INQUÉRITO

Exército fez vacinação secreta de agentes da Abin sem autorização do Ministério da Saúde, diz jornal

A vacinação secreta só foi descoberta após o Ministério Público Federal (MPF) instaurar um inquérito civil

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Marcelo Aprígio

Publicado em 21/07/2021 às 9:40 | Atualizado em 21/07/2021 às 9:41
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Cerca de 130 servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) receberam doses de vacinas contra a covid-19 secretamente. A imunização do grupo contou com atuação direta do Exército, que não tinha aval de técnicos do Ministério da Saúde para tal. As informações foram reveladas nesta quarta-feira pela Folha de S.Paulo.

A vacinação secreta só foi descoberta após o Ministério Público Federal (MPF) constatar que uma lista sigilosa com nomes foi enviada ao Exército para que os funcionários da Abin fossem vacinados com todos os militares da ativa, que fazem parte dos grupos prioritários em Brasília. Apesar da aplicação das vacinas, a medida desrespeita normas técnicas editadas pela equipe do Plano Nacional de Imunização (PNI) para organizar um fluxo de vacinação de grupos prioritários, diante da falta de doses em todo o país.

A vacinação de fato ocorreu, de acordo com documentos obtidos pelo MPF em inquérito civil público instaurado em 25 de junho. O órgão investiga o privilégio dado aos militares das Forças Armadas, às forças de segurança e aos agentes da Abin em Brasília. Segundo a procuradoria, os grupos são suspeitos de furar a fila de vacinação.

No caso da Abin, a procuradora da República Ana Carolina Roman, responsável pelas investigações, consultou uma equipe de técnicos do PNI para saber se fazia algum sentido a vacinação dos servidores. Para isso, Roman se reuniu virtualmente, em 1º de julho, com duas técnicas do Ministério da Saúde, Thaís Minuzzi e Caroline Gava, e com o então diretor do Departamento de Imunização da pasta, Laurício Monteiro Cruz.

Coube a Gava dar uma explicação, que não foi contestada pelo diretor do Departamento de Imunização. Cruz foi demitido do ministério uma semana depois, suspeito de participação em um mercado paralelo de vacinas junto à pasta, investigado pela CPI da Covid no Senado.

"Tivemos esclarecimento com o governo do Distrito Federal (GDF). A coordenação de imunização entrou em contato conosco, perguntando sobre esses profissionais [da Abin]. No PNI, esses profissionais não estariam contemplados, por não disporem de ações diretas [relacionadas à atuação em segurança]", afirmou a técnica do PNI em resposta à pergunta da procuradora. "Se ocorreu a vacinação prioritária, a gente não tem como responder", completou Gava.

GDF admite vacinação

Duas semanas antes da reunião, contudo, o secretário de Saúde do Distrito Federal, Osnei Okumoto, admitiu que os servidores da Abin foram imunizados por causa da ‘ exposição de risco epidemiológico decorrente do trabalho por parte desses servidores’. A explicação foi dada ao MPF por ofício.

"Por fazerem parte do grupo de funcionários da força de segurança, houve o pleito de vacinação por parte da associação dos servidores da Abin para vacinação de 130 profissionais a serem contemplados, considerando o critério de exposição de risco epidemiológico decorrente do trabalho por parte desses servidores", afirmou o gestor no ofício.

O documento confirma que a vacinação ocorreu, na Praça dos Cristais em Brasília, em uma parceria entre a secretaria e o Comando Militar do Planalto, do Exército. "A listagem foi enviada diretamente para o Exército, considerando a importância da discrição quanto ao sigilo das atividades e nomes desses servidores."

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