Ayrton Senna

Médico que socorreu Ayrton Senna dá detalhes sobre o acidente e desmente causa da morte

Nesta quarta-feira, 1º de maio, fazem 30 anos da morte de Ayrton Senna

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Suzyanne Freitas

Publicado em 01/05/2024 às 7:02
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Nesta quarta-feira, 1º de maio, fazem 30 anos da morte de Ayrton Senna. Num instante fugaz, que durou um segundo e três milésimos, o destino alterou irrevogavelmente o curso do automobilismo global, ceifando a vida de um ícone incontestável da Fórmula 1, o tricampeão Ayrton Senna.

O fatídico Grande Prêmio de 1º de maio de 1994, em Ímola, Itália, não foi apenas mais uma corrida. Essa memória é vividamente recordada pelo médico italiano Alessandro Misley, que na época integrava a equipe de resgate do Autódromo Enzo e Dino Ferrari.

"[No domingo], quando nos chamaram para o acidente [de Senna], não nos comunicaram quem era o piloto que estava preso e ferido. Chegamos um minuto depois da ambulância, porque estávamos um pouco mais longe. E, visto que Senna era muito conhecido, ficamos atônitos."

Alessandro, anestesista da cidade de Modena, descreve a angústia instantânea ao perceber a gravidade das lesões de Senna, antevendo, ainda no asfalto, o desfecho sombrio que se desenrolava diante de seus olhos.

"Infelizmente, a situação logo se transformou em dramática, porque Ayrton teve lesões na cabeça, na cervical e na base do crânio. Instantaneamente, ele ficou inconsciente. Os sinais vitais estavam alterados. Todas as condições não indicavam nada de bom. Tinha saído sangue da boca e do nariz, e, infelizmente, havia matéria cerebral [espalhada]. Ainda assim, fizemos várias tentativas de aspiração, ventilação e oxigenação."

Logo após o acidente, as câmeras capturaram um leve movimento de cabeça de Senna, um vislumbre de esperança para os espectadores que torciam pelo piloto em suas casas.

Entretanto, o Dr. Misley esclarece que esse gesto foi involuntário e que, desde o momento do impacto, Senna não recobrou a consciência.

Juntamente com o médico da Fórmula 1, Sid Watkins, o italiano acompanhou Senna de helicóptero até o Hospital Maggiore, em Bolonha.

Motivo da morte

Embora seja amplamente difundida a teoria de que o acidente fatal de Ayrton Senna foi causado pelo impacto da barra de suspensão, que se soltou após a colisão e atingiu primeiro a viseira de seu capacete e depois sua testa, o Dr. Misley faz uma declaração surpreendente à imprensa brasileira, afirmando categoricamente que esse não foi o motivo da morte do tricampeão.

"Absolutamente não. É falso. De fato, um pedaço da suspensão entrou pelo no capacete e provocou uma lesão a nível frontal de poucos centímetros, o que, claro, não é inócuo. Mas, com certeza, não foi esse o problema a provocar a morte de Senna. A morte de Senna foi provocada pela fratura da base do crânio, devido ao forte impacto causado pela desaceleração. A lesão da barra de suspensão é secundária e não letal. [Se fosse só ela], Senna estaria vivo."

Trauma de base craniana

O trauma de base craniana é uma lesão séria que ocorre quando a parte inferior do crânio, onde o cérebro repousa, se fratura devido a um impacto intenso ou um movimento repentino.

Após a rápida desaceleração de um corpo em alta velocidade, o cérebro, que flutua dentro do crânio, continua em movimento mesmo após o término do impacto e a imobilização do corpo.

Esse movimento pode resultar em um "efeito chicote", no qual o cérebro se move dentro do crânio e pode colidir com suas paredes internas, incluindo a base craniana.

No momento da colisão, o carro de Senna estava viajando a mais de 300 km/h, e a desaceleração abrupta devido ao impacto com o muro de proteção durou pouco mais de um segundo.

É importante notar que, naquela época, a cabeça do piloto ficava totalmente exposta, protegida apenas pelo capacete.

Segundo o Dr. Misley, a falta de dispositivos de segurança, como o sistema HANS (Head and Neck Support), que protege a cabeça e o pescoço dos pilotos, foi crucial para o desfecho do acidente.

Este sistema foi desenvolvido na década de 1990 e é de uso obrigatório atualmente, mas não estava disponível na época do acidente de Senna.

"Não digo que [com o HANS] não teria acontecido nada [com Senna], mas certamente o impacto e os danos seriam menores."

Fim de semana 'sombrio'

Na trágica véspera da morte de Ayrton Senna, um acidente fatal durante o treino de classificação levou a vida do piloto austríaco da Simtek, Roland Ratzenberger.

No dia anterior, o brasileiro Rubens Barrichello, da Jordan, também escapou por pouco de um grave acidente na pista.

"Foi um fim de semana extraordinariamente sombrio, culminando na perda de Senna. Eu estava envolvido com uma das equipes médicas posicionadas em pontos opostos da pista. Tínhamos enfermeiros, um motorista e um ortopedista. Eu atendi Barrichello após seu acidente; Ratzenberger, infelizmente, não. Embora ainda trabalhe em circuitos de corrida, agora estou em outro autódromo, no circuito de Mugello, perto de Florença".

Ao longo das últimas décadas, houve avanços significativos na segurança do automobilismo, mas é crucial reconhecer que, mesmo com todas as medidas de segurança adotadas, os pilotos continuam expostos ao risco inerente dos esportes a motor.

Ao recordar aquele dia fatídico, o Dr. Misley compartilha sua memória de voltar ao autódromo com o macacão médico manchado de sangue, encontrando uma atmosfera tensa após o encerramento da corrida. É um dia que os fãs de Fórmula 1 prefeririam esquecer.

"Ayrton era conhecido e amado por quase todos. Além disso, teve a morte do Ratzenberger, o acidente de Barrichello, mecânicos da Ferrari que tiveram fratura de perna em um incidente no box, um pneu que voou em direção ao público. Foi um dia realmente dramático."

 

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