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Diretora brasileira exibe em Veneza terror sarcástico com adolescentes

A carioca Anita Rocha da Silveira exibiu no festival o longa Mate-Me Por Favor

Da Folhapress
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Publicado em 10/09/2015 às 10:57
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A carioca Anita Rocha da Silveira exibiu no festival o longa Mate-Me Por Favor - FOTO: Foto: Reprodução da internet
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Um punhado de assassinatos escabrosos, uma pastora evangélica histérica e uma geração de adolescentes de shopping center dão o tom de "Mate-Me Por Favor", terror de levada sarcástica dirigido pela carioca Anita Rocha da Silveira e o segundo dos dois longas brasileiros na programação do Festival de Cinema de Veneza. 

O filme não disputa o Leão de Ouro, o prêmio da competição principal do evento italiano, mas disputa na mostra Horizontes, sessão paralela dedicada a novas linguagens que também traz o outro longa nacional da programação, "Boi Neon", de Gabriel Mascaro.

Na trama de "Mate-me", um grupo de quatro meninas adolescentes da Barra da Tijuca tem de lidar com uma série de mortes misteriosas ocorridas em terrenos baldios do bairro da zona oeste do Rio enquanto lidam com aspectos da idade, como a descoberta da sexualidade.

"Mate-me" não é bem um terror tradicional, de sustos e perseguições, nem um suspense de clima pesado ou misterioso. A chave é mais irônica: o tom está mais para a obra de David Lynch, diz a diretora.

"É um diretor que trabalha muito bem com esse universo, de trazer o drama, trazer a tensão, mas com uma ironia, até para que o filme não fique muito pesado", diz a carioca, citando como referência o episódio-piloto da série "Twin Peaks" -aquele em que o corpo de uma colegial é encontrado enrolado em plástico.

A protagonista (a estreante Valentina Herszage) sente uma atração mórbida pelos assassinatos, o que a diretora descreve como a "pulsão de morte do adolescente".

Anita, 30, cita a morte de Daniela Perez, ocorrida em 1992 na Barra da Tijuca, como uma das inspirações. "Deixou uma imagem que ficou na minha cabeça quando criança." O caso é mencionado no filme.

Os amplos terrenos vazios onde vagam os jovens são bastante explorados no longa, que dá as costas ao Rio cinematográfico da zona sul. "Eu sempre quis rodar o filme na Barra: sou fascinada por aquela paisagem de condomínios gradeados, de falsa sensação de segurança."

Até por isso, nenhum adulto (pai ou professor) aparece, só são mencionados: "É o que acontece: mudam-se para lá achando que é OK deixar os filhos sozinhos por ali", diz Anita, deixando clara a crítica social à ocupação da cidade embutida no filme.

Na primeira sessão do filme, razoavelmente ocupada, a plateia aplaudiu e riu de piadas com sabor nacional, como a figura da pastora adolescente que entoa louvores em ritmo de funk.

"Os estrangeiros acham a personagem algo completamente fictício e inverossímil. Claro que exagerei, mas foi inspirado em algo que existe."

A revista especializada "Variety" saudou o filme como "uma nova face do cinema latino-americano".

"Há um déficit no Brasil de filmes para adolescentes, em geral feitos por gente que retrata histórias de quando eles, os diretores, eram adolescentes", diz a produtora do longa, Vania Catani. "A Anita fala muito bem com essa faixa. Quero que esse filme provoque outros do gênero."

Na mesma mostra Horizontes também disputa o terceiro e último título nacional em Veneza, o curta-metragem de suspense "Tarântula", de Aly Muritiba e Marja Calafanje, rodado num casarão no interior do Paraná.

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