OCUPAÇÃO PROFISSIONAL

Como a pandemia e o desemprego incentivaram empreendedores a iniciar seus próprios negócios

Segundo a PNAD Contínua, a taxa oficial de desemprego no Brasil subiu para 12,9% no trimestre encerrado em maio, atingindo 12,7 milhões de pessoas

Felippe Pessoa
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Felippe Pessoa
Publicado em 20/07/2020 às 6:00
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Após 12 anos trabalhando na área de marketing, a publicitária Catarina Maciel decidiu sair do emprego para empreender e tirar do papel um projeto antigo, montar uma cafeteria - FOTO: DIVULGAÇÃO

Desde o início de março, quando a pandemia do coronavírus começou sua escalada de crescimento, a economia tornou-se uma preocupação mundial. No Brasil, não foi diferente e as consequências na queda do PIB e na ocupação profissional viraram pauta do governo, do empresariado e dos trabalhadores. E com razão.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua), divulgada no final de junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa oficial de desemprego no Brasil subiu para 12,9% no trimestre encerrado em maio, atingindo 12,7 milhões de pessoas, com um fechamento de 7,8 milhões de postos de trabalho em relação ao trimestre anterior. Segundo a pesquisa, esse número só não foi maior porque a pandemia deixou muitos trabalhadores em compasso de espera, sem procurar emprego ativamente.

E o desemprego gerou um fenômeno: mais brasileiros decidiram tirar o próprio negócio do papel. Em abril, o país atingiu a marca de 10 milhões de microempreendedores individuais (MEIs), com uma taxa de crescimento de 7% só nos meses de março e abril, segundo o Portal do Empreendedor. Com as incertezas do mercado e a economia em queda livre, não tinha como ficar parado. Empreender foi uma alternativa necessária para alguns e o incentivo ideal para os que ainda tinham receio de largar o emprego fixo para arriscar na abertura da própria empresa.

Mas empreender é um dos maiores sonhos dos brasileiros e não é de hoje. Segundo o relatório anual do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgado em 2020 com dados de 2019 e realizado no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), empreender ocupa o quarto lugar na lista de desejos, atrás apenas de comprar um carro, viajar pelo Brasil e ter a casa própria. E, com os efeitos da pandemia, que atingiram em cheio os pequenos negócios e tiraram o trabalho de milhares de brasileiros, uma nova geração de empreendedores está surgindo.

A pesquisa também mostrou que dos 55 países analisados, o Brasil está entre os dez primeiros onde a falta de emprego é mais levada em conta para abrir um negócio. Para Roberto Guerra, professor do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE com experiência em disciplinas de Empreendedorismo e Marketing, muitos profissionais devem optar pelo empreendedorismo porque o mercado de trabalho não vai voltar completamente aos padrões que conhecíamos e empreender vai ser uma possível saída para 2021 e, talvez, para os anos seguintes.

“Frente às incertezas que estamos enfrentando, é comum que haja uma migração do trabalho formal com carteira assinada para a criação de micro negócios. Esse movimento já vinha sendo observado mesmo antes da pandemia como um processo corrente em alguns setores produtivos. A reação do mercado formal de trabalho visando a oferta de vagas em patamares anteriores é quase nula. Dessa forma, o empreendedorismo é a primeira alternativa para não ficar parado e continuar tendo renda. Essa mudança afeta todos os setores. Do empreendedorismo por necessidade até aquele por oportunidade, utilizando os termos encontrados na literatura. Esse cenário demanda uma mudança de mentalidade em estudantes de todos os níveis, da graduação ao doutorado, no sentido de reconduzirem sua formação para um viés mais empreendedor. Esse é um grande desafio atualmente na Universidade”, ponderou Roberto.

“Existe um ditado popular bem conhecido, que se encaixa perfeitamente no cenário atual: em toda crise existe uma oportunidade. Às vezes difícil de enxergar, mas ela existe”. A frase é da publicitária Catarina Maciel, que confiou no seu talento e decidiu seguir sua intuição. Após 12 anos trabalhando na área de marketing de uma multinacional de bens de consumo, no final de 2019, Catarina decidiu sair do emprego para empreender e tirar do papel um projeto antigo, montar uma cafeteria. Os preparativos estavam a todo vapor; negociando ponto, fechando contratos com fornecedores e elaborando o cardápio, quando a pandemia começou. “Foi um balde de água fria. Estava animada com o projeto saindo do papel, quando precisei parar tudo, pelo menos por enquanto”, lamentou.

Diante disso, Catarina resolveu se capacitar e buscar alternativas de renda até a turbulência passar. Foi então que decidiu recomeçar, profissionalizando uma de suas grandes paixões: fazer bolos. Com uma visão mais profissional, nasceu a Cata Cake, uma marca de bolos artesanais, que tem o mesmo propósito da dona: levar um gesto de carinho, de atenção e gratidão, tornando um simples momento em uma memória afetiva. “Tenho trabalhado bastante e o negócio está se profissionalizando. O momento é de investir na identidade visual, na estratégia de marca e em novos produtos para criar um negócio rentável e sustentável”, disse animada.


Quem já tem seu próprio negócio, busca sobreviver. Segundo pesquisa recente realizada pela consultoria de recrutamento e seleção de profissionais, Audens, o maior índice de demissão aconteceu nas empresas de pequeno porte, com faturamento de até R$ 30 milhões por ano; 51% delas precisaram desligar profissionais, especialmente nas áreas operacionais. O varejo foi o que mais sofreu; 14% das empresas que desligaram eram do setor.

A pesquisa também apontou que 72% das empresas pesquisadas acreditam que a retomada das contratações será lenta. Esse é um dado relevante e que mostra que os empreendedores podem estar no caminho certo. O momento é difícil, requer calma e planejamento, mas empreender pode ser a melhor alternativa. Pesquise, estude, entenda as necessidades do seu mercado e seja coerente. Com dedicação e pensamento positivo seu negócio tem tudo para ser um sucesso.

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