Defensor do isolamento social, estudante sem comorbidade morre de covid-19 aos 22 anos
"Ele tinha muito medo de contrair a Covid. Não tanto por ele, mas por minha causa e também pela avó dele, que tem 77 anos", diz Katherine Lopes, mãe do jovem
Defensor da vacinação em massa e do isolamento social nas redes sociais, um estudante de 22 anos foi mais uma vítima de complicações provocadas pela Covid-19. Matheus Lopes de Carvalho, que não possuía nenhuma comorbidade ou doença crônica ou congênita, morreu na Casa de Saúde de Santos, litoral de São Paulo, no último domingo (06). Ele foi acometido por uma infecção generalizada (sepse), após mais de 15 dias em tratamento contra a doença em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O Brasil já soma 474.614 mortes e 16.985.812 casos da doença, conforme o último balanço do consórcio de veículos de imprensa com informações das secretarias de Saúde.
A mãe do jovem, Katherine Lopes de Oliveira, de 42 anos, conta que o rapaz passou o último um ano e meio em casa, saindo apenas para visitas à farmácia ou ao supermercado. "Ele tinha muito medo de contrair a covid. Não tanto por ele, mas por minha causa e também pela avó dele, que tem 77 anos. Eu sou asmática e hipertensa. Então ele, que já não era um menino de ir em baladas ou ficar de bobeira na rua, ficou ainda mais alerta", detalhou a mulher em entrevista ao UOL.
Com o sonho de ser médico desde os 8 anos, Matheus desejava se voluntariar para trabalhar no projeto Médicos Sem Fronteiras, que atua minimizando o impacto de doenças em países que vivem conflitos sociais, econômicos e políticos.
Desde que o coronavírus começou a se espalhar pelo País, Matheus suspendeu a presença nas aulas e passou a estudar apenas em casa. “Na medida em que via que o número de jovens morrendo de Covid crescia, passou a ser um ativista nas redes sociais. Twitter, Facebook, Instagram. Ele usava as redes para passar o seu conhecimento e fazer alertas sobre a importância da vacinação em massa e do isolamento social", destaca a mãe do rapaz.
Katherine acredita que o filho se contaminou no dia em que precisou buscar um par de óculos em uma ótica da cidade onde morava. O rapaz, que sempre andava com duas máscaras e face shield, teria sido convencido pela atendente a retirar as proteções para que pudesse provar os novos óculos.
Cerca de cinco dias depois, em 12 de maio, tiveram início os sintomas. O jovem apresentou febre e muita dor de cabeça. Matheus foi levado ao hospital, onde o estudante recebeu medicação e uma guia para fazer o teste da covid-19. O resultado deu positivo.
"Quando chegamos em casa, ele chorou muito. Ficava pedindo perdão por estar doente e implorava para que eu e minha mãe, a avó dele, ficássemos distantes. O médico receitou antibiótico e corticoide, mas o tratamento não deu certo. Levei ele mais algumas vezes ao PS, mas continuavam afirmando que ele não precisava ficar internado", detalha ela.
Depois disso, Matheus precisou fazer uma tomografia de emergência após um tratamento com oxigenoterapia. Conforme a família, ele estava com uma fístula na traqueia, e o oxigênio estava vazando para cavidades internas do corpo, no peito e no pescoço, provocando inchaço e desconforto, levando o jovem a ser internado na UTI.
"Antes de entrar na UTI, ele disse, segurando a minha mão: 'Eu te amo, mãe'. Essas foram as últimas palavras do meu filho", lembra Katherine. "Agora entendo que devo continuar o trabalho dele, de conscientizar as pessoas para a gravidade dessa doença. Por isso, faço um alerta aos jovens sem comorbidades, como ele. Não aglomerem, não corram riscos à toa. Essa doença é letal, é perigosa. E mata até mesmo jovens saudáveis como vocês", concluiu.
*Com informações do UOL