Quais jovens poderão viver em uma sociedade de privilégios e por quê? Esta é uma das indagações da série 3%, primeira produção brasileira da Netflix, disponível em 25 de novembro. Em oito episódios, a intenção é mostrar um "processo seletivo" em que apenas três por cento dos candidatos conseguirão sair da miséria e passarão a habitar o "Maralto", onde os cidadãos desfrutam uma vida quase perfeita.
Protagonista desta saga que discute o caos e a meritocracia, a atriz Bianca Comparato afirma que foi instigante dar vida a Michele. A personagem é obstinada a passar no chamado "Processo" e viver do outro lado. Segundo a Netflix, 3% se passa em um Brasil cada vez mais insatisfeito. A maior parte da população mora no Continente, um lugar miserável, decadente, onde falta tudo: água, comida, energia. Aos 20 anos de idade, todo cidadão tem direito de participar do "Processo", porém somente 3% são aprovados.
"Trazer verdade à minha interpretação num ambiente de sci-fi (ficção científica) foi um desafio. Eu e o elenco trabalhamos as relações humanas das personagens para dar veracidade à história e aproximar o espectador dessa realidade 'diferente'", afirma Bianca.
Na série, a personagem de Bianca é uma mulher ingênua, com um enorme senso de justiça e que não tem família. Criada por seu irmão, até que ele passe pelo "Processo", o único objetivo de sua vida é ser aprovada também.
"Ela não está no Processo com o único objetivo de ir a Maralto. Ela quer mais. E, com isso, enfrenta vários conflitos internos", adianta a atriz.
Primeira série original Netflix feita no Brasil, 3% conta com a direção do experiente César Charlone. Inclusive, Bianca conta que a vontade de trabalhar com o profissional, responsável por filmes como Cidade de Deus e Ensaio Sobre a Cegueira, foi uma das motivações para aceitar o convite.
"Entrei quando ainda não havia nem roteiro. Foi uma aposta. Acreditei na mensagem da série: a segregação socioeconômica pode ser um caminho sem volta para a humanidade. E também no meu desejo de trabalhar com o Cesar Charlone", diz.
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Originalmente, 3% foi criada pelo então estudante de cinema Pedro Aguilera, em 2009. Após a inscrição em um edital, ele e outros colegas ganharam aportes para a produção de um piloto, que depois foi desmembrado e colocado no YouTube, onde estourou. Bianca diz que a série disponibilizada na Netflix é diferente do piloto e que possui referência dos filmes Jogos Vorazes, Divergente e Filhos da Esperança.
"De certa forma, nossa série é como Black Mirror, se passa no futuro, mas fala de questões do presente. Discutimos sobre segregação (nada mais atual que isso) e meritocracia. Originalmente o piloto do YouTube era pra ser uma metáfora pro vestibular. Agora, com a entrada da Netflix, essa discussão está mais amplamente desenvolvida nos roteiros", acredita ela.
A produção foi inteiramente filmada em São Paulo. Já o processo de seleção dos candidatos foi gravado no estádio do Itaquerão.
MERCADO AQUECIDO
Com a entrada da Netflix no mercado brasileiro de séries, cada vez mais em expansão, a atriz não acha que a plataforma possa ameaçar a tevê.
"Ameaça é uma palavra muito forte. Quanto mais séries brasileiras, mais produções nacionais, melhor! A televisão também se beneficia com isso direta e indiretamente. O audiovisual está mudando por conta das novas tecnologias, mas isso não tira o espaço da tevê, principalmente no Brasil", analisa.