COLUNA ENEM E EDUCAÇÃO

Professores aprendem, na marra, a usar tecnologia para dar aula remota

Pesquisa do Instituto Península mostra que 83% dos docentes brasileiros se sentem poucos ou nada preparados para ensino remoto. Com 46 anos de magistério, Débora Meneghetti está gostando da experiência e diz que vai manter a tecnologia nas suas aulas após a pandemia

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 31/05/2020 às 11:50 | Atualizado em 31/05/2020 às 12:20
Divulgação / Colégio GGE
Com mais de 40 anos de magistério, professora Débora Meneghetti é uma das que está aprendendo a usar a tecnologia nas aulas remotas - FOTO: Divulgação / Colégio GGE

"Eu sabia que iria dar aula para experts em informática, para uma geração que resolve tudo num clique. Não estava na frente de leigos. Esse foi meu maior medo. Porque o conteúdo não me preocupava.” O depoimento é da professora de matemática Débora Meneghetti, 67 anos de vida e 46 de magistério, na véspera da primeira aula remota que deu aos seus alunos do 1º ano do ensino médio do Colégio GGE, no Recife, mês passado. Como ela, milhares de docentes brasileiros tiveram que aprender, na marra, a usar a tecnologia para se adaptar ao ensino remoto devido à nova realidade educacional imposta pela pandemia da covid-19.

Pesquisa realizada pelo Instituto Península, organização social que foca na melhoria da qualidade da educação no País, revela que 83% dos professores brasileiros ainda se sentem nada ou pouco preparados para a educação remota. A enquete, realizada com 7.734 docentes entre 13 de abril e 14 de maio, faz parte de um levantamento mais amplo, dividido em quatro etapas, que pretende apontar sentimentos e percepções dos professores nos diferentes estágios do coronavírus no Brasil. De cada cem docentes, 88 afirmaram que nunca tinham dado aula a distância antes da suspensão das aulas presenciais.

“Meu computador é jurássico, o word é de 2013. Antes da pandemia, usava no máximo para preparar uma prova ou exercício. De repente, precisei para dar aula online. Na primeira vez fui dormir de madrugada, organizando tudo. Na hora de começar, a câmara não funcionou, não consegui compartilhar o material com os alunos”, relembra Débora, que contou com a ajuda de uma das alunas para orientá-la a resolver o problema.

“Agora as coisas estão funcionando direitinho, mas ainda tenho muito a aprender. Até alunos que não eram meus, de unidades do GGE de Aldeia e de Caruaru, estão elogiando minhas aulas”, conta a professora, que já perdeu as contas de quantos estudantes ensinou.

O modelo remoto exige mais tempo para preparar as aulas. “Antes se eu gastava meia hora, agora são quatro, cinco horas. Chegava na sala de aula e fazia os desenhos geométricos no quadro. Com a aula virtual preciso montar, usar aplicativos. É bem mais trabalhoso”, diz Débora.

Ela passou a ensinar os assuntos mais lentamente. “O olhar do aluno na sala diz muito. Ele pode sacudir a cabeça afirmando que compreendeu, mas o olho diz que não. Com a aula remota, as câmeras da turma ficam desligadas enquanto explico o assunto. Tenho então que ser mais detalhista, repetir, ensinar mais devagar para ter certeza de que entenderam”, conta a professora. “É bom porque antes da pandemia alguns alunos comentavam que eu era muito apressadinha. Fui forçada a desacelerar e estou achando bom”, comenta.

Apesar do pouco tempo convivendo com a rotina do ensino online, Débora já tem certeza de que vai manter a tecnologia nas suas aulas presenciais quando a pandemia passar. “Por comodidade, eu não usava recursos de informática. A característica de um professor é ser antes um bom aluno, pois ele tem que aprender para depois ensinar. Estou gostando da experiência virtual e percebo que não tem mais como voltar atrás.”

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