contemporaneidade

Uma nova onda musical udigrudi e psicodélica no Recife

Anjo Gabriel Semente de Vulcão e Tagore trazem em seu som marcas da psicodelia pernambucana dos anos 70

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 02/02/2014 às 7:30
Foto: Pedro Matallo/Divulgação
Anjo Gabriel Semente de Vulcão e Tagore trazem em seu som marcas da psicodelia pernambucana dos anos 70 - FOTO: Foto: Pedro Matallo/Divulgação
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Toda viagem, assim como toda ideia, tem um ponto de partida. Um sentimento, uma sensação, uma necessidade ou até uma obrigação formam geralmente o pontapé inicial de ações não só espontâneas, mas também desejadas. Assim foi com a psicodelia artística dos anos 1970 e voltou a ser ultimamente com novas bandas pernambucanas que se inspiram no movimento udigrúdi que ocorreu há 40 anos para produzir música contemporânea.

Em sua própria origem grega semântica, psicodelia é a junção da psiké (alma) e delos (manifestação). Uma maneira de expressar de forma fora dos padrões sociais da normalidade as inquietações sentidas. Dentre os artistas locais que optaram por essa forma de arte está a banda Anjo Gabriel. A viagem deles não levou o quarteto formado por Chris Rás (guitarra e percussão), André Sette (teclados e flauta), Shanti (baixo e percussão) e Ch Malves (bateria e percussão) ainda para nenhum destino físico; ela é figurada e foi posta em prática num álbum, lançado em LP em setembro de 2013 e, na semana passada, em CD: Lucifer rising.

Semente de Vulcão, Tagore e Feiticeiro Julião são outros artistas locais que bebem da fonte da loucura coletiva e dos desejos dos anos 1970, não apenas nos Estados Unidos dos festivais, da paz e do amor livre, do LSD e da maconha, entre outras drogas, nem só aquela relacionada aos riffs e solos inspirados e contagiantes de Jimi Hendrix, Pink Floyd ou Beatles. Artistas brasileiros que marcaram a época, como Mutantes, Raul Seixas, Ronnie Von e, principalmente, o udigrúdi pernambucano influenciaram os grupos. Tanto Anjo Gabriel, Semente de Vulcão e Tagore têm Ave Sangria, Lula Côrtes e Alceu Valença como suas grandes influências.

Lucifer rising é o nome do segundo disco da banda Anjo Gabriel. Homônimo ao filme de Kenneth Anger, de 1972, mas lançado apenas em 1981, suas faixas foram inicialmente compostas para a mostra Play the Movie (que integra a programação do Festival No Ar Coquetel Molotov), de 2010. A trilha sonora original de Bobby Beausoleil, após o diretor brigar com Jimmy Page, que deveria compor para o filme. “Os dois [Kenneth e Jimmy] tiveram meio que uma briga religiosa. Eles eram ocultistas, seguidores de Aleister Crowley”, conta o baixista da banda, Marco.

“O significado histórico e estético dos anos 70 e do filme nos atrai muito”, ressalta o guitarrista Chris. “Mas não queremos ser pastiches e mofados, repetindo riffs do Jimi Hendrix nas nossas músicas. Nós usamos essas referências para criar o novo.”

Entre a composição da faixas e o lançamento do disco passaram-se três anos. Por que a demora já que tudo estava pronto? “As músicas foram amadurecendo. A gente inseriu algumas partes nos shows porque na verdade nem pensávamos em transformar em disco. Tanto que nesse meio tempo lançamos outro álbum”, explica Marco.

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