Vacina Astrazeneca: vencida ou não? Entenda o caso dos imunizantes fora do prazo de validade
Até o dia 19 de junho, os imunizantes em questão foram usados por mais de 1.500 municípios de várias regiões do Brasil
Com base nos dados do Ministério da Saúde, a Folha de S. Paulo apurou que pelo menos 26 mil doses da vacina Oxford/AstraZeneca contra a covid-19 teriam sido aplicadas fora do prazo de validade no Brasil. Os imunizantes vencidos seriam provenientes de lotes importados da Índia pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ou adquiridos por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Após a reportagem, o Ministério da Saúde e os Estados afirmam ter distribuídos os lotes dentro do prazo. Já as prefeituras, negam irregularidades, alegando erros de registro no DataSus.
Até o dia 19 de junho, os imunizantes em questão foram usados por mais de 1.500 municípios de várias regiões do Brasil. Em Pernambuco, 1.268 doses foram aplicadas em 96 municípios. Do País, a cidade de Maringá, no Paraná, foi o local que teria vacinado mais pessoas com o imunizante fora da validade. No total, foram 3.536 doses aplicadas.
Ministério da Saúde
Em nota, o Ministério da Saúde informou ter distribuído os produtos na data correta e disse ainda caber ao gestor local o acompanhamento da validade. Em entrevista à CNN, o secretário executivo da pasta, Rodrigo Cruz, reforçou a informação e disse que pediu detalhamento aos municípios para verificar se houve a aplicação do imunizante fora da validade ou se foi um "mero equívoco no preenchimento" dos dados do sistema DataSus.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) destacaram que não descartam erro no sistema de registro de dados, mas disseram que todos os casos serão investigados.
Fiocruz
A Fiocruz, responsável pela distribuição das vacinas, esclareceu que os referidos lotes não foram produzidos pela instituição, e que todas as doses importadas da Índia foram entregues pela fundação em janeiro e fevereiro dentro do prazo de validade.
> Veja a nota na íntegra da Fiocruz
Resposta dos municípios
Os municípios brasileiros estão negando que tenham aplicado a vacina da AstraZeneca fora da data de validade. As administrações alegam que trata-se de um erro no sistema de informação do Ministério da Saúde.
"No começo da vacinação, a transferência de dados demorava a chegar no Ministério da Saúde, levando até dois meses. Portanto, os lotes elencados são do início da vacinação e foram aplicados antes da data do vencimento", explica Marcelo Puzzi, secretário de Saúde de Maringá, cidade paranaense que lidera a relação de supostas imunizações com doses fora da validade.
Pernambuco
De acordo com os dados, 1.268 doses teriam sido aplicadas em 96 municípios de Pernambuco. A cidade que aparece como a que possivelmente teria aplicado o maior número de doses vencidas (279) foi Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife (RMR). O dado foi negado pelo município, que afirmou tratar-se de um atraso de digitação das informações no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SIPNI).
Já a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informou que entrou em contato com o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems-PE) para acionar os municípios que tiveram registro no sistema de aplicação de doses vencidas. O gestor municipal, responsável pela aplicação das doses na população, irá avaliar os casos e verificar se a informação procede ou se foi um erro de digitação. Se confirmados a aplicação dos imunizantes fora do prazo de validade, de acordo com a SES-PE, será feito uma busca ativa das pessoas que receberam as doses.
"Até o momento, Pernambuco aplicou mais de 4,2 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19. O possível erro vacinal (1.268 doses), que precisa ser prontamente investigado para saber se existiu ou não, representaria 0,02% do total de doses aplicadas", afirma a gestão estadual. Segundo a secretaria, em cada entrega de vacina, são repassadas as notas fiscais onde constam as informações sobre o lote e data de vencimento.
No Estado, Ipojuca, Recife e Caruaru já se posicionaram, negando irregularidades. Confira abaixo a lista de cidades pernambucanas que enviaram notas à imprensa a respeito do caso:
Segundo a Secretaria de Saúde do Recife (Sesau), as últimas doses do lote 4120Z005, cujo prazo de validade era 14 de abril, foram ministradas na cidade até o dia 25 de fevereiro. Ainda de acordo com a secretaria, houve um erro durante o registro das duas doses no sistema do Ministério da Saúde. A capital de Pernambuco teria aplicado duas doses vencidas.
A Secretaria de Saúde de Caruaru, no Agreste pernambucano, informou que na data do vencimento do lote todas as doses já tinham sido aplicadas. O órgão justificou ainda que a informação de que a cidade aplicou 36 doses fora de validade trata-se de um erro no sistema de informação do Ministério da Saúde, que já está sendo corrigido.
Em publicação nas redes sociais, a Prefeitura de Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife, informou que o município não realizou vacinação fora da validade. A Secretaria de Saúde identificou foi um atraso de digitação das informações no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SIPNI). A prefeitura justificou que a informação de que 279 que teriam sido aplicadas com atraso não procede.
Como saber se a dose estava vencida?
Para saber se a vacina aplicada está entre os lotes suspeitos, é preciso verificar no cartão de vacinação qual o lote do imunizante que foi aplicado. De acordo com as informações divulgadas na sexta-feira (2), os lotes vencidos seriam os seguintes:
4120Z001 - Vencimento em 29 de março
4120Z004 - Vencimento em 13 de abril
4120Z005 - Vencimento em 14 de abril
CTMAV501 - Vencimento em 30 de abril
CTMAV505 - Vencimento em 31 de maio
CTMAV506 - Vencimento em 31 de maio
CTMAV520 - Vencimento em 31 de maio
4120Z025 - Vencimento em 4 de junho
Caso seja comprovado que as doses estavam vencidas, a orientação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO) é que seja iniciado um novo ciclo vacinal, respeitando um intervalo de 28 dias entre as doses. Se a vacina tiver sido aplicada fora do prazo de validade, não há imunização contra o vírus.
Para a reaplicação é necessário ir até um posto de vacinação para que o município repasse orientações detalhadas sobre o procedimento a ser adotado.