Vacinação de crianças: sem Anvisa, audiência tem médicos que defendem cloroquina
Em transmissão ao vivo em sua rede social no começo da audiência, Bia Kicis relatou ter convidado os médicos Roberto Zeballos, José Augusto Nasser e Roberta Lacerda, contrários à imunização de crianças, para falar no encontro
A audiência pública sobre vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19 tem a participação de três médicos indicados pela presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara, Bia Kicis (PSL-DF), que compartilham posicionamentos semelhantes ao do presidente Bolsonaro, como o suposto tratamento precoce contra a covid com medicamentos com ineficácia comprovada, como a cloroquina. São contrários também ao passaporte sanitário - a obrigação de apresentar um comprovante de vacinação para entrar em locais públicos ou aeroportos.
Iniciada por volta das 10h15, a audiência pública não conta com a participação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autorizou a aplicação da vacina da Pfizer nas crianças em 16 de dezembro. A agência foi convidada, mas decidiu não participar. "(A Anvisa) encaminhou um e-mail ao Ministério da Saúde e informou que o parecer da agência é público e que não irá agregar ao debate, por isso, não há representante da Anvisa aqui", informou a Saúde no início da audiência.
Em transmissão ao vivo em sua rede social no começo da audiência, Bia Kicis relatou ter convidado os médicos Roberto Zeballos, José Augusto Nasser e Roberta Lacerda, contrários à imunização de crianças, para falar no encontro.
Em agosto, o Projeto Comprova, do qual o Estadão faz parte, mostrou que Zeballos fez diversas afirmações incorretas sobre a covid-19 em vídeo no Instagram. Hoje, ele tem mais de 390 mil seguidores. Na ocasião, o médico minimizou a importância da variante Delta ao escrever que ela era "pouco agressiva".
Zeballos também errou ao dizer que as vacinas disponíveis até aquele momento não funcionavam contra a Delta. É verdade que os imunizantes foram desenvolvidos quando a variante ainda não circulava, mas eles são,sim, eficazes contra a variante.
Procurado, Zeballos afirmou na época ter sido "o primeiro brasileiro a entender o mecanismo da doença" e declarou que "não tem sentido você vacinar com uma vacina que não é livre de riscos - todo mundo sabe disso - nas pessoas que já tiveram a doença", mas, completou que "talvez as pessoas tenham o benefício de ter uma doença mais leve". O Comprova considerou a publicação do médico enganosa porque ele usa dados incorretos ou imprecisos sobre a variante Delta e sobre a vacinação.
Zeballos falou na audiência pública desta terça por cerca de 10 minutos e repetiu a versão de que a vacina "gerou uma resposta imunológica de 95%" para a "cepa anterior" que não está mais circulando. Referiu-se ao imunizante contra a covid como "vacina emergencial", ignorando o fato de que a Pfizer tem o registro definitivo das doses contra a doença. O médico pediu ainda respeito à "ciência da observação".
Em outra checagem, o Projeto Comprova também apontou que a médica Roberta Lacerda tirou dados de hospital israelense de contexto ao acusar o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos de mentir sobre infecções em não vacinados. A postagem circulou em agosto do ano passado.
A reportagem tentou falar com a profissional pelo Twitter, onde ela fez a postagem, na época, mas o perfil manteve fechado o canal para mensagens privadas. Uma mensagem solicitando um meio de contato foi deixada na postagem. O Comprova classificou o conteúdo como enganoso porque ele retira informações de contexto e as utiliza de modo a confundir.