Recife é a personagem principal de Amorteamo

A escolha foi do recifense Newton Moreno, um dos autores da série produzida pela Globo

Alex Carvalho/TV Globo/Divulgação
A escolha foi do recifense Newton Moreno, um dos autores da série produzida pela Globo - FOTO: Alex Carvalho/TV Globo/Divulgação

"Um melodrama do sobrenatural com tempero nordestino." É assim que o dramaturgo Newton Moreno define seu novo trabalho como roteirista, a minissérie Amorteamo, sua primeira produção para a televisão, criada por ele em parceria com Guel Arraes e Claudio Paiva, que estreia sexta-feira (8/5), na Globo. Dono de um texto rico em referências nordestinas, como as premiadas peças As centenárias, Assombrações do Recife velho e Memórias da cana, o pernambucano é o roteirista do programa que vai enveredar pelo universo fantasmagórico recifense para contar a história de dois triângulos amorosos marcados pelo sobrenatural.

"O projeto começou quando levei para a Globo uma ideia inspirada nas lendas do Recife antigo. Eu havia feito uma peça de teatro (Assombrações do Recife velho), que era baseada na obra de Gilberto Freyre. A ideia da minissérie, no entanto, se transformou, a partir de diálogos e conversas de produção", conta Newton, que há mais de 20 anos mora em São Paulo e hoje é um dos integrantes da companhia Os Fofos Encenam. "Amorteamo tem uma gênese e uma base nessas lendas pernambucanas que são tão presentes no Recife. Essa aura de mistério e o elenco de assombrações que o Bairro do Recife tem, desde a (lenda da) Perna Cabeluda até (a personagem) Boca de Ouro", completa ele, reforçando ainda que a série não se trata, porém, de uma tradução nem da peça nem do livro de Freyre.

Amorteamo (o título tem um trocadilho na pronúncia: pode-se dizer "amor te amo" ou, como prefere Newton Moreno, "a morte amo") conta a história de uma família amaldiçoada, por causa de uma traição. Depois de morto, Jeremias, primeiro marido de Cândida e irmão de Manoel, volta ao mundo dos vivos, disposto a resgatar três coisas: sua mulher, que vive com Manoel desde a morte do marido, o bar, que também foi herdado pelo irmão, e sua antiga peruca, que hoje adorna a cabeça de Manoel. A volta de Jeremias deixará Cândida dividida e o irmão ameaçado.

Newton Moreno tem um estilo bem peculiar de criação dramatúrgica e de encenação - ele já ganhou o Prêmio Shell de Teatro duas vezes como Melhor Autor. No seu texto e nas suas cenas, ele reproduz o universo sensorial de maneira singular. Não será diferente no produto televiso, garante. "O Recife é protagonista da história. A cidade, as pontes, os sobrados - está tudo contemplado. O Recife é um personagem, eu diria. Estão presentes a sonoridade, o sotaque e a prosódia, que traz um pouco desse universo sensorial. O que vem do teatro é a preocupação com os nossos fantasmas", afirma ele, que também fará da trama uma reflexão sobre a ambiguidade entre a angústia e a dúvida que paira sobre a morte. "Há uma possível leitura de nossas cicatrizes, das nossas histórias - daquilo que não conseguimos enterrar e esquecer, de um desejo de vingança. No entanto, é quando a gente se aproxima da morte e começamos a amá-la e olhar para ela, temos a consciência da plenitude e do que estamos fazendo com nossas vidas."

O texto completo está no Caderno C desta terça-feira (5/5), no Jornal do Commercio.

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