Ex-presidente do Inep e criadora do Enem quer esclarecimentos jurídicos sobre fala de Bolsonaro a respeito das provas
Em meio a uma série de demissões no Inep e acusação de censura de conteúdo das provas, o presidente Jair Bolsonaro disse que agora, as questões do Enem passam a ter "a cara do governo"
Após a polêmica declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), de que as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, começam a ter “a cara do governo”, a ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, cobrou apuração jurídicas sobre a afirmação.
“Baseado em quê ele fez essa afirmação? Alguém vai ter que dizer o fundamento dessa afirmação. Tem que ter apuração jurídica”, disse a educadora, responsável pela criação do Exame Nacional. "Há um contínuo e crescente movimento de desmanche do Inep. Precisa de independência, não pode ficar nas mãos de nomeações de pessoas que podem ter perfil profissional espetacular para empresa, mas não produz trabalhos fundamentais para políticas educacionais.", defendeu Inês, em entrevista ao UOL News, nesta terça-feira (16).
A fala de Bolsonaro foi dita durante a realização de um fórum de investimentos em Dubai, nos Emirados Árabes, em meio a uma crise interna no Inep com 37 demissões, na semana passada, envolvendo coordenadores ligados à prova. Nesta quarta-feira (17), a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, vai analisar o requerimento para convocação do ministro da Educação, Milton Ribeiro, para prestar esclarecimentos sobre a crise no Inep.
Líder do PSB na Câmara e autor do requerimento, o deputado Danilo Cabral, também repercutiu as afirmações do presidente a respeito do Exame, que será realizado no dia 21 de novembro. “O Enem não deve ter a cara de governo A ou B, não deve ser uma prova baseada em ideologias. A prova é uma política de Estado, voltada para o acesso dos estudantes ao ensino superior”, afirmou o parlamentar. “As declarações do presidente Bolsonaro confirmam que há tutela ideológica no Enem e também colocam em xeque a lisura da prova”, completou.
Na semana passada, também a pedido de Danilo Cabral, o presidente do Inep, Danilo Dupas, esteve na Comissão de Educação para tratar sobre a crise no órgão. Na ocasião, ele assegurou não haver interferências no Enem, e que as provas estão prontas e as equipes foram capacitadas para a aplicação dos exames. Apesar de não relevar a motivação que levou 37 servidores a deixarem seus cargos, ele explicou que nem todos estariam ligados à aplicação do Enem
“Esses servidores colocaram seus cargos à disposição da Presidência, não estão deixando o Inep nem o serviço público; afinal, são servidores de carreira da autarquia. E é preciso ficar claro que, até a efetivação das exonerações, eles cumprirão com as obrigações de seus cargos, o que vêm fazendo com excelência”, explicou Dupas, segundo informações da Agência Câmara de Notícias.