Cena Política

Briga de escola com rede de fast-food é busca por seguidores. É marketing misturado com religião

O "fale mal, mas fale de mim", que tem até música antiga sobre o tema, nunca foi tão utilizado quanto agora. A ideia é ganhar seguidores e atrair público específico.

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Igor Maciel

Publicado em 29/06/2021 às 10:37 | Atualizado em 29/06/2021 às 11:25
Análise
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A postagem em que uma escola de Pernambuco atacou uma campanha publicitária de uma rede de fast-food recebeu mais de 30 mil comentários. 

A maior parte dos comentários rejeita a escola, que criticou a publicidade da lanchonete por fazer uma postagem em alusão ao dia do Orgulho LGBTQIA+.

Se isso preocupa a instituição que promoveu os ataques?

Nem um pouco.

Foram mais de 24 mil curtidas no mesmo post.

O "fale mal, mas fale de mim", que é título de música antiga (veja no fim do texto), nunca foi tão utilizado quanto agora. A ideia é ganhar seguidores e atrair público específico.

A lógica é simples e usa a mídia gratuita que se origina da polêmica para faturar.

A escola sempre foi evangélica e as postagens anteriores da instituição já chamam atenção por isso.

Há "alertas" sobre os perigos da "escola secular", por exemplo. Eles fazem "treinamento de pais cristãos" para se protegerem das "setas inflamadas dos inimigos".

O que mudou foi a inserção de uma empresa de penetração mundial na história. Rapidamente, todos os meios de comunicação, inclusive tradicionais, correram pra repercutir.

Ruim para a escola? Não. Foi a melhor propaganda direcionada que eles podiam fazer.

E gratuita.

Houve muitas críticas. Mas, quem criticou a postagem, dificilmente colocaria o filho para estudar lá.

Para a escola, o pensamento é: ninguém perde o que nunca teve.

Não importa se estão sendo criticados por essas pessoas. A crítica gera polêmica e a polêmica colocou a instituição em evidência para o público evangélico que vai gerar matrículas no futuro próximo.

Essa lógica tem sido muito utilizada na política. Percebeu-se tarde, por exemplo, que o movimento #EleNão, em 2018, ajudou muito a eleger Bolsonaro.

As pessoas que foram às ruas já não votariam nele, e o perfil à esquerda, dos que foram protestar, reforçou o voto da direita e de conservadores, inclusive evangélicos, no atual presidente.

Empresas e também (sub)celebridades estão fazendo isso cada vez mais nas redes sociais. A estratégia é a mesma: criar polêmica com qualquer assunto e aproveitar a doença social da atualidade, em que todo mundo quer algo pra concordar ou discordar.

Fatura-se com isso.

Na primeira metade do século passado, a cantora Aracy de Almeida gravou uma música cuja letra, de Ataulfo Alves, explicava a estratégia:

"Fale mal
Mas fale de mim
Não faz mal
Quero mesmo assim
Você faz cartaz pra mim
O despeito seu
Me põe no apogeu"

A fórmula, portanto, é antiga.


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