Proposta de Bolsonaro para pagar aos estados que baixarem o ICMS dá sinais de desespero
É o tipo de solução apresentada por quem não tem solução para um problema. E mostra que alguém no Planalto acredita nas pesquisas e está preocupado.
Ao contrário do que os grupos bolsonaristas tentam propagar, afirmando que todas as pesquisas do mundo estão erradas, num exercício extenuante de fuga de dissonâncias cognitivas, o Planalto está muito preocupado com a reeleição de Bolsonaro (PL) e começa a dar sinais de desespero eleitoral.
A proposta de pagar aos estados para que eles zerem o ICMS é basicamente isto, desespero.
O centrão voltou a ameaçar pular fora do palanque se os números não melhorarem. Essas ameaças são normais, para fazer pressão por dinheiro e espaço, mas tornaram-se particularmente incisivas depois que as últimas pesquisas mostraram o presidente estacionado e Lula (PT) voltando a crescer.
O centrão acredita no Datafolha, mesmo que os bolsonaristas não acreditem. E é o que importa para a eleição.
Nas pesquisas que a equipe do atual presidente tem, a inflação é um dos motivos de ele não conseguir crescer nem entre seu próprio eleitorado. E o que mais pressiona a inflação é a gasolina e o diesel.
O Datafolha mostrou que quase 30% dos votos de Lula vem de eleitores que se dizem de direita. É um mercado para Bolsonaro onde ele não consegue entrar, porque o sentimento das pessoas é de que tudo está mais caro e está difícil de viver assim.
Quando o bolso aperta, não tem ideologia que sustente voto.
A conversa de pagar aos estados para baixar o preço do combustível não vai funcionar, os governadores não vão aceitar porque não tem lógica e não faz sentido financeiramente, como explica Fernando Castilho aqui.
Além disso, alguns estados têm a arrecadação muito dependente do ICMS. A União não tem condição de sustentar a arrecadação de São Paulo, por exemplo, se o estado abrir mão do imposto. Sem falar nos outros 25 estados e no DF.
Vai fabricar dinheiro? A matemática não bate.
Caminhoneiros estão chamando de solução “tabajara” e ameaçam paralisação.
Está virando um beco sem saída pra Bolsonaro.
Bolsonarismo como objetivo
O que o presidente tenta é, na verdade, falar com seus próprios eleitores e dizer a eles que "está tentando". Em um jardim, você pode regar as flores que estão lá e também plantar outras, novas. Bolsonaro só se ocupa em regar e não coloca a mão na terra para plantar.
Quando alguém reclama que o jardim não está legal, ele culpa o sol, a chuva, o vento (os governadores). Mas, não coloca a mão na terra.
Fica difícil.