Cena Política

Será que não está na hora de dar uma "conta de luz" aos deputados?

Talvez ainda seja difícil imaginar que raios de revolução seria necessária para se implementar um semipresidencialismo no Brasil. Mas é preciso pensar

Publicado em 25/06/2024 às 20:00
Análise

Há quem defenda que o Brasil é um país politicamente instável e ainda muito imaturo para um regime semipresidencialista.

Mas, e se o amadurecimento depender, na verdade, de um modelo de fácil adequação como o semipresidencialismo para evitar as rupturas que acontecem normalmente em processos de impeachment como os que já enfrentamos?

E se dar mais poder ao Congresso Nacional for exatamente o que é necessário para lhes chamar à responsabilidade que eles, atualmente, não parecem entender que possuem?

Uma conta, ao menos

Nossos deputados e senadores costumam ter muitos benefícios, cada vez mais poder e uma responsabilidade com a execução de políticas públicas que não consegue acompanhar esse mesmo ritmo.

Poucas obrigações, uma vida cada vez mais tranquila, mais dinheiro para fazer política e nenhuma responsabilidade quando o Brasil afunda. Com raras exceções, essa é a rotina do parlamentar brasileiro. 

É como um adolescente, com casa, comida, roupa lavada e pouca ou nenhuma ocupação além de dar pitaco sobre o que acha que está certo, na mesa de jantar, chegando a virar a mesa quando não gosta do menu.

Será que não está na hora de entregar uma conta de luz para ele pagar todo mês? Responsabilizá-lo por algo?

Modelo

No semipresidencialismo, o eleitor segue votando no presidente e nos deputados e senadores.

Mas a implantação da política de governo é responsabilidade de um primeiro-ministro, escolhido pelo presidente e sustentado pelo parlamento.

Se a política de governo não estiver sendo aplicada com eficiência e os resultados não estiverem aparecendo, se metas não estiverem sendo alcançadas, o primeiro-ministro pode cair e, o congresso também. Convocam-se novas eleições para o Legislativo.

Responsáveis

Ao invés de criar confusão e tirar o corpo fora, provocar instabilidades para enfraquecer governos, paralisar o país quando seus pedidos de verba não são atendidos, os deputados e senadores seriam responsabilizados diretamente quando o país não atingisse metas.

Seria necessário entregar resultados, sob o risco de perder a cadeira e ter que enfrentar nova eleição com uma frequência maior que a esperada.

Com essa incerteza sobre o tempo em que teriam mandato, até as campanhas poderiam ficar mais baratas. E certamente eles iriam se preocupar em apresentar mais resultados do que fazer barulho ou travar pautas, como fazem hoje.

Quanto pior, melhor

Hoje, quando a popularidade do governo Lula (PT) cai, ou ontem quando a popularidade do governo Bolsonaro (PL) caia, somente os presidentes pagam o pato. O Congresso aproveita e amplia sua influência.

Se a popularidade caiu é porque o país está mal e a população está sendo prejudicada. E o parlamento comemora porque vai poder exigir mais emendas e pressionar o presidente da vez, enfraquecido, preocupado com a possibilidade de um impeachment.

Hoje, quanto mais fraco o presidente, mais poder para o Legislativo. Se for assim sempre, qual o interesse do Congresso no avanço do país?

Um dia

Talvez ainda seja difícil imaginar que raios de revolução seria necessária para se implementar algo assim no Brasil, com o presidencialismo enraizado e tantos centros de poder dependendo desse modelo. O presidencialismo evoluiu muito pouco e muito mal ao longo das décadas.

Mas é preciso começar a construir um caminho. Geralmente, o fundo do poço é a senha para buscar novos ares. Quanto será que ainda falta para o Brasil chegar lá?

Representatividade

Vale a pena conferir a entrevista concedida pela antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz ao colunista deste JC, na coluna Literária, Fábio Lucas. Lilia assumiu há alguns dias uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Chama atenção por ser apenas a quinta mulher desta formação, de um total de 40 imortais.

Ocupar

Outra característica bem marcante que ficou perceptível com a entrevista exclusiva ao JC: Schwarcz defende uma aproximação da academia com as redes sociais. Para ela é algo necessário.

“Na minha opinião, as redes sociais vieram para ficar. Então é melhor que a gente invada, no bom sentido, as redes sociais, com boa informação. Que a intelectualidade, a Academia, estejam presentes, com o que há de melhor, a divulgação de conhecimento de qualidade, de dados, da história, da literatura. Toda vez que me perguntam se tenho uma opinião, procuro trocar por uma informação”, disse.

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