Cena Política

O Distritão pode acabar com partidos, diminuir a representatividade e pavimentar um golpe parlamentar

Tendência é que haja grande renovação com o novo sistema e essa renovação seria de péssima qualidade. Partidos seriam enfraquecidos e candidatos iriam depender apenas de eleitores apaixonados (e cegos) para seguirem na Câmara. Mas pode ficar ainda pior se, depois, o semipresidencialismo for aprovado.

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Igor Maciel

Publicado em 26/07/2021 às 10:45 | Atualizado em 26/07/2021 às 10:47
Análise
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Quem defende o Distritão, fala em fazer "justiça à maioria dos votos".

É uma falácia. 

A maior parte dos votos é descartada e se perde na eleição, sem ter nenhuma influência, já que nem elege, nem ajuda a eleger ninguém.

>>> Como funciona o Distritão?

Em 2018, por exemplo, 70% dos votos válidos teria servido para nada, caso o sistema estivesse em vigor.

Porque se você votou em um candidato que não se elegeu, aquele voto não serviu para nada, e pronto.

No sistema proporcional, o atual, o eleitor quase sempre acaba tendo o voto válido para alguém.

Em Pernambuco, por exemplo, quem votou em qualquer candidato do PHS em 2018, mesmo que não tenha visto seu escolhido ser eleito, ajudou a eleger Fernando Rodolfo, que se elegeu pelo partido usando os votos da "cauda".

Quem votou em João Campos (PSB), mesmo ele não precisando do seu voto, porque teve 460 mil e precisaria de muito menos para conseguir uma cadeira na Câmara, sua escolha ajudou a alçar um outro candidato do partido: Tadeu Alencar (PSB).

Outro argumento é que o Distritão amplia a representatividade. É mentira. 

O candidato perde o compromisso com o partido, com a bandeira partidária e com o programa de sua agremiação. Os partidos, praticamente perdem a razão de existir nas eleições.

O candidato só responde pelos votos que conquistou e aqueles votos são suficientes para tudo o que ele quiser. O resto do mundo pode odiá-lo, sem prejuízo, desde que ele tenha os votos necessários para se eleger e reeleger.

Na prática, vai ganhar no Distritão quem tiver mais dinheiro e conquistar eleitores apaixonados. Nada melhor para provocar paixão política se não a mentira.

Essa, aliás, é a receita dos parlamentares de baixo clero, como foi Bolsonaro: xingar o mundo, enquanto sobrevive apenas dos apoiadores suficientes pra se mante por décadas no Congresso.

Não é por acaso que a mudança, do sistema proporcional para o Distritão é tão defendida por Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara.

O grupo dele, do centrão, pode sair muito fortalecido em 2022.

É um grupo que tem muito dinheiro e influência através dos cargos que consegue "apoiando" presidentes e evitando que eles sofram impeachment.

Com o Distritão, tendência é que o centrão seja bastante ampliado.

Na verdade, a mudança para o Distritão junto com a proposta de semipresidencialismo, no qual o primeiro-ministro é escolhido entre os parlamentares eleitos e forma um governo, são ideias conectadas.

Primeiro você aumenta o seu próprio apoio dentro do Congresso, elegendo políticos que entram ali através de nichos eleitorais e, depois, implanta um sistema no qual são esses deputados que decidem quem será o chefe do Executivo.

O brasileiro adora reclamar de um golpe. Tem um acontecendo bem agora, e quase ninguém está percebendo.

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