Ditadura

Assassinato do jornalista Vladimir Herzog completa 40 anos

Morte mobilizou população contra a ditadura e acelerou processo de retorno à democracia

Mariana Mesquita
Cadastrado por
Mariana Mesquita
Publicado em 25/10/2015 às 0:07
Foto: TV Cultura/Divulgação
Morte mobilizou população contra a ditadura e acelerou processo de retorno à democracia - FOTO: Foto: TV Cultura/Divulgação
Leitura:

Há 40 anos, surgia um dos símbolos mais fortes da luta pela restauração da democracia no Brasil. Em 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi torturado até a morte no quartel-general do II Exército, em São Paulo. Ao contrário de outras vítimas da ditadura, cujas mortes foram “maquiadas” pelos agentes militares, a tese do “suicídio” de Vladimir não funcionou. Casado, com dois filhos pequenos e trabalhando como diretor da estatal TV Cultura, Herzog não tinha motivos para se matar e havia se apresentado voluntariamente para “prestar esclarecimentos” à polícia, na manhã daquele dia. 

A morte de Vladimir Herzog culminou uma trágica história pessoal: judeu, o pequeno Vlado migrou com os pais da Iugoslávia, fugindo do nazismo, mas teve os quatro avós assassinados em campos de concentração. Ele foi mais um entre os vários jornalistas presos e mortos pela ditadura militar brasileira, como conta o então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Audálio Dantas, autor de um livro sobre Herzog. “Naquele mês, houve uma série de prisões comandadas pela ultra-direita, que acreditava que havia uma ‘infiltração comunista’ dentro da imprensa”, relembra. Foram doze detidos, entre eles Paulo Markun, chefe de reportagem na TV Cultura e futuro autor de dois livros sobre o amigo. “Vlado entrou para a história do Brasil sem querer. A reação à morte dele ultrapassou os limites da Censura e mobilizou políticos, estudantes, a Igreja e a própria imprensa, que em outros crimes brutais não havia dado uma só linha”, avalia Markun.

A indignação levou oito mil pessoas à Catedral da Sé, onde dom Paulo Evaristo Arns, o pastor James Wright e o rabino Henry Sobel celebraram, no dia 31 de outubro, um culto ecumênico que se tornou a maior manifestação de massa ocorrida no Brasil desde o AI-5, sedimentando o caminho para protestos de rua e o movimento Diretas Já, quase uma década depois. “Vladimir foi um símbolo determinante para a abertura política”, diz Audálio Dantas. 

Transformada também em símbolo por Aldir Blanc e João Bosco, autores da música "O bêbado e o equilibrista", que se converteu num verdadeiro hino à liberdade durante a luta pela anistia política, a valente Clarice Herzog conseguiu, em 1978, que a Justiça responsabilizasse o governo pela morte do marido.

Hoje, na praça da Sé, um novo culto pela paz será realizado em  memória de Vladimir Herzog, com uma performance musical que contará com cerca de 800 cantores e 30 corais. Leia mais aqui sobre a homenagem.

Últimas notícias