Com alta demanda, entenda a importância dos cilindros de oxigênio na sobrevivência de pacientes com covid-19
Alguns dias antes do sistema de saúde do Amazonas colapsar, o governo federal optou por elevar o imposto de importação sobre o preço dos cilindros utilizados no armazenamento de oxigênio
Com uma rede de atendimento em colapso por conta da alta exponencial no número de internações de infectados pela covid-19, o Amazonas vem estampando páginas de jornais, revistas e noticiários, vivendo um drama sem precedentes. A falta de oxigênio nos hospitais públicos e privados do estado, que teve como consequência a morte por asfixia de uma ala inteira de pacientes na última quinta (14), tem provocado a transferência de doentes para realizarem tratamento em outros lugares do país e uma onda de doações de cilindros. A situação, no entanto, permanece catastrófica e ainda sem previsão de alívio.
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De acordo com o governo do Amazonas, são necessários 76.500 m³ de oxigênio medicinal diariamente para suprir a demanda das unidades de saúde, tanto públicas quanto privadas. A realidade, porém, é que mesmo acionadas pela Justiça para manter o fornecimento de oxigênio, as fornecedoras locais White Martins, Carbox e Nitron, juntas, têm conseguido entregar somente 28.200 m³/dia, somando um déficit de 48.300 m³ diários.
Quando o oxigênio acaba para um paciente em uma unidade hospitalar, é provável que o restante da unidade também esteja enfrentando a escassez do insumo. Em entrevista à reportagem do JC, o médico intensivista Marçal Paiva Jr explicou sobre como ocorre a distribuição do oxigênio nos hospitais. "Quando o paciente está num hospital, geralmente existem grandes reservatórios de oxigênio que ficam na parte externa e são distribuídos para os leitos dos pacientes através de uma tubulação e aí vai chegando para cada leito. Nestas centrais, o oxigênio é distribuído e cada paciente usa o que precisar, e quando todo o oxigênio acabar, aquele cilindro grande deve ser reposto", apontou.
A duração deste cilindro, no entanto, é medida de acordo com a necessidade dos pacientes. "A quantidade de oxigênio utilizada vai ser dosada de acordo com a necessidade do paciente. A duração de um cilindro vai depender diretamente de quanto oxigênio o paciente esteja necessitando e vale ressaltar que o grande problema na covid-19 é que os pacientes mais graves precisam de uma quantidade maior de oxigênio, fazendo com que o insumo acabe com rapidez", completou.
Como forma de minimizar este impacto, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que exige a revenda de oxigênio com pureza de 99%, concedeu autorização para a White Martins produzir a substância com grau de pureza 95%. Válida por 180 dias, a medida permitirá o aumento da capacidade de fabricação da empresa em aproximadamente 2.000 metros cúbicos diários.
Segundo a White Martins, a quantidade necessária de oxigênio hoje supera a demanda registrada durante o pico da primeira onda da doença, entre abril e maio de 2020, quando o consumo estadual do produto não superou os 30 mil m³/dia.
Se o cenário é de escassez dos insumos em hospitais, a precariedade aumenta quando os olhos se voltam aos doentes que têm realizado o tratamento da covid-19 em casa por conta da indisponibilidade de leitos. Em Manaus, por exemplo, empresas de revenda de oxigênio não conseguem atender a demanda, e pessoas com familiares acamados em casa enfrentam imensa dificuldade em abastecer os cilindros. Além disso, os preços cobrados são exorbitantes, entre R$ 400 (para cilindros menores) e R$ 600 (cilindro padrão de 50 kg). Antes da crise, o preço do abastecimento do cilindro grande era entre R$ 300 e R$ 350.
"Como o mercado de bens e serviços se comporta em função da demanda; quanto maior a demanda, há uma tendência do comerciante ou produtor, aumentar os preços. Por sua vez, quanto menor a demanda, há uma tendência de redução decorrente dos níveis de preço, independente do produto e/ou serviço. Contudo, considerando que estamos falando de itens de saúde publica e para sobrevivência da população doente em situação emergencial, os comerciantes sensivelmente deveriam manter os níveis de preço ou mesmo baixá-los em contrapartida às questões econômicas em em prol das questões humanas", afirmou o economista Paulo Alencar.
Elevação de impostos sobre preço do cilindro
Alguns dias antes do sistema de saúde do Amazonas colapsar, o governo federal optou por elevar o imposto de importação sobre o preço dos cilindros utilizados no armazenamento de oxigênio. O insumo fazia parte dos 41 itens com imposto zerado em abril de 2020, por ser considerado essencial no combate à pandemia da covid-19 no Brasil.
A medida, que inicialmente duraria até setembro do ano passado, foi prorrogada para outubro, depois para dezembro, e por último até junho de 2021. O governo federal, no entanto, retirou o cilindro da lista de produtos com impostos zerados em 24 de dezembro de 2020.