Um trecho confuso do discurso de Dilma no Senado, viralizado nas redes sociais nesta segunda-feira, tem a ver com o papel da Petrobras na exploração do pré-sal. Ao tentar explicar com porcentagens a exigência de 30% de investimento da Petrobras no pré-sal, Dilma não conseguiu ser clara suficiente e virou alvo de piadas. Na verdade, Dilma confundiu o custo da participação com a distribuição dos recursos quando o pré-sal tiver receita.
A questão é que o governo Dilma aprovou uma lei para preservar o caráter nacionalista do pré-sal. Em vez de permitir que qualquer empresa do mundo explore totalmente alguma jazida do pré-sal, a lei determina que a Petrobras participe - sempre - com no mínimo de 30% de qualquer exploração.
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Ocorre que a Petrobras, como sabemos, está com o caixa ruim. Além da questão da corrupção, também amarga perdas decorrentes da queda no preço do petróleo. Portanto, muitos alegam que esta participação obrigatória de 30%, em vez de ser bom, vai ser prejudicial para uma empresa que está com poucos recursos.
Em fevereiro, a própria Dilma cogitou liberar a Petrobras desta obrigação. O projeto de lei proposto por José Serra no Senado foi aprovado e foi remetida à Câmara dos Deputados em fevereiro deste ano.
No depoimento ontem, Dilma se enrolou porque não explicou claramente que uma possível participação de 30% não seria, necessariamente, tão difícil para a empresa. Em outras oportunidades, perguntada sobre isso, ela já argumentou com mais clareza: se a Petrobras tem experiência em águas profundas, o custo da exploração seria menor. Logo, não seria tão custoso.
Qual o problema do discurso de ontem? Dilma confundiu o custo da participação, os tais 30% (que representam despesa), com a distribuição dos recursos quando o pré-sal der dinheiro (receita).
A lei determina que União, Estados e municípios fiquem com uma parte do bolo (70 a 75%). A Petrobras, também tem direito. Só que depois de todos estes entes receberem, a estatal ficaria, segundo ela, "com 30% dos 25%".
Ou seja: exploração de um campo de petróleo custa 100. Petrobras entraria com 30. Depois disso, anos depois, o campo lucra 1.000. Estados, municípios e União ficaram com 750. 25% ficariam com as empresas exploradoras (Shell e Petrobras, por exemplo) = 250. Mas a Petrobras não entrou com 30%? Sim, mas é 30% destes 250 que cabem às empresas exploradoras. A Petrobras teria direito a 75. "Daí 30% de 25%". Resumindo: ela misturou o custo da exploração com a distribuição dos lucros.
Outro vídeo, dessa vez de um professor de matemática, explica a confusão das porcentagens: