Colômbia

Farc e governo colombiano retomam diálogo

As negociações de Cuba ocorrem em meio à violência na Colômbia, mas desde 20 de dezembro está em vigor uma trégua unilateral declarada pelas FARC

Da AFP
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Publicado em 02/02/2015 às 18:18
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As negociações de Cuba ocorrem em meio à violência na Colômbia, mas desde 20 de dezembro está em vigor uma trégua unilateral declarada pelas FARC - FOTO: Foto: GUILLERMO LEGARIA / AFP
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A guerrilha comunista das Farc e o governo da Colômbia retomaram nesta segunda-feira as negociações de paz em Cuba, depois de um recesso no final do ano, com divergências sobre duas iniciativas do governo de Juan Manuel Santos. 

"Retomamos as negociações, na esperança de continuar a cumprir com o acordado nos termos conhecidos pelo povo da Colômbia e de todo o mundo. O respeito devido a este fundamento não pode ser desviado por fórmulas fora do processo", declarou a guerrilha em uma declaração lida à imprensa pelo comandante Joaquin Gomez. 

Para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o maior grupo guerrilheiro do país, com 8.000 combatentes, as "fórmulas fora do processo" são o chamado "quadro jurídico para a paz", uma iniciativa legal lançada por Santos em 2012 e a intenção do presidente de convocar um referendo para avalizar um eventual acordo de paz.

"É necessário dizer que, de acordo com a ordem da agenda (das negociações), tudo tem seu tempo e lugar, o que não dá espaço para falsos referendos e soluções fáceis de cunho eleitoreiro", disse Gómez, um dos líderes das Farc.

O Tribunal Constitucional da Colômbia ratificou em agosto de 2014 o "quadro legal" que permite os rebeldes participar na política depois que abandonarem as suas armas, com exceção dos principais responsáveis por crimes contra a humanidade ou genocídio.

"Vocês cometeram crimes"

A delegação do governo, liderada por Humberto de la Calle, não fez declarações à imprensa após o reinício das negociações em Havana. Mas no fim de semana, o presidente Santos defendeu o "quadro legal", afirmando que "permite flexibilidade em matéria jurídica, a fim de alcançar a paz".

"A guerrilha nos diz que seria a única a entregar as armas para ir para a cadeia e que isso não aceitará. Nós dizemos a eles que entendemos essa posição, mas que eles cometeram crimes", disse Santos. 

"Conciliar essas duas posições antagônicas é o grande desafio que temos adiante. Espero que com criatividade e vontade política vamos encontrar um ponto de equilíbrio", acrescentou o presidente em um discurso em Guapi (sudoeste da Colômbia).

As negociações de paz começaram em novembro de 2012 e, até o momento, os dois lados chegaram a um acordo sobre três dos seis pontos da agenda para acabar com um conflito de meio século, que deixou 220 mil mortos e 5,3 milhões de deslocados.

As partes discutem desde agosto a reparação às vítimas, tendo ouvido o depoimento de 60 afetados, que viajaram especialmente da Colômbia.

Este é o quarto item a ser discutido, após as questões da reforma rural (maio de 2013), participação política (novembro de 2013) e drogas ilícitas (maio de 2014).

Os temas pendentes são o processo de desarmamento e o mecanismo para referendar um possível acordo de paz. Sobre este último ponto também há divergências. Enquanto Santos propõe um referendo, a guerrilha deseja uma assembleia constituinte.

As negociações de Cuba ocorrem em meio à violência na Colômbia, mas desde 20 de dezembro está em vigor uma trégua unilateral declarada pelas FARC.

Em 10 de fevereiro as partes vão receber o informe da "Comissão Histórica do Conflito" e no dia 11 vão escutar os testemunhos de uma delegação de mulheres colombianas.

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