Dança

Maria Eugênia Tita apresenta 'Solo do Pé' no Recife

Montagem fecha o Janeiro de Grandes Espetáculos, domingo (2)

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 02/02/2020 às 11:16
Marcelo Macaue/Divulgação
Montagem fecha o Janeiro de Grandes Espetáculos, domingo (2) - FOTO: Marcelo Macaue/Divulgação
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A bailarina e pesquisadora Maria Eugênia Tita está na estrada – literalmente – desde setembro de 2019. Instigada a circular pelo País com seu trabalho, a despeito da situação complicada das políticas públicas de cultura, ela juntou os elementos cênicos do espetáculo Planta do Pé e, sozinha, na cara e na coragem, tem se apresentado em várias cidades. Domingo (2), ela estaciona no Recife para apresentar o trabalho no Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h, no último dia do 26º Janeiro de Grandes Espetáculos.

“Sinto que foi uma alternativa necessária porque em São Paulo, onde moro, estava com muita dificuldade de entrar nos editais, de conseguir financiamento porque houve um afunilamento das possibilidades e esses meios ficaram muito sobrecarregados. Pensei no que poderia fazer neste momento, quais as possibilidades para viver da dança”, conta Maria Eugênia. “O que percebi é que precisava tentar descentralizar as ações e chegar em lugares que muitas vezes não podem receber os artistas porque não têm verba para custear o transporte da gente.”

Desde que iniciou a turnê, em Santa Catarina, ela já passou por Minas Gerais, Bahia e Pernambuco – no início do mês, se apresentou na Festa do Louro, em São José do Egito, no Sertão do Pajeú. Ao todo, já foram 32 cidades e, em cada uma delas,

Maria Eugênia conta com parcerias para viabilizar as ações, que já foram realizadas tanto em espaços cênicos tradicionais como em áreas alternativas, a exemplo de quadras e salões.
“Aos poucos, tive que me desapegar da questão técnica. Afinal, são lugares que eu nunca chegaria se não fosse por esse projeto.

Tenho feito essa circulação sozinha e muitos agendamentos de apresentações eu consigo fazer com antecedência, mas outros, não. O que me leva à questão da solidariedade: tenho contado muito com anjos da guarda, mobilizadores culturais que me ajudam em cada parada. São pessoas que entendem a importância da ação e da circulação da criação artística”, enfatiza.

REFERÊNCIAS

Em seu trabalho, Maria Eugênia, que é filha dos artistas Antônio Nóbrega e Rosane Almeida, incorpora elementos da cultura popular, como caboclinho, maracatu e cavalo marinhos, associados à dança contemporânea. Desde a infância, ela circulava com os pais pelo interior de Pernambuco para acompanhar esses grupos.

“Tem sido um momento, para mim, de retribuir tudo que aprendi com a cultura popular, essencial no meu trabalho e na minha formação. Foi das populações socialmente marginalizadas que aprendi tudo que sei”, conta. “Tento mostrar às pessoas como esse vocabulário da dança popular me possibilitou uma criação contemporânea. Absorvi muito das relações dos brincantes com essas danças, suas particularidades, seu jeito de ver a vida. Tentei traduzir à minha maneira, que seria o mais fiel, a partir da minha história e do meu corpo, que passou também por outras técnicas.”

Em Planta do Pé, a figura do brincante aparece de forma direta, remontando um pouco a história de sua família, e depois de forma mais poética. Neste momento, Maria Eugênia apresenta a fusão de suas várias referências ao longo da carreira.

O espetáculo, inclusive, surgiu a partir de uma residência no Festival Internacional de Dança do Recife, em 2014. A obra que retorna à capital pernambucana se mantém a mesma na essência, mas com várias modificações naturais diante dos processos de aprendizado e vivências da bailarina e coreógrafa. Para a artista, essa apresentação é o fechamento de um ciclo.

“Quando me apresento no Recife, me sinto acolhida, em casa. As pessoas da cidade me veem dançar desde pequenininha nos espetáculos do meu pai. Há uma ligação forte”, celebra.

Após a circulação intensa por essas cidades brasileiras, Maria Eugênia diz estar pronta para se lançar em uma nova etapa de sua trajetória artística. O processo de criação do novo solo incluirá uma residência na Fazenda Carnaúba, que pertenceu a Ariano Suassuna, localizada em Taperoá (PB).

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