O ponto positivo de Danilo e o problema do PSB que ele é obrigado a carregar nessa eleição
O candidato socialista foi o primeiro entrevistado na sabatina da Rádio Jornal, nesta segunda-feira (08)
Ser o primeiro a ser entrevistado numa sabatina não ajuda, porque você nem tem a oportunidade de assistir seus adversários antes para saber como se portar.
Mas, isso dificilmente mudaria a estratégia inicial de todo candidato que passa pelo treinamento do PSB quando vai ser candidato majoritário: falar muito e sem pausas, para não dar tempo aos entrevistadores de aprofundar perguntas. É um jeito de deixar tudo superficial e não ser muito questionado sobre realizações (ou sobre a falta delas).
Danilo Cabral (PSB) sorteado para ser o primeiro na sabatina que a Rádio Jornal realiza esta semana, começou seguindo o roteiro. Perguntado sobre infraestrutura, decidiu antes falar do próprio currículo. E o fez, claro, sem dar pausas entre as frases.
Quando começou a ser questionado, porém, o candidato socialista não se furtou a responder e nem tentou ignorar os interlocutores, como os colegas costumavam fazer. Surpreendeu bem.
Experiência no Congresso Nacional, nessas horas, conta. Danilo está acostumado a falar, ser interrompido, interromper e ainda assim manter linhas de raciocínio sem irritação e sem fugir do assunto. Geraldo Julio (PSB) e Paulo Câmara (PSB), que nunca foram parlamentares, sempre tiveram dificuldade com isso.
É um ponto positivo.
E o conteúdo?
Agora, se a forma agrada, o problema é o conteúdo. E não é culpa de Danilo. Porque é quando entra em jogo toda a dificuldade para se manter o poder por 16 anos e, ainda assim, propor mais quatro.
A herança negativa do PSB é muito consistente. Não é de “ouvir falar”, nem é fruto puro e simples de intrigas políticas.
Os gargalos da administração do estado nos últimos anos estão no dia-a-dia das pessoas por tempo demais para serem relativizados. E aí, para castigo do candidato, não existe uma proposta que ele faça que não possa ser rebatida com “vocês já prometeram isso antes e não fizeram”.
É cruel, mas não há como fugir. Se a proposta, como foi feita, é duplicar a BR 232 de São Caetano até Serra Talhada, imediatamente se lembra que as gestões do PSB não terminaram a BR 104, não fizeram a BR 423 e nem recuperaram a própria BR 232 no trecho entre Recife e Caruaru.
Sem falar em todas as outras rodovias menores que sofrem pela ausência do estado.
Tudo foi PSB
Como vender que vai fazer uma obra de R$ 3 bilhões (estimado para duplicar a rodovia até Serra Talhada), se não se conseguiu arranjar R$ 300 milhões para tentar salvar o trecho Recife-Caruaru?
O mesmo vale para outras propostas, como é o caso da mobilidade na Região Metropolitana. Como prometer que as coisas vão ser resolvidas se o próprio candidato foi secretário das Cidades, ficou à frente dos projetos da Copa do Mundo e quase nada saiu do papel na época?
O problema do grupo no poder ou do candidato que o representa é que qualquer futuro recebe questionamentos de seu próprio passado. É possível pedir paciência uma vez, duas, receber novas chances. Mas a paciência vai diminuindo a cada eleição e cada uma fica mais difícil que a anterior.
Danilo vai conseguir reverter isso mudando a opinião das pessoas com a habilidade que traz da experiência no Congresso para convencer seus pares? Difícil dizer.
O cansaço público com os socialistas é algo palpável nesse momento. O que faz a missão de Danilo ser muito mais difícil do que foi a de Paulo Câmara (PSB) em duas eleições.