O novo coronavírus matou mais de 25.000 pessoas no Brasil, que assiste ao avanço da pandemia em um clima de tensões exacerbadas entre os governadores favoráveis às medidas de confinamento e o presidente Jair Bolsonaro, que as vê como uma ameaça para a economia.
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Os dados da última quarta-feira (27) do Ministério da Saúde registram nas últimas 24 horas 1.086 novos óbitos, totalizando 25.598 no sexto país com mais mortes no mundo e o primeiro na América Latina, que se tornou o epicentro da pandemia.
O balanço informa, ainda, 20.599 novos contágios, que totalizam agora 411.821 casos - números superados apenas pelos dos Estados Unidos.
"Na América do Sul, estamos particularmente preocupados porque o número de novos casos registrados na última semana no Brasil foi o mais alto em um período de sete dias desde que a pandemia começou", declarou a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne.
Os números no Brasil parecem menos impressionantes quando colocados lado a lado dos 210 milhões de habitantes do país: o coeficiente é de 122 mortes por milhão de habitantes, comparado a quase 300 nos Estados Unidos e 580 na Espanha. No entanto, em muitos estados brasileiros o sistema de saúde está à beira do colapso.
Além disso, segundo estimativas, o número de casos pode ser até quinze vezes maior, já não são realizados testes em massa no país.
Há duas semanas, um modelo do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME), da Universidade de Washington, antecipou que o Brasil teria 88.305 mortes por COVID-19 até 4 de agosto, em um intervalo estimado entre 30.302 e 193.786.
Embora São Paulo, o estado mais rico e populoso do país (46 milhões de habitantes) concentre um quarto do número total de mortes (6.712), sua taxa de mortalidade (146 por milhão de habitantes) é muito menor que a do Rio de Janeiro, segundo colocado na lista, com 4.605 mortes e 267/mh.
Mas as situações mais preocupantes estão nas regiões mais pobres da região norte - onde vivem inúmeras comunidades indígenas - e no nordeste.
No estado do Amazonas, que acumula 1.891 mortes, a mortalidade é de 456 por milhão de habitantes. Trata-se de uma situação que preocupa países fronteiriços, como Peru e Colômbia.
- Confinamento, missão impossível -
A maioria dos estados aplicou medidas parciais de quarentena, ainda assim constantemente criticadas por Bolsonaro, que as enxerga como uma limitação à liberdade de ir e vir e uma ameaça à economia nacional.
"Que os caras querem é a nossa hemorroida! Nossa liberdade! Isso é uma verdade. Que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta do governador de São Paulo, o estrume do Rio de Janeiro", disse, exaltado, Bolsonaro, durante a reunião ministerial de 22 de abril, cujo vídeo foi divulgado na sexta-feira passada por ordem judicial.
"Por isso que eu quero (...) que o povo se arme, que é a garantia que não vai ter um filho da puta para impor uma ditadura aqui!", acrescentou o presidente, partidário da flexibilização do porte de armas.
Segundo as projeções, o Brasil viverá este ano a pior contração anual de sua economia em pelo menos 120 anos. As estimativas vão de um tombo no PIB de 4,7% (a oficial) a cerca de 10%.
Nesta quarta, o governador de São Paulo, João Doria, prorrogou as medidas de isolamento social até 15 de junho, autorizando a reabertura do comércio em determinadas regiões, dependendo da incidência da pandemia.
"Esta é a pior guerra que o Brasil viveu em sua História. Nunca perdemos 25.000 pessoas em um período de três meses", afirma Miguel Nicolelis, coordenador do Comitê Científico formado pelos estados do nordeste para responder à pandemia.
"Ao contrário da Europa ou dos Estados Unidos, nunca tivemos uma cultura de tentar entender o que uma guerra significa em termos de reação da sociedade quando se sofre uma invasão (...) Nunca fomos invadidos e o vírus é, para mim, como uma invasão. Chegou como um Exército invasor e está invadido a totalidade do país", acrescentou.
28MAI2020
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