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Morto na Bahia, miliciano Adriano da Nóbrega não foi executado, conclui SSP

Operação para prender o ex-policial em Esplanada terminou com a morte dele

Do Correio para a Rede Nordeste
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Publicado em 26/08/2020 às 17:53 | Atualizado em 26/08/2020 às 17:55
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Adriano da Nóbrega foi morto em fevereiro, na cidade baiana de Esplanada. - FOTO: Divulgação

Não houve espancamento nem execução na morte do miliciano Adriano da Nóbrega, segundo concluiu a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Nesta quarta-feira (26), a SSP passou detalhes da investigação sobre o caso.

De acordo com a conclusão, Adriano efetuou sete disparos contra os três policiais que invadiram o imóvel. Dois destes tiros acertaram o escudo de proteção usado pelo trio de PMs e outros cinco atingiram portas e janelas do imóvel. Ele foi morto em fevereiro, na cidade baiana de Esplanada.

No revide, que não durou mais que cinco segundos, os policiais dispararam dois tiros contra Adriano. Um dos disparos foi dado por um tenente da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) que estava com um fuzil. Outro tiro partiu da carabina de um soldado do Batalhão de Operações Especiais (Bope).

"O procedimento foi finalizado hoje. Com a chegada da reprodução (reconstituição do crime), nós conseguimos formatar os detalhes finais e ele (inquérito) está indo indo amanhã, pela manhã, para a o Ministério Público de Esplanada, para que siga seu encaminhamento formal", declarou o delegado Marcelo Sansão, diretor do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) e responsável pelas investigações do caso.

O delegado Sansão disse que o proprietário do sítio não tinha realmente o conhecimento de que Adriano estava escondido no local. “Gilson não estava na região. Na época ele pensava em fazer uma comercialização do imóvel. Leandro, o fazendeiro, que já tinha uma amizade com Adriano, tinha a chave porque estava mostrando essa propriedade para possíveis interessados e houve interesse de Adriano na aquisição dessa propriedade”, explica.

O delegado disse que até agora tem não informações sobre os celulares encontrados com Adriano que forma enviados ao Ministério Público do Rio de Janeiro. “Em consequência da investigação do Rio, que estão mais evoluídas sobres as movimentações criminais, ações de inteligências, foram encaminhados para lá, pois havendo informações importantes para o processo investigativo na Bahia, iriam ser compartilhados. Até o momento não houve esse repasse de informações”, contou.

Reconstituição e perícia

O perito criminal José Carlos Montenegro, que assina o laudo de reconstituição, disse que as versões apresentadas pelos três policiais são convergentes com a simulação dos fatos. Ele disse que os três policiais – um tenente e dois soldados – ao chegarem ao sítio, perceberam que um homem, neste caso Adriano, havia corrido para dento do imóvel.

Os policias desembarcam da viatura e mantém a mesma formação tática até o final da ação: um soldado vai à frente com o uso de um escudo balístico para dar proteção, atrás o tenente com um fuzil e o segundo soldado na retaguarda com uma carabina. Eles se posicionaram na entrada da casa e pediram para que Adriano abrisse a porta. Testemunhas confirmaram a versão dos policiais.

Diante do silêncio, os policiais usaram um aríete para arrombar a porta e dão de frente com Adriano, armado com uma pistola 9 mm, no corredor do imóvel “No momento, o escudo recebe os primeiros tiros do suspeito que está reagindo a uma abordagem policial. Houve revide e Adriano acabou atingido duas vezes. Um dos disparos foi dado por um tenente que portava um fuzil. Outro tiro partiu da carabina de um soldado do Bope", declarou Montenegro.

Segundo o perito médico-legal Mário Câmara, diretor do Instituto Médico Legal (IML), a análise do IMl está em convergência com o laudo de local de ação violenta e com laudo da reprodução simulada. O corpo de Adriano sofreu duas únicas perfurações. “O primeiro tiro quebra clavícula e sai arrombando a costela. O segundo tiro atinge Adriano quando ele gira. Entra na axila, atinge o pulmão, coração, sai e aloja cabeça. Foi esse o tiro que o matou. Tanto que Adriano cai imóvel e os disparam cessam imediatamente. Os policiais foram muito profissionais, muito bem treinados”, afirmou Câmara.

O suposto terceiro tiro que foi apontado em vídeos nas redes sociais, era a perfuração de saída do segundo tiro que aloja cabeça, próximo à orelha, afirmam os peritos. Câmara diz que não houve tiro à queima-roupa, ou seja, feito à curta distância, comumente em casos de execução. As perfurações encontradas no corpo de Adriano não apresentam tatuagens provenientes da queimadura da pólvora das armas, acrescenta.

Câmara descartou a hipótese de tortura e agressão a Adriano antes da morte. "O laudo da Bahia, feito pelo doutor Alexandre Evangelista, foi exatamente igual ao laudo emitido pelo Rio de Janeiro. As pessoas disseram que ele [Adriano] apanhou, por causa da fratura de costelas. Elas (as fraturas) ocorreram também nas costelas posteriores, justamente na saída do tiro de fuzil. Furo de fuzil arrebenta osso. Não houve espancamento do indivíduo. Foram dois tiros que atingiram Adriano, em distâncias superiores a um metro", explicou.

Relembre

O ex-policial militar do Rio Adriano Magalhães da Nóbrega era considerado peça-chave para o esclarecimento de dois casos: a expansão das milícias no Rio de Janeiro, muitas vezes com a ajuda clandestina de autoridades públicas, e o esquema envolvendo o gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, hoje senador da República. Depois de um ano foragido, Adriano foi morto em fevereiro deste ano por policiais da Bahia, em fazenda em Esplanada, a 170km de Salvador.

A Polícia Militar da Bahia descobriu o paradeiro de Adriano com a ajuda da equipe de inteligência da polícia fluminense. Segundo a polícia, ele reagiu a uma ordem de prisão e morreu após uma troca de tiros. De acordo com a Secretaria de Segurança da Bahia, Adriano, depois de reagir, foi abatido com dois tiros — um de carabina e outro de fuzil. Um dos projéteis atingiu a região do pescoço. O outro perfurou o tórax.

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