Animação

Inédito na América Latina, 'Hoffmaniada' abre o Festival Brasil Stop Motion nesta quarta

Longa-metragem do diretor russo Stanislav Sokolov, homenageado pelo festival, levou 17 anos para ser realizado com bonecos

Luana Nova
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Luana Nova
Publicado em 08/08/2018 às 12:55
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Longa-metragem do diretor russo Stanislav Sokolov, homenageado pelo festival, levou 17 anos para ser realizado com bonecos - FOTO: Foto: Divulgação
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Quem vê cinco minutos de uma animação em stop motion, mas desconhece as técnicas de captura e edição por trás do processo, não imagina o quão laborioso pode ser construir uma cena com movimentos de personagens e de câmeras tão precisos e ainda assim instáveis. Afinal, estamos falando de bonecos de modelar. E é com uma forma tão refinada e delicada quanto uma porcelana russa que os personagens de Hoffmaniada entram em cena, criando uma atmosfera fantasiosa e delirante.

Dirigido por Stanislav Sokolov, o longa levou 17 anos para chegar à sua versão final, com 70 minutos. Matematicamente falando, é como se cada quatro minutos e 11 segundos desenvolvidos pelos animadores tivessem levado um ano para ser feito. Obviamente, não foi dessa forma que os trabalhos se desenrolaram. Ao longo do percurso, Sokolov e sua enxuta equipe toparam com dificuldades diversas, inclusive financeiras.

“Tivemos problemas com o estúdio e com o tempo de exibição. Houve uma mudança na direção do estúdio, foi um problema grande para a produção, tivemos um outro diretor do projeto, outra equipe. Houve um momento engraçado em que não tínhamos mais dinheiro para trabalhar”, contou Sokolov, em entrevista realizada no Cinema da Fundação do Derby, na manhã dessa terça-feira (7).

“Quando começamos o projeto (em 2001) havia muitos criadores de bonecos, mas com o passar do tempo, eles foram ficando velhos, não conseguiam mais continuar com o trabalho, alguns até morreram, é um projeto muito longo”, contou o animador russo Igor Khilov, responsável pela criação dos bonecos em Hoffmaniada. “Em alguns casos, os bonecos se mexiam mais do que os seus criadores, eram mais dispostos do que eles”, brincou Sokolov na sequência.

Hoffmaniada, como o título indica, é inspirado na vida e obra de E.T.A. Hoffmann (1776-1822), um escritor da era Romântica, compositor, desenhista e jurista alemão, conhecido sobretudo no âmbito da literatura fantástica. O filme faz uma ponte entre delírio/magia e a mesmice da existência, expondo uma dualidade entre a vida cotidiana do personagem-título, que durante o dia serve na Chancelaria e trabalha como escrivão e à noite vive inspirado em suas visões.

Para criar uma ambiência de fusão entre realidade e fantasia, Sokolov, que escreveu o roteiro junto a Victor Slavkin, tomou como base os textos originais de diversos contos de Hoffmann, como O Vaso de Ouro (1812) e O Homem da Areia (1816), além de notas de pesquisadores sobre a escrita do autor e do período. “Eu acredito que Hoffman é um escritor feito para a animação”, indicou o diretor.

Na história, Ernst (primeiro nome de Hoffmann), é enfeitiçado por uma bruxa, pelo advogado charlatão Coppelius e pelo relojoeiro Paulmann. Eles conspiram contra Ernst, com o objetivo de obter a alma pura e ingênua de Anselmus, como o protagonista se enxerga em seu sonho poético. Em contrapartida, ele recebe a ajuda do sábio mago Archivarius Lindhorst.

Ao som de música clássica (Hoffmann também foi um exímio crítico musical), o filme nos transporta facilmente para a ambiência de uma Rússia imperial (ou para o interior de uma caixa de joias, com quebra-nozes e bailarinas). O que é reiterado por uma graciosa direção de arte, criada em tons cristalinos e rica em ornamentos e lirismo.

O DIRETOR

Stanislav Sokolov | Foto: Divulgação

Homenageado do Festival Brasil Stop Motion 2018, Sokolov exibirá Hoffmaniada – filme que está em lançamento simultâneo em vários países da Europa – pela primeira vez na América Latina nesta quarta-feira (8), às 19h30, no Cinema da Fundação do Derby, onde realizará um debate após a sessão. O diretor também estará à frente de uma Master Class na quinta-feira (9), às 14h, no mesmo local, onde falará sobre seu processo criativo e exibirá o making of do seu longa. Tudo com acesso gratuito.

“É uma pena que eu não conheça diretores de stop motion brasileiros, mas eu estou feliz em poder estar aqui no Brasil, pois conheço a arte brasileira, a cultura, os desenhos e as máscaras, que são importantes para mim, porque aparecem muito em Hoffmann, e vários diretores da Rússia estiveram na América Latina, como Eisenstein”, afirmou o diretor, vencedor do Emmy, entre dezenas de prêmios, com sua obra The Tempest (1992).

Atualmente, Stanislav Sokolov coordena a Oficina de Artistas de Cinema de Animação da VGIK (Russian State University of Cinematography), a universidade mais antiga de cinema do mundo. É também membro da União dos Artistas, da Academia de Artes Cinematográficas e do Conselho da União de Cinematógrafos da Rússia.

Confira a programação completa do festival aqui.

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