um dia) fizeram dele o nosso eterno Vovô Fernando", enfatizou Laurindo Ferreira, diretor de redação do Jornal do Commercio. 

 Alexandre Belem/a cervo JC Imagem
Fernando Menezes era colunista do Jornal do Commercio. - Alexandre Belem/a cervo JC Imagem

> O coração de Fernando Menezes

Fernando Menezes, além de compor a equipe do JC, foi assessor de comunicação no governo de Moura Cavalcanti (1975-1979). 

"O jornalismo pernambucano perdeu um grande nome nesta quinta-feira. Fernando Menezes ex-secretário estadual de Imprensa e professor universitário atravessou gerações com seu estilo marcante nas colunas e matérias de jornal e em participações nos programas de TV e rádio", destacou o governador de Pernambuco Paulo Câmara.

A Câmara Municipal do Recife também soltou nota de pesar. "A Câmara Municipal do Recife expressa sua grande tristeza pelo falecimento do jornalista Fernando Menezes. Ele teve uma atuação marcante em diversos veículos de comunicação, foi um dos mais importantes cronistas desportivos da história do futebol pernambucano, além de ter sido secretário de Imprensa do Estado. Uma figura terna e extremamente querida por onde passou. Deixa um grande legado e muitas saudades para quem o conheceu. Aos muitos amigos e à família, nossos sentimentos pela perda".

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AMPLIAÇÃO DA ILHA DO RETIRO

O jornalista, com grande ligação com o Sport Club do Recife, participou da ampliação da Ilha do Retiro, estádio do Leão que foi um dos palcos para a Copa de Mundo de 1950, a primeira no Brasil. Ele mesmo que contou essa história em reportagem especial feita antes da Copa de 2014, também no Brasil. "A ampliação da Ilha do Retiro tornou-se algo do interesse de Pernambuco, não apenas de rubro-negros. Eu mesmo ajudei fisicamente. Comprando e levando tijolos para as arquibancadas, por exemplo", lembrou Fernando Menezes. 

“Conheci Fernando Menezes como professor, no curso de Jornalismo da UFPE. Ensinava história da comunicação. E contava histórias como ninguém. Depois convivi com ele na redação do JC, onde exerceu várias posições. De cronista esportivo a coordenador do grupo de produção do jornal. Tinha um humor sofisticado. Vovô Fernando é inesquecível", destacou Maria Luiza Borges, diretora de conteúdos digitais do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC).

VELÓRIO

Amigos, familiares e colegas de profissão marcaram presença no velório de Fernando Menezes, realizado no cemitério Morada da Paz, em Paulista. Jornalista, escritor e amigo próximo de Fernando, Angelo Castelo Branco falou da relação que ele criou com o comunicador e o quão "ensinador" da vida ele foi enquanto era vivo.

"Ele foi uma pessoa muito especial. Olhava o mundo por um olhar muito bem humorado, muito feliz, muito alegre. Ele foi um grande amigo, um grande mestre de todos nós. A vida de Fernando Menezes foi uma vida onde ele espalhou coisas boas, amizades, felicidades. Um homem profundamente sensível, um profissional de jornal como poucos no país. Um grande contador de histórias, um grande irmão e uma pessoa que, a única coisa que fez foi ensinar", disse.

"Ensinou como ver a vida de uma forma positiva, leve, sem mágoas, sem rancores. Ele deixa uma lição muito grande para todos nós e faz uma falta enorme numa redação de jornal. Ele era como se fosse a alma de uma redação, o espírito de uma redação. Fernando Menezes foi e é uma unanimidade. Não existe ninguém, de diferenças políticas, de diferenças ideológicas, que não queira o bem a Fernando Menezes", completou Angelo.

Publicitário e filho mais velho de Fernando, Henrique Menezes falou do privilégio de ter tido um pai como o dele, além de ter falado da inspiração que o jornalista foi para que Henrique embarcasse na área da comunicação.

"A minha relação com meu pai era uma relação de amizade, que extrapolava a relação de pai e filho. Foi minha inspiração. Hoje estou na área da comunicação por influência dele. E, obviamente, o legado que ele deixa é o de uma pessoa extremamente correta, amigo dos amigos, ético, que pôde nos proporcionar uma vida extremamente feliz, tanto para mim quanto para a minha mãe e meus irmãos. E eu me sinto uma pessoa extremamente privilegiada, porque pude conviver com ele por todo esse tempo", contou.

Seguindo os passos do avô, a jornalista Eduarda Menezes, neta de Fernando, falou da reputação que o comunicador carregava nas redações e salas de aula onde ela passava.

"Quando eu comecei a fazer o curso de jornalismo, nas salas de aula ou nas redações, eu sempre ouvia falar muito dele. A reputação dele antecipava isso, de ver o lado profissional dele, porque eu o conhecia o lado pessoal como meu avô. E quando eu entrei no mercado foi quando eu comecei a ver o quanto ele foi deixando esse legado na vida das pessoas, ele marcou muita gente. Para mim, ele sempre foi uma inspiração e, principalmente, quando eu fui seguindo esses passos, foi ficando cada vez mais forte", ressaltou Eduarda.

Alexandre Severo/acervo JC Imagem
Na foto destaque para reproduçao de Ricardo Carvalho, jornalista, dono da produtora RTV com Ricardo Noblat(E) e Fernando Menezes(C). - Alexandre Severo/acervo JC Imagem

"Eu acho que ele sempre foi aquele avô carinhoso, atencioso, que queria dar o melhor para os netos, mostrar os valores que ele carregava. Eu acho que ele olhava para a gente com o pensamento de que iríamos seguir com os valores dele, com as crenças dele. Ele buscava nos envolver nas coisas dele. Quando eu era criança e ele ia escrever um livro, as vezes ele gostava de fazer manuscrito, mas a editora precisava que ele enviasse digitado. E aí como ele me via muito no computador, me dava os manuscritos e eu digitava para ele. Teve uma vez até, em um livro, que ele pediu para botar o meu nome nos créditos", completou.

HOMENAGEM

O médico e escritor Roberto Vieira prestou uma homenagem a Fernando Menezes. Em 2009, Roberto, ao lado de Lucídio José de Oliveira e Carlos Celso Cordeiro, lançaram o livro sobre os 100 anos do Clássico dos Clássicos entre Sport e Náutico. Fernando Menezes fez o prefácio da parte rubro-negra da obra, que também teve a participação de Juca Kfouri, Celso Unzelte, Túlio Velho Barreto, Lenivaldo Aragão e o ex-goleiro Valdir Appel.  Veja abaixo a homenagem de Roberto Vieira a Fernando Menezes. 

O ADEUS DE FERNANDO MENEZES

ROBERTO VIEIRA

ERA um clássico em si.

E por ser um clássico aconteceu o convite.

Escrever na abertura do Clássico dos Clássicos.

Era 2009.

O livro trouxe as palavras do Mestre Fernando Menezes.

Junto com as de Lenivaldo Moraes Aragão .

Juca Kfouri .

Celso Unzelte III .

Para orgulho da literatura e futebol pernambucanos.

Lucídio José Oliveira e Carlos Celso Cordeiro o conheciam.

Eu apenas de ler e reler.

Rubro negro.

Culto.

Elegante.

Vai nos fazer a falta de um passado de Haroldos Praças.

Lula Carlos.

A falta que Antonio Maria evocaria.

Em mais um frevo Evocação.

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