CINEMA

Rio Doce/CDU comove público do Cine PE

Curtas-metragens também se destacaram na quarta noite do festival

Ernesto Barros
Cadastrado por
Ernesto Barros
Publicado em 30/04/2013 às 2:18
Beto Martins/Divulgação
Curtas-metragens também se destacaram na quarta noite do festival - FOTO: Beto Martins/Divulgação
Leitura:

Documentários geralmente não ganham prêmios de melhor filme em festivais que concorrem com obras de ficção. Nos últimos 10 anos, desde que mudou o nome para Cine PE, apenas dois documentários saíram premiados no festival pernambucano: Do luta à luta, de Evaldo Morcazel, em 2005, e Alô, alô, Terezinha, de Nelson Hoineff, em 2009. Neste ano, outro documentário tem tudo para repetir esta façanha: Rio Doce/CDU, de Adelina Pontual, que foi exibido na noite desta segunda-feira (29/04), no Teatro Gurarapes, no Centro de Convenções.

Poder ser que esta opinião esteja amparada numa boa dose de bairrismo. É uma coisa natural para quem viveu em Olinda e no Recife e conhece as cidades-irmãs da maneira apresentada no longa-metragem. Ou seja, a partir de suas ruas, saliências e entranhas. De fato, ao nos levar por uma travessia automotiva por um longo itinerário de 36 quilômetros, que separa os bairros de Rio Doce, em Olinda, e Cidade Universitária, na zona Oeste do Recife, Adelina Pontual e sua equipe desnudam a alma de um povo e de duas cidades.

De certa maneira – e isso vale para quem não mora por estas bandas –, Rio Doce/CDU é o anti-Orgulho de ser brasileiro, o documentário de Adalberto Piotto que também está na Mostra Competitiva de Longas-metragens. Enquanto um tenta responder uma questão – convenhamos, irrespondível – o outro tenta um método de aproximação de ordem direta e anônima, justamente com o extrato da população brasileira que vive a poesia do cotidiano.

Sem erro, a noite de segunda-feira foi a melhor do festival até agora. A Mostra de Curtas-metragens, de uma carrada só, trouxe três filmes que não decepcionaram. O quarto, a produção carioca À luz do dia, de Joana Nin, não saiu da esfera pessoal em torno do passado da diretora. Mas os outros foram mais além.

O premiado A guerra dos gibis, de Thiago Mendonça e Rafael Terpins, é daqueles filmes que se confirmam melhor a cada vez que são revistos. A dupla desencavou um período obscuro e importante da cultura brasileira – a produção quadrinística paulista do final dos anos 1960 e início dos anos 1970, feita por editores e desenhistas de origem japonesa em sua maior parte – e tratou o material com uma linguagem que liga com perfeição o documentário e a animação.

O jornalista e cineasta carioca Eduardo Souza Lima (ou Zé José, com é conhecido entre os colegas de profissão) também cavucou na obscuridade e encontrou um personagem genial, o fotógrafo Armando Abrunhosa, personagem de Três no tri. Você certamente nunca ouviu falar dele, mas com certeza já viu algumas das suas fotos. Ou pelo menos uma, a foto símbolo do tricampeonato mundial de futebol do Brasil, conquistado no México, em 1970. Ela foi tirada por Abrunhosa durante o jogo Brasil e Tchecoslováquia durante a comemoração do gol de Pelé, com o craque socando o ar e sendo seguido por Tostão e Jarizinho. Esta foto ganhou o mundo, mas o fotógrafo permaneceu quase anônimo.

O terceiro curta a conquistar o coração da público foi o surpreendente O fim do filme, do paulista André Dib. Apesar de brincar com a metalinguagem – coisa comum em estudantes de cinema, mas um tanto fora de moda – , o jovem cineasta fez um filme cativante, romântico e bem humorado, quase sem arestas. O fim do filme mostra um atendente de locadora, que sempre conta os finais dos filmes aos clientes para o desespero do patrão, e o encontro dele com uma cliente fissurada no final de um filme que ela não cansa de ver. Mesmo que não surja nada surpreendente no que segue a partir daí, o curta vai muito além da mera cinefilia.

Últimas notícias