Para conceber as músicas de seu novo disco, a Kalouv fechou-se em um pequeno sítio em Carpina, interior do Estado. Um dia, ouviram o caseiro chamando um cachorro de nome peculiar: Elã. “A gente ficou com o nome na cabeça, achou engraçado um cachorro com esse nome. Aí comecei a olhar o significado – movimento expansivo, espontâneo; vivacidade”, conta o guitarrista Túlio.
Elã acabou virando o título do álbum que a banda recifense lança hoje nas plataformas digitais e apresenta show no festival Coquetel Molotov, neste sábado (21/10), no Caxagá Golf & Country Club – quando a Kalouv terá a participação de Benke Ferraz (guitarrista do Boogarins) para tocar Cuerdo, música da banda de Goiás.
Terceiro álbum da banda recifense (há ainda dois EPs), o trabalho demonstra o amadurecimento e consolidação da proposta musical do coletivo. Túlio conta que o disco foi feito num momento de muita união entre os integrantes, que também passaram a ter em comum referências da música pop.
“Fomos encontrando pontos em comum, coisas mais simples como M83, Warpaint, Alt-J, Radiohead. São músicas que estamos ouvindo no carro em turnê”, afirma.
A partir desta união e proximidade, estreitada por um convívio quase diário, a Kalouv passou por uma transição. Em vez de músicas longas e com vários arranjos, Elã destaca uma banda coesa e mais objetiva – uma questão que foi levada em conta pelo grupo em seus ensaios no sítio.
“As músicas muito longas acabavam tirando a atenção e a ligação com as pessoas. Menos é mais. Acho que isso vale pra quase tudo na vida. Em música, se fala sobre isso e faz sentido total”, observa o músico. “A gente tinha cinco músicas novas que já estávamos tocando nos shows. Pegamos elas e pensamos: o que essa música quer dizer? A ideia era sintetizar a mensagem que a gente queria passar. Parar de gritar todo mundo ao mesmo tempo, que era uma crítica que muitos produtores faziam – e indicavam valorizar uma melodia, uma harmonia e ficar ali. Pedra Bruta e O Escultor, por exemplo, eram uma faixa só”.
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ESSÊNCIA
A inquietação por criar uma comunicação mais direta e evidenciar a mensagem das músicas levou a Kalouv a fazer algumas mudanças. A mais notável, de cara, é a introdução de vocalizações. A voz não é usada apenas para cantar letras, mas como um instrumento. Roberto Kramer (que mixou e masterizou os últimos discos da banda) inseriu vocais processados por vocoder em Hotline Miami. Sofia Freire, por sua vez, participou das faixas Pedra Bruta e Elã.
“Gostamos muito do trabalho solo dela, das vocalizações em camadas. Achamos fantástico e outras bandas fazem muito isso, tipo Baleia. E ela acabou fazendo uma coisa muito surpreendente”, elogia Tulio.
Entretanto, o Elã não é uma virada de rumo. Ao contrário, é uma maturação da banda enquanto coletivo e de suas diferentes influências (do peso de Depois do Escuro ao onirismo eletrônico de Hotline Miami), construindo paisagens fantasiosas que transitam do clima brejeiro da fazenda de Carpina ao universo dos games e quadrinhos. Como diria o artista plástico Francisco Brennand, Kalouv muda para permanecer essencialmente a mesma.