DESRESPEITO

Ato da campanha de Bolsonaro prejudica instalações de uma igreja Católica e fiéis lançam manifesto: "Igreja não é palanque!"

Paróquia Nossa Senhora do Desterro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro teve grades arrancadas e padres cerceados

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JC

Publicado em 27/10/2022 às 21:09 | Atualizado em 27/10/2022 às 21:18
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A Paróquia Nossa Senhora do Desterro, localizada no Bairro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, sofreu atos de vandalismo, além de cerceamento dos padres, funcionários e fiéis que frequentam o local, desde que a comunidade católica não concordou em ser associada com um ato pró-Bolsonaro realizado esta semana no bairro. A denúncia foi publicada pelo portal G1-RJ.

Segundo o G1, no último domingo(23), apoiadores do presidente Bolsonaro realizaram uma carreata pelo bairro de Campo Grande, convidando a população a participar de um comício com a presença do presidente, e candidato a reeleição, Jair Bolsonaro (PL). As peças de propaganda do ato traziam a imagem da fachada da Igreja Matriz ao fundo, o que desagradou os párocos porque poderia gerar uma associação indevida da paróquia com grupos políticos.

PADRES SE POSICONARAM POR NÃO APOIAR O COMÍCIO DE BOLSONARO

Ainda segundo o G1, os padres João Lucas e Ricardo Gomes, além do diácono Vitor Henrique, comunicaram aos organizadores do evento que a igreja, até por recomendação da Arquidiocese do Rio de Janeiro, não se envolveria em nenhum ato político-partidário, e portanto, manteria uma postura neutra em questões políticas. Os padres também teriam negado que a comitiva de Bolsonaro usasse a área interna da igreja como uma espécie de apoio, já que o palanque seria montado na praça que existe em frente à igreja.

A comunidade Católica de Campo Grande denuncia então que na segunda-feira (24) mesmo sem comunicação ou autorização, parte do gradil que cerca a igreja e a Praça Dom João Esberad, foi removido para a montagem do palanque. Algumas árvores do local teriam sido cortadas, e toda a estrutura montada para receber os políticos acabou prejudicando as atividades da Paróquia. Foram canceladas 12 missas que aconteceriam ao longo desta semana. As atividades sociais, como o café da manhã servido à população de rua, também foi suspenso. 

O que disse a Prefeitura do Rio de Janeiro

Procurada pela reportagem do G1, a Prefeitura do Rio confirmou a retirada de parte do gradil que circunda a praça em frente a Paróquia Nossa Senhora do Desterro. A prefeitura não foi informada e nem concedeu autorização para a manobra, o que pode caracterizar vandalismo e dano ao patrimônio municipal, na forma do artigo 163 do Código Penal. A prefeitura do Rio disse ainda que a Polícia será comunicada e deve investigar o caso. O prefeito Eduardo Paes utilizou as redes sociais para se posicionar sobre o assunto: 

Se tivessem pedido autorização para retirar as grades, teriam tido desde que recolocassem depois. Nós somos democratas e respeitamos a livre manifestação. Mesmo sendo a primeira visita do Bolsonaro como presidente a Zona Oeste(vai ser a última tb), aonde ele não fez NADA!”, escreveu Eduardo Paes no Twittter

"Igreja não é palanque"


Uma carta aberta da comunidade católica dos fiéis da paróquia de Nossa Senhora do Desterro, acompanhada de um abaixo-assinado, foi divulgada através das redes sociais. O documento é endereçado "aos juízes do Tribunal Superior eleitoral e a todas pessoas de bom coração”. Abaixo, uma versão resumida da carta:

“Gostaríamos de indicar atos ilícitos de apoiadores do Sr. Jair Messias Bolsonaro, que, de maneira grotesca e ameaçadora, desde o dia 22 de outubro de 2022, têm tentando invadir o espaço da Igreja Matriz Nossa Senhora do Desterro, no intuito de montar uma base para um comício eleitoral que está agendado para o dia 27 de outubro de 2022, sendo realizado na Praça em frente à Igreja Matriz”, diz o início do documento.

“Instrumentalizam a fé, limitando a realização segura de atividades de nossa Comunidade Eclesial. Nossa religião nos ensina que a mistura de política com fé perverte o sentido autêntico da religiosidade da Igreja Católica Apostólica Romana. O que ocorre nas proximidades da Igreja Matriz evidencia o quanto essa relação é danosa para a instituição religiosa e para os fieis."

“Nos solidarizamos com nossos irmãos de fé e com os clérigos que atuam e residem na Igreja Matriz Nossa Senhora do Desterro. De igual modo, rezamos também pelos funcionários que trabalham na referida Igreja. Endossamos o que pela fé já conhecemos e defendemos: igreja não é palanque”. 

Veja a carta na íntegra, clicando aqui

 

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