Nordeste vive pico da segunda onda da covid-19 e estados apostam em quarentena
Bahia, Ceará e Pernambuco têm o maior número de casos de coronavírus da região. Com as unidades de saúde em colapso, governadores decidiram decretar quarentena
O Nordeste, região com o segundo maior número de casos de covid-19 no Brasil, vive o pico da segunda onda da pandemia. Já são 2,7 milhões de casos e mais de 62 mil mortes. É como se toda a população de Sergipe e mais os municípios de Olinda e Ipojuca tivesse adoecido. As UTIs estão lotadas e a escalada da doença não para. Com receio de que as unidades de saúde não consigam suportar a pressão, vários estados estão repetindo a estratégia de maio de 2020, quando optaram pelo lockdown para frear o contágio. Bahia, Ceará e Pernambuco, que concentram o maior número de casos da região, decidiram adotar medidas mais severas de isolamento, com o fechamento das atividades não-essenciais por um período determinado.
No Ceará, pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) projetaram que esta nova onda da doença, iniciada em outubro, teria seu pico entre os dias 12 e 22 de março e seria mais violenta. E acertaram. Os governadores e as autoridades sanitárias dos Estados relatam que a velocidade desta segunda onda tem sido mais forte e está exigindo um número maior de leitos de UTI e as internações estão durando mais tempo.
Por conta deste cenário, o governador do Ceará Camilo Santana decretou lockdown no dia 11 de março, que entrou em vigor no sábado passado (13) e seguirá até o dia 21. Só vão funcionar presencialmente os serviços essenciais. Em pronunciamento, o gestor disse que não era fácil decretar o isolamento mais rígido, mas alertou sobre a gravidade do momento. "A situação é grave. Das mortes por covid-19 hoje no mundo, 10% estão no Brasil. Por mais que tenhamos aumentando o número de leitos para a covid, o sistema de saúde está colapsando e existem muitas pessoas da fila esperando por um leito", destacou Santana.
Em pronunciamento ao lado do governador, o secretário de Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto), explicou a importância do lockdown neste momento. "Sabemos que o isolamento social é muito duro, mas ele tem três finalidades importantíssimas. A primeira é a diminuir a circulação do vírus, que está no seu ponto mais alto, similar a abril e maio do ano passado. A segunda é evitar as mutações, que podem comprometer a eficiência da vacina e acometer um número maior de pessoas. E a terceira é não esgotar o sistema de saúde", pontua.
Em Pernambuco a situação também é preocupante. Nesta segunda-feira (15), o governador Paulo Câmara fez pronunciamento anunciando lockdown a partir da próxima quinta (18) com duração até 28 de março. O Estado já havia decretado medidas mais restritivas, mas foi necessário adotar um isolamento mais rígido, com abertura apenas das atividades essenciais.
A doença em Pernambuco tem algumas particularidades. Além de ter a terceira maior incidência de casos por 100 mil habitantes do Nordeste (553,43), também tem a maior letalidade da região (3,6%) e a segunda maior do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro (5,65%). Isso quer dizer que as pessoas acometidas pela covid-19 morrem mais no Rio e aqui. A taxa média de letalidade no Nordeste é de 2,3% e de 2,43% no Brasil, muito abaixo da pernambucana.
Em entrevista coletiva online nesta segunda, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, disse que o momento é de fazer esforços para promover uma inflexão da curva da covid-19 e, para isso, é preciso conseguir dados melhores de isolamento social. "Não temos direito de deixar essa situação se agravar, porque isso vai custar muito. Temos que nos aproximar de 60% de isolamento", alertou.
Por enquanto, os estados nordestinos ainda estão longe desse percentual. O Índice de Isolamento Social desenvolvido pela InLoco, com data mais recente do dia 14/03 (domingo), aponta uma taxa de 53,5% para o Ceará, de 50,9% para Pernambuco e de 49,7% para a Bahia. O índice ideal considerado pelas autoridades sanitárias é de 70%.
Em Pernambuco, uma das maiores preocupações tem sido a ocupação dos leitos de UTIs. Mesmo com o aumento da oferta de vagas em relação ao ano passado, a taxa é assombrosa. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, no domingo (14) a ocupação chegou a 97% e nesta segunda (15) a 96%. O secretário de Planejamento, Alexandre Rebelo, que também participou da coletiva, que a ocupação das UTIs tem batido recordes.
"Nunca tivemos mais de 100 pacientes por dia nas UTIs. Em 2020, o maior número que tivemos de UTIs foram 1.089 e hoje estamos com 1.245. Em 28 de fevereiro eram 1.014 vagas e aumentados 234 só em março", detalhou. A expectativa do governo é criar mais 234 vagas nos próximos 30 dias.
Mesmo com o maior número de casos de covid-19 do Nordeste (744.227), a Bahia tem uma situação melhor na rede pública de saúde. De acordo com a secretaria estadual, dos 1.296 leitos de UTIs, 1.113 estão ocupados, o que equivale a 86% das vagas. Neste domingo (14), o governo publicou decreto que estende por mais uma semana, até o dia 22 de março, as medidas restritivas na capital Salvador e região metropolitana para conter a circulação do novo coronavírus.
Com isso, continua sem autorização a circulação de pessoas, das 20h às 5h, por motivos que não sejam de "saúde ou comprovada urgência". Funcionam somente as atividades relacionadas à saúde e enfrentamento da pandemia - como farmácias e hospitais -, à comercialização de alimentos e à segurança. Restaurantes podem funcionar apenas no modelo de entrega em domicílio.
VACINAÇÃO
Enquanto tentam evitar a circulação do vírus por meio de medidas mais restritivas, os governadores do Nordeste também se apressam para ampliar a cobertura de vacinação. No último sábado (13) foi anunciada a compra pelo Consórcio Nordeste de 37 milhões de doses da vacina russa Sputnik V. As doses não ficarão apenas na região e servirão para atender a todo o País, mas será um reforço importante.
A expectativa é que a vacina comece a ser distribuída em abril, mas precisa ter a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Juntos, os Estados da Bahia, Pernambuco e Ceará vacinaram cerca de 2 milhões de pessoas, sendo 858.770 na Bahia, 626.598 em Pernambuco e 584.643 no Ceará.