INVESTIGAÇÃO

Bruno e Dom: o que se sabe sobre o desaparecimento de jornalista e de indigenista na Amazônia

Dom Phillips, jornalista do The Guardian, desapareceu enquanto realizava uma pesquisa para um livro no Vale do Javari, no estado do Amazonas, junto com o indigenista Bruno Pereira

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Amanda Azevedo

Publicado em 06/06/2022 às 23:18 | Atualizado em 15/06/2022 às 0:28
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As buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e pelo indigenista Bruno Pereira, desaparecidos em uma região remota da Amazônia, entraram em seu décimo dia nesta terça-feira (14), em meio a dúvidas e uma crescente pressão internacional para resolver o caso. Na noite desta terça, a Polícia Federal informou que um segundo suspeito de envolvimento no desaparecimento foi preso.

Phillips, 57 anos, é colaborador do jornal britânico The Guardian e trabalha no Brasil há 15 anos. Apaixonado pela Amazônia, sobre a qual escreveu dezenas de reportagens, o jornalista estava na região há vários dias trabalhando em um livro sobre conservação ambiental e desenvolvimento local, com apoio da fundação americana Alicia Patterson.

Pereira, de 41 anos, especialista da Funai e reconhecido defensor dos direitos indígenas, o acompanhava como guia, em sua segunda viagem à região desde 2018.

Ele foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte, município para onde ia com Phillips quando eles desapareceram. Seu trabalho em defesa dos povos indígenas lhe rendia ameaças frequentes de grupos criminosos que atuam na região.

Ambos são casados e Pereira é pai de três filhos.

Phillips e Pereira foram vistos pela última vez na manhã de domingo, 5 de junho, na comunidade de São Gabriel, não muito longe de seu destino, Atalaia do Norte, onde navegavam pelo Rio Itaquaí.

Eles estavam viajando em um barco novo, com combustível suficiente para chegar ao seu destino. A jornada havia começado dias antes no Lago Jaburu, onde entrevistaram moradores.

Vale do Javari, local de desaparecimento de Bruno e Dom, é uma região "complexa" 

O jornalista e o especialista desapareceram no Vale do Javari, uma densa área de selva amazônica onde vivem 26 povos indígenas, muitos deles isolados.

As autoridades alertaram para a "complexidade" do meio ambiente devido à presença de garimpeiros, madeireiros e pescadores ilegais que invadem terras protegidas para explorar seus recursos.

Além disso, o tráfico de drogas teve uma presença crescente nos últimos anos, utilizando a região como um importante corredor para o transporte de drogas produzidas no Peru e na Colômbia, países que fazem fronteira com o Brasil.

As buscas são realizadas por grupos indígenas e pelas forças de segurança.

Pescadores presos suspeitos do desaparecimento de Bruno e Dom

Policiais encontraram pertences pessoais de ambos no domingo (12): uma mochila, roupas, sapatos e o cartão de saúde de Pereira. Segundo os bombeiros, os objetos foram encontrados submersos perto da casa de Amarildo da Costa Oliveira, o primeiro detido no âmbito do caso.

A polícia encontrou um rastro de sangue em um barco do detido, que nega estar envolvido.

Sangue e material "aparentemente humano" encontrado na área de busca estão sendo analisados. Os resultados são esperados esta semana.

Na noite desta terça, a Polícia Federal informou que um segundo suspeito de envolvimento no desaparecimento foi preso.

O segundo preso é o pescador Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos. Ele será interrogado pelos policiais federais e depois vai passar por audiência de custódia na Vara Única de Atalaia.

Oseney é irmão de Amarildo. Testemunhas relataram aos policiais federais que os dois saíram de barco em alta velocidade atrás de Bruno Dom no dia do desaparecimento.

Durante as buscas nesta terça, a PF também apreendeu cartuchos de arma de fogo e um remo, que ainda serão analisados.

- Críticas e confusão -

A busca pelos dois desaparecidos continua, assim como por sua embarcação.

Uma grande confusão surgiu na segunda-feira (13) depois que familiares do jornalista foram informados por um diplomata brasileiro em Londres da descoberta de dois corpos que aguardavam identificação.

A Polícia Federal, porta-voz oficial das investigações, negou essa informação. Os indígenas que participaram da busca também negaram a descoberta de dois corpos.

O governo federal tem recebido críticas de ativistas, organizações internacionais e da justiça brasileira pela suposta lentidão e falta de coordenação nas buscas.

Bolsonaro havia dito inicialmente que Phillips e Pereira haviam embarcado em uma aventura não recomendada por circular sem escolta por uma área perigosa, despertando a ira de organizações civis que saíram em defesa do trabalho de ambos pela preservação do Amazonas.

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