Líderes religiosos denunciam violência de equipes policiais que buscam por Lázaro Barbosa, o 'serial killer de Brasília'
Os líderes de espaços tradicionais de matriz africana em Águas Lindas de Goiás e outras localidades de Goiás afirmam que os policiais agem com violência, apontam armas e vasculham todas as áreas dos terreiros, até mesmo as restritas
Lideranças de espaços tradicionais de matriz africana em Águas Lindas de Goiás e outros distritos em Goiás denunciam ações violentas de policiais durante as buscas por Lázaro Barbosa, 32 anos, conhecido como "serial killer do DF". De acordo com os relatos, as equipes invadiram os terreiros várias vezes nos últimos dias de forma truculenta e vasculhando telefones celulares e computadores sem mandados judiciais.
Uma força-tarefa com cerca de 200 policiais foi montada e tem usado o distrito de Girassol, área rural de Cocalzinho, no Goiás, como base - a área é próxima de onde ele teria sido visto pela última vez. Lázaro, que está foragido há mais de dez dias, é acusado de matar, a tiros e facadas, três pessoas de uma mesma família na zona rural de Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal, no último dia 9. Ele também é apontado como autor de outros crimes.
Os líderes afirmam que os policiais agem com violência, apontam armas e vasculham todas as áreas dos terreiros, até mesmo as restritas. Um boletim de ocorrência chegou a ser registrado por causa da abordagem adotada pelos agentes.
"Estamos sofrendo, neste momento estou falando pela dor de muitas casas, sofrendo invasões constantes de polícias de vários comandos, não dá nem para saber qual, violando nossos sagrados, colocando rifles na nossa cabeça sob acusação de que estamos acoitando o Lázaro", contou o líder afro tradicional de candomblé Tata Ngunzetala, que lidera mais de 30 casas na região.
Apenas neste sábado (19), a polícia invadiu o terreiro liderado por Tata Ngunzetala duas vezes. "Perguntam constantemente qual última vez que vimos Lázaro e nós respondendo o tempo todo que não temos nenhuma vinculação, nem nossas casas, nem nossas tradições com crimes e qualquer situação civil que a polícia e a Justiça têm que dar conta, e não colocar nossas casas e lideranças sob suspeitas", disse.
Ele conta que há três dias seguidos a situação se repete, mas que nesta tarde foi mais grave. "Tive que abrir todas as portas dos espaços sagrados, inclusive aquelas restritas às pessoas iniciadas sob mira de fuzil. Tive meu celular e computadores vasculhados sem mandado judicial, sem nenhuma acusação formal, nada que me vincule e vincule nossas casas de tradição ao que eles estão buscando", contou.
A casa também foi alvo de uma terceira abordagem policial, que foi presenciada e registrada pela equipe do Estadão. Desta vez, os policiais afirmaram que estavam apurando informações para compor o boletim de ocorrência registrado na sexta-feira (18) à noite.