O Distritão pode acabar com partidos, diminuir a representatividade e pavimentar um golpe parlamentar
Tendência é que haja grande renovação com o novo sistema e essa renovação seria de péssima qualidade. Partidos seriam enfraquecidos e candidatos iriam depender apenas de eleitores apaixonados (e cegos) para seguirem na Câmara. Mas pode ficar ainda pior se, depois, o semipresidencialismo for aprovado.
Quem defende o Distritão, fala em fazer "justiça à maioria dos votos".
É uma falácia.
A maior parte dos votos é descartada e se perde na eleição, sem ter nenhuma influência, já que nem elege, nem ajuda a eleger ninguém.
>>> Como funciona o Distritão?
Em 2018, por exemplo, 70% dos votos válidos teria servido para nada, caso o sistema estivesse em vigor.
Porque se você votou em um candidato que não se elegeu, aquele voto não serviu para nada, e pronto.
No sistema proporcional, o atual, o eleitor quase sempre acaba tendo o voto válido para alguém.
Em Pernambuco, por exemplo, quem votou em qualquer candidato do PHS em 2018, mesmo que não tenha visto seu escolhido ser eleito, ajudou a eleger Fernando Rodolfo, que se elegeu pelo partido usando os votos da "cauda".
Quem votou em João Campos (PSB), mesmo ele não precisando do seu voto, porque teve 460 mil e precisaria de muito menos para conseguir uma cadeira na Câmara, sua escolha ajudou a alçar um outro candidato do partido: Tadeu Alencar (PSB).
Outro argumento é que o Distritão amplia a representatividade. É mentira.
O candidato perde o compromisso com o partido, com a bandeira partidária e com o programa de sua agremiação. Os partidos, praticamente perdem a razão de existir nas eleições.
O candidato só responde pelos votos que conquistou e aqueles votos são suficientes para tudo o que ele quiser. O resto do mundo pode odiá-lo, sem prejuízo, desde que ele tenha os votos necessários para se eleger e reeleger.
Na prática, vai ganhar no Distritão quem tiver mais dinheiro e conquistar eleitores apaixonados. Nada melhor para provocar paixão política se não a mentira.
Essa, aliás, é a receita dos parlamentares de baixo clero, como foi Bolsonaro: xingar o mundo, enquanto sobrevive apenas dos apoiadores suficientes pra se mante por décadas no Congresso.
Não é por acaso que a mudança, do sistema proporcional para o Distritão é tão defendida por Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara.
O grupo dele, do centrão, pode sair muito fortalecido em 2022.
É um grupo que tem muito dinheiro e influência através dos cargos que consegue "apoiando" presidentes e evitando que eles sofram impeachment.
Com o Distritão, tendência é que o centrão seja bastante ampliado.
Na verdade, a mudança para o Distritão junto com a proposta de semipresidencialismo, no qual o primeiro-ministro é escolhido entre os parlamentares eleitos e forma um governo, são ideias conectadas.
Primeiro você aumenta o seu próprio apoio dentro do Congresso, elegendo políticos que entram ali através de nichos eleitorais e, depois, implanta um sistema no qual são esses deputados que decidem quem será o chefe do Executivo.
O brasileiro adora reclamar de um golpe. Tem um acontecendo bem agora, e quase ninguém está percebendo.