"Vai ser um escândalo por semana". A repercussão de casos como o assédio sexual na Caixa é maior agora
Primeiro foi a prisão de um ex-ministro, agora as denúncias de assédio sexual. Período eleitoral faz as "pontas soltas" do governo ficarem evidentes. E o centrão ajuda.
“Vai ser um escândalo por semana”, provoca um parlamentar da oposição que conversou com a coluna sobre o governo Bolsonaro (PL).
Realmente, na semana passada foi o caso dos pastores e do ex-ministro Milton Ribeiro, presos.
Esta semana, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, bolsonarista convicto daqueles que emula o presidente em entrevistas, denunciado por assédio sexual e tendo que ser demitido, algo esperado.
Numa semana, cai uma máscara de honestidade e, na outra, cai uma máscara moral.
O caso dos pastores estava sendo investigado há meses, mas ocorria há mais tempo.
E os casos de assédio sexual na Caixa acontecem desde 2019.
Tudo está emergindo agora. Antes, nada era levado a sério.
Não é culpa das mulheres, vítimas nesse caso. Elas denunciam desde o início ao MPF e aos canais internos da empresa. Mas, as denúncias só explodiram agora.
Motivo
Faltam menos de 100 dias para a eleição, mas não é apenas por isso.
Um dos segredos do centrão é fingir que não é fisiológico e não apoia governos apenas por interesse em verbas e cargos (muitos na própria Caixa). Se abandonar Bolsonaro agora, os membros do grupo serão acusados de terem estado lá apenas por interesse.
É preciso ter um motivo.
E os motivos para o centrão debandar estão sendo apresentados semanalmente. Todo deputado que se beneficiou das emendas federais e defendeu Bolsonaro vai poder chegar para suas bases, caso necessite, e dizer que foi “obrigado pelos fatos a deixar de apoiá-lo”. Afinal, são muitos escândalos.
Faltam 95 dias
Agora, é verdade que antes do período eleitoral, a repercussão não acontecia. Não rendia tanto. Hoje é diferente.
Os motivos que derrubavam e não derrubavam ministros sempre foram estranhos. Aconteciam coisas imorais, como alguém dizer que precisava aproveitar uma pandemia pra “passar a boiada” na Amazônia, ninguém era demitido. Enquanto, na mesma pandemia, o ministro da Saúde dizia que as pessoas precisavam se preservar e ficar em casa. Foi mandado embora.
Agora, faltando menos de 100 dias para o pleito, a repercussão é diferente. Muita coisa só aparece nesse período.
Pelo histórico do governo Bolsonaro, se não fosse às portas de uma campanha, o presidente da Caixa, fiel ao presidente, teria que pedir demissão e enfrentar a rejeição dos próprios colegas?
Uma dica, para mostrar que não: o próprio Pedro Guimarães foi acusado de assédio moral há alguns meses, quando vazaram vídeos dele obrigando funcionários a fazerem flexões nas agências.
Ele não foi demitido na época.