No Brasil, é preciso ser vice para ter algum equilíbrio e governar com alguma estabilidade
A questão é que, em nosso regime, só podemos contar com a gestão de alguém equilibrado e desapegado dos amores populares para governar se ele for eleito como vice.
Na possibilidade de uma nova greve dos caminhoneiros, como a que aconteceu em 2018, eis que surge Michel Temer (MDB), na imprensa, oferecendo as soluções bem equilibradas de que tanto o Brasil precisa para a crise.
Temos algum problema com o funcionamento da democracia quando a popularidade de maus gestores é mais vantajosa eleitoralmente do que a impopularidade dos bons ou isso é um efeito colateral esperado?
Em uma entrevista antiga, em meados de 2016, o senador Humberto Costa (PT) dizia que o Brasil iria sentir falta da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Com todo respeito a opinião dele, Temer, sim, é quem faz falta.
A questão é que, em nosso regime, só podemos contar com a gestão de alguém equilibrado e desapegado dos amores populares para governar se ele for eleito como vice.
Fora Sarney (MDB), cujo desastre que foi o governo não pode ser comparado com o governo de Tancredo Neves que nunca aconteceu, todos os nossos últimos vices eram mais equilibrados que os presidentes correspondentes.
Itamar Franco, Marco Maciel (único páreo duro com o titular), José Alencar, Michel Temer (MDB) e Hamilton Mourão (PRTB) (embora ser mais equilibrado que Bolsonaro não seja nada espetacular.
Despindo-se da análise eleitoral e focando apenas no equilíbrio, na responsabilidade e no respeito às leis, imagine que todos eles tivessem sido nossos presidentes e não nossos vices. Como estaria, hoje, o Brasil?
Despir-se da necessidade de ser popular é algo que não é minimamente possível em um presidencialismo.
Nossas eleições são resultado de "ondas", de impulsos populares, quase sempre provocados por reações coletivas.
Surfar esses impulsos é a chave para vencer eleições. Uma vez eleitos, os "surfistas" ficam presos as suas próprias limitações administrativas.
O Brasil precisa parar de pensar em trocar presidentes como quem troca de sapatos, quando o problema é o jeito de andar.
Esta coluna já expressou, antes, a necessidade de uma reforma Política no país. A urgência persiste.
Enquanto não se refizer toda a estrutura política e eleitoral desse país, viveremos trocando de sapato e tropeçando a cada quatro passos.