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Eu, Daniel Blake, que levou a Palma de Ouro, prova a grandeza de Loach

Produção britânica de Ken Loach ganhou a Palma de Ouro Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2016

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Publicado em 05/01/2017 às 8:42
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Produção britânica de Ken Loach ganhou a Palma de Ouro Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2016 - FOTO: Foto: Divulgação
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Para muitos críticos, a simples existência de Ken Loach já é um anacronismo. Havia, no Festival de Cannes do ano passado, grandes filmes de autores que polarizaram a crítica jovem - Toni Erdmann, de Maren Ade; Aquarius, de Kleber Mendonça Filho; Elle, de Paul Verhoeven. E havia Loach com Eu, Daniel Blake, que foi o preferido do júri. Ninguém vaiou e, pelo contrário, o discurso de agradecimento de Loach foi recebido com reverência. Muita gente aplaudiu de pé.

"Agradeço ao júri por sua sensibilidade. É importante que continuemos fazendo esses filmes e que eles sejam premiados para chamar a atenção. Dar voz aos que não têm voz é um gesto estético, e político."

Loach tem sido uma presença regular no Festival de Cannes

Grande Loach. Aos 80 anos, que completou em 2016, ele tem sido uma presença regular no maior festival do mundo. Já ganhou o prêmio da crítica, do júri, melhor ator, duas Palmas de Ouro. E elas foram atribuídas por júris presididos por cineastas que, aparentemente, não têm nada a ver com o tipo de cinema realista e engajado que ele gosta de fazer. O chinês - de Hong Kong - Wong Kar-wai é um esteticista romântico que seduz as plateias com a plasticidade e refinamento de seus filmes. Premiou Loach por Ventos da Liberdade, em 2006. O australiano George Miller, que outorgou a Palma a Eu, Daniel Blake - que estreia nesta quinta, 5 -, revolucionou a ação com seu futurista Mad Max e chegou ao quarto filme da série, Estrada da Fúria, num exacerbado tom operístico.

Nada disso tem a ver com os pequenos dramas humanos que Loach gosta de filmar, mas ele levou - a Palma e as palmas. Num mundo em que o direitismo se está tornando galopante, Loach segue à esquerda, denunciando o capital, a concentração de poder, os abusos de direitos humanos. Neoliberalismo? "Entregar ao mercado a solução dos problemas é selar a desigualdade e a injustiça social. Até por ser competitivo, o mercado não está nem aí para os dramas humanos." Eu, Daniel Blake é mais uma prova disso. Mais do mesmo (Loach), se poderia pensar, quando o filme foi anunciado na seleção de Cannes do ano passado. Nada disso - I, Daniel Blake (título original) não é mais um bom filme de Loach. É um dos maiores. Talvez seja seu maior. Um homem maduro e uma mãe solteira em guerra contra a burocracia do sistema previdenciário e de saúde inglês. Eu, Daniel Blake prova que o cinema social não se esgotou. Só precisa de um grande diretor como Loach.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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