METEOROLOGIA

Especialista alerta para possibilidade de novos desastres causados pelas chuvas no Brasil

Meteorologista explica que intempéries se devem à Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), fenômeno típico do verão austral, acentuado pela presença do "La Niña" e cujo impacto "é difícil de separar do aquecimento global"

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AFP

Publicado em 10/01/2022 às 22:17 | Atualizado em 10/01/2022 às 23:33
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A queda de um paredão no Lago de Furnas, em Minas Gerais, foi resultado das chuvas intensas que atingem vários estados do país, disse à AFP a meteorologista Estael Sias, que alertou para a possibilidade de novos desastres.

O desmoronamento deste sábado, que causou a morte de 10 pessoas, soma-se aos graves danos causados há dois meses por inundações, que já deixaram dezenas de mortos e dezenas de milhares de desabrigados, principalmente na Bahia.

Segundo Estael, que trabalha na agência MetSul, as intempéries se devem à Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), fenômeno típico do verão austral, acentuado pela presença do "La Niña" e cujo impacto "é difícil de separar do aquecimento global".

O desmoronamento está diretamente relacionado às chuvas?

"Certamente existe uma relação. É um fato que o longo e intenso período de chuvas gerou uma infiltração de água nas rochas, que teve como consequência o movimento das mesmas e a queda do paredão. Alguns vídeos mostram que, minutos antes, havia uma grande quantidade de chuva que descia pelas cachoeiras da região, com grande pressão sobre as rochas", diz Estael.

O que está causando esse período de chuvas tão intenso e prolongado?

“A causa é a ZCAS, um fenômeno típico do verão, que provoca anualmente fortes chuvas na região.

A ZCAS é um corredor de umidade da Amazônia que, quando conectado a uma frente fria no Atlântico Sul, ou mesmo a um sistema de baixa pressão, permanece por vários dias gerando grandes volumes de chuva, que provocam enchentes e deslizamentos de terra, principalmente nos estados do Sudeste e em parte do Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

Outros estados do Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, registraram grandes tragédias climáticas em anos anteriores devido à ZCAS nesta mesma época.

Este ano, sob a influência do fenômeno meteorológico La Niña (que provoca o resfriamento do Oceano Pacífico equatorial, causando chuvas excessivas em algumas partes do planeta e secas severas em outras, ndr), já havia uma tendência a maiores volumes de chuva".

Até quando pode durar esse fenômeno?

"A previsão de chuva para os próximos 10 dias ainda indica altos volumes de precipitação na região. Infelizmente, as calamidades na região poderiam aumentar. Na segunda quinzena de janeiro, a princípio, a umidade na Amazônia irá se estender mais para o sul do país, reduzindo os volumes na região. No entanto, é preciso ressaltar que os meses de verão são, historicamente, os mais úmidos, e fevereiro e março continuam sendo períodos de grandes volumes de chuva."

A ZCAS tem relação com as mudanças climáticas?

"Os extremos que temos registrado em todo o mundo nos últimos dois anos têm sido muito frequentes. Com eventos históricos de calor, chuvas cada vez mais recorrentes, e considerando que, nas últimas duas décadas, foram registrados os anos mais quentes da história do planeta, é difícil separar fenômenos como a ZCAS, de menor escala em tempo e espaço, do aquecimento global, que serve de combustível para acentuar os extremos em todo o planeta.”

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