O PSB construiu um mito sobre Marília Arraes e agora quer ajuda de Lula para desfazer isso. Ele embarca?
Os socialistas, por menosprezo, preservação ou desprezo, ajudaram a criar o mito de Marília Arraes. E agora não conseguem tirar votos dela.
A navalha de Occam é um princípio da Economia que defende a alternativa com o menor número de premissas possíveis como melhor opção, sempre. É também conhecida como “Lei da Parcimônia” e utilizada na medicina diagnóstica com uma representação popular: "se escutar um galope, pense em um cavalo e não em uma zebra".
A lição é para que o médico não acabe tratando para câncer alguém que só está com resfriado.
Marília é o óbvio
Na dificuldade que Danilo Cabral (PSB) tem para crescer em pesquisas, o óbvio é Marília Arraes (SD).
Existem outros fatores, é verdade, e eles influenciam. Rejeição de Paulo Câmara (PSB), cansaço com o PSB no poder desde 2006, etc.
Mas, não tem zebra. Marília Arraes é o motivo para que o PSB esteja patinando. Criou-se um ambiente que tornou o voto dela muito duro, difícil de tirar.
Esse ambiente não é algo artificial. Ele foi criado desde antes de 2018. E a culpa é o PSB.
Sim, os socialistas ajudaram porque menosprezaram ou desprezaram Marília desde o início.
O PSB ajudou quando forçou ela a ir para o PT se quisesse ser candidata a vereadora em 2016, ajudou quando manobrou o PT para impedir que ela fosse candidata ao governo em 2018, ajudou quando lutou para que ela não disputasse a prefeitura do Recife em 2020 e, depois, quando a atacou fortemente no segundo turno da eleição.
Sobre esse período, cabe lembrar o que se ouvia sempre quando alguém se referia a ela: "se não fosse o PSB, estava eleita governadora". Talvez nem estivesse, mas criou-se essa ideia.
Os socialistas ajudaram de novo quando usaram o PT para outra vez tentar impedir que ela fosse candidata ao governo este ano. Ao ponto de ela ter que mudar de partido novamente.
Heróis oprimidos
Marília começou a ser vista como “oprimida” e “perseguida”. Existe um charme popular sobre quem é visto como perseguido, fruto de uma cultura que transforma em "mito" figuras como Miguel Arraes.
Sim, Arraes é o avô dela, que sempre teve seu exílio tratado pelo PSB como uma perseguição (verdade), uma opressão (verdade).
Mas, era como se isso fizesse dele, automaticamente, um “herói” (controverso) e um "grande governador" (nunca foi verdade).
O PSB fortaleceu Marília em todas as vezes nas quais usou o mito do ex-governador Miguel Arraes como muleta.
Nas menções ao sangue da família “correndo pelas veias” entre Eduardo Campos, Arraes e João Campos em 2020, os socialistas também ajudaram Marília, a de hoje, a consolidar votos.
Oposição
Para o restante da oposição, também, tornou-se uma questão difícil. Pergunte a alguém quem é a oposição em Pernambuco e você vai ouvir "Marília". Talvez escute falar em Anderson Ferreira (PL), mas não vai ouvir sobre Miguel Coelho (UB), nem Raquel Lyra (PSDB) prioritariamente.
Danilo
Agora, o PSB quer tirar os votos dela e transferir para Danilo. Como?
Ele não foi “perseguido”, ele não é “oprimido”, ele não tem sangue Arraes, nem Campos. Ele não é um herói aos moldes forjados pelo próprio PSB nos anos anteriores. Os socialistas lançaram requisitos, nos últimos anos, para ter sucesso em Pernambuco, que o atual candidato não alcança.
Marília, sim.
Agora, Lula vai resolver tudo quando vier? Será? Convenhamos, se o PSB transformou Marília, também de esquerda e lulista, em forte concorrente e a ajudou a alcançar 30% dos votos, o líder petista vai se dar ao luxo de brigar com ela e rachar seus votos locais para ajudar o PSB, ou vai insistir em dois palanques para se fortalecer?
Pesquisa
Nesta terça-feira (11), o Blog de Jamildo divulga aqui no JC mais uma rodada da pesquisa Conectar. A expectativa, vai aumentando. O drama dos socialistas alivia ou fica mais agudo?