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Nação Zumbi para ouvir bem alto e assobiar

Banda pernambucana lança o primeiro disco em sete anos, investindo forte nas letras, harmonias e melodias

Marcelo Pereira
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Marcelo Pereira
Publicado em 06/05/2014 às 8:54
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Banda pernambucana lança o primeiro disco em sete anos, investindo forte nas letras, harmonias e melodias - FOTO: NE10
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Nação Zumbi é um disco de afirmação, positivo, solar, vibrante e profundo, reflexo da maturidade de uma banda que tem completo domínio sobre sua carreira. Sem dar ouvidos a disse-me-disse e sem medo de perder o timing, como se pudesse dominar o tempo – tema sempre presente em suas músicas e marcante nesse novo trabalho – Nação Zumbi voltou à estrada justamente no ano que comemora os 20 anos da estreia fonográfica com Da lama ao caos, álbum definitivo na música pop brasileira. 

“Voltamos com todo o gás”, avisa, por telefone, o vocalista Jorge du Peixe, em maratona para divulgação do disco, que começou a ser vendido na internet ontem e chega fisicamente às lojas no fim de semana. “Desde o início estava definido que o momento do lançamento seria esse, no primeiro semestre de 2014”, afirma. 

O disco-totem será lembrado nos shows, sem que para isso a banda fique refém da efeméride. “Da lama ao caos é um disco que estava a frente do seu tempo e ainda é muito atual”, diz Du Peixe. “Não estamos renegando passado. Não é isso. Já fizemos os shows dos dez anos e os 15 anos. Achamos meio over fazer agora. Tocamos sempre músicas do disco nos shows”, justifica o guitarrista Lúcio Maia.

É do caderno de anotações onde Du Peixe registra títulos, refrões, versos, rimas e ideias que saíram as letras das 11 músicas que compõe o novo disco Nação Zumbi. “Começamos elaborar o repertório em 2010, no estúdio na casa de Lúcio moldando as bases, escolhendo os temas e refrões. Depois fomos para o estúdio e fechamos o disco em 2012. De lá para cá, mexi em algumas letras, melhorei a voz em uma ou outra música”, diz Du Peixe. 

A participação da cantora Marisa Monte, por exemplo, não estava prevista. “Eu sempre admirei a voz de Marisa Monte, o jeito com que ela projeta seus trabalhos. Temos uma amizade antiga, mas o convite só foi feito no final da turnê dela. Apareceu uma oportunidade. Pupillo já tinha falado para ela que eu estava querendo mostrar uma ciranda – A melhor hora da praia. Ela falou que adorava ciranda e que amava Lia de Itamaracá, então topou na hora participar”, diz Du Peixe.

“Foi uma participação supernatural. A gente conhece Marisa desde a época que estávamos gravando Da lama ao caos e ela queria gravar com a gente”, lembra Lúcio, que gravou o disco O que você quer saber de verdade e participou de toda a turnê Verdade uma ilusão, com o baixista Alexandre Dengue e o baterista Pupillo.

“Eu vejo os discos da Nação Zumbi como um álbum de família. É uma sequência de retratos da vida. Tem alguns traços antigos, mas vê que tudo modificou com o tempo”, diz Lúcio. “Algumas letras refletem o momento difícil que Jorge passava na vida pessoal”, comenta, sem entrar em detalhes. “Cinema, quadrinhos, literatura, os amigos, as nossas experiências tudo acaba entrando nas músicas. Vamos revisitando ideias, acrescentando o que aprendemos”, explica Du Peixe.

Para o vocalista, Nação Zumbi “é um disco mais assobiável, mas é um disco para ouvir alto”. Lúcio Maia concorda: “Trabalhamos sem a pressão dos outros discos, podemos aprofundar mais na melodia e na harmonia”.

A primeira faixa lançada, Cicatriz, reflete esse momento de Du Peixe, numa melodia com a influência da surf music, do iê-iê-iê e da música brega. Um sonho fala de um sonho dentro de outro, com uma pegada romântica que aparece também em Foi de amor, na ciranda A melhor hora da praia e Novas auroras, com saudades do que nem foi e sua levada envolvente pelos timbre de Lúcio. Já Nunca te vi lembra Jorge Ben. A violência urbana está presente em canções viscerais como Bala perdida, Cuidado e Pegando fogo. “Nação Zumbi é como se fosse um complemento de Fome de tudo”, sintetiza Du Peixe. 

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