Política

Morre Manuel Contreras, temido chefe da polícia de Pinochet

Militar, considerado um dos maiores criminosos da história do Chile, sofria de câncer e diabetes e teve seu estado de saúde agravado nos últimos dias

Da AFP
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Publicado em 08/08/2015 às 8:10
Foto: MARTIN BERNETTI / AFP
Militar, considerado um dos maiores criminosos da história do Chile, sofria de câncer e diabetes e teve seu estado de saúde agravado nos últimos dias - FOTO: Foto: MARTIN BERNETTI / AFP
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Manuel Contreras, general do Exército chileno e diretor da temida polícia política da ditadura de Augusto Pinochet, morreu na noite desta sexta-feira, aos 86 anos, em um hospital de Santiago, informou à AFP uma fonte oficial.

Contreras, condenado a mais de 500 anos de prisão por múltiplos casos de tortura, desaparecimento e sequestro de opositores, "faleceu por volta das 22H30 local", no Hospital Militar de Santiago. O militar, considerado um dos maiores criminosos da história do Chile, sofria de câncer e diabetes e teve seu estado de saúde agravado nos últimos dias.

"Era um dos homens mais desprezíveis do Chile (...), matou muita gente", disse na Televisão Nacional o advogado dos direitos humanos Roberto Garretón. Após a divulgação da notícia, dezenas de pessoas foram até a entrada do Hospital Militar, no leste de Santiago, para "celebrar" a morte do general.

Com bandeiras e bumbos, como ocorreu após a morte de Pinochet, em dezembro de 2006, os manifestantes gritavam "assassino, assassino" na entrada do hospital. Dezenas de pessoas - também com bandeiras chilenas - se reuniram na Praça Itália, no centro de Santiago, para celebrar a morte do general.

Considerado a "mão direita" de Pinochet - seu professor na Academia de Guerra e com quem tomava café da manhã nos primeiros anos do regime - Contreras dirigiu a temida Direção Nacional de Inteligência (DINA), a polícia política que vitimou mais de 3.200 opositores, entre mortos e desaparecidos, durante a ditadura (1973-1990).

Contreras foi preso em 2005, pelo sequestro de um jovem opositor. A partir de então, acumulou múltiplas condenações, que lhe valeram o título de um dos maiores criminosos chilenos de todos os tempos.

“Nunca torturamos ninguém (...). Nos quartéis (da DINA) os detidos ficavam por cinco dias para interrogatório com métodos normais", disse Contreras em uma entrevista na prisão em setembro de 2013, na véspera do 40º aniversário do Golpe de Estado que instalou a ditadura de Pinochet.

"Todos os mortos pela DINA foram abatidos em combate. Não dei ordens para fazer desaparecer ninguém”, afirmou o general.

A DINA, uma espécie de Gestapo chilena, chegou a ter 60 mil membros entre agentes, informantes e homens no exterior. A organização dispunha de prisões secretas, mantinha os presos por tempo indeterminado, só prestava contas a Pinochet e atuava dentro e fora do país, inclusive para eliminar dissidentes exilados.

Para formar a DINA, Contreras colocou em prática todos os seus conhecimentos de luta  anti-subversiva aprendidos na Escola das Américas, a questionada instituição de doutrinamento militar criada pelos Estados Unidos, na qual foi um dos alunos mais destacados.

Contreras também foi um dos idealizadores da chamada "Operação Condor", o plano coordenado de extermínio de opositores estabelecido pelas ditaduras do Cone Sul na década de 70.

O general foi condenado pelo assassinato do ex-chanceler chileno Orlando Letelier, em um atentado com explosivos em Washington, no dia 21 de setembro de 1976, e pela morte do ex-comandante do Exército chileno Carlos Prats e sua esposa, ocorrida na Argentina em 1974, também com uma bomba, no automóvel do casal.

Pinochet retirou Contreras da DINA em 1977, quando os Estados Unidos comprovaram que a morte de Letelier foi ordenada pela instituição.

A extradição de Contreras para os Estados Unidos foi negada pela Corte Suprema do Chile, e o general cumpriu sete anos de prisão no país, até janeiro de 2001. Ficou quatro anos em liberdade e foi preso novamente, em 2005.

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