Gil do Vigor foi beneficiado por política afirmativa na UFPE anterior à lei de cotas
O pernambucano Gil do Vigor, ex-Big Brother, ganhou bônus de 10% na nota do vestibular da UFPE em 2010. A cota na UFPE começou a vigorar em 2013
Um dos pernambucanos mais famosos da atualidade, o economista Gilberto Nogueira Júnior, 31 anos, mais conhecido como Gil do Vigor, foi beneficiado por uma política afirmativa anterior à lei de cotas, criada em 2012. O ex-Big Brother atualmente está cursando doutorado na Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos.
Gil ingressou na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no curso de economia, em 2010, contou ele numa entrevista para o programa do Fantástico, da Rede Globo. Ao fazer o vestibular, ganhou um bônus de 10% na sua nota final.
Em 2006, portanto seis anos antes da lei de cotas, a UFPE decidiu que todos os candidatos que tivesse concluído o ensino médio em escola pública municipal ou estadual de Pernambuco teriam direito ao incentivo de 10% no argumento final de classificação do vestibular.
Para os câmpus de Vitória, na Zona da Mata, e Caruaru, no Agreste, os candidatos vindos de escolas privadas do interior pernambucano, situadas fora do Recife e Região Metropolitana, tiveram direito a 5% de acréscimo na média. O bônus não valia para estudantes de escolas públicas vinculadas a instituições públicas de ensino superior (colégios de aplicação).
Em 2012, a lei das cotas determinou que as universidades e institutos federais poderiam implementar a reserva de 50% das vagas em até quatro anos. Assim, a UFPE destinou, em 2013, 12,5% das vagas das graduações para quem estudou todo o ensino médio em escola pública. Em 2014 colocou mais 12,5%, chegando a 25% do total de vagas. Em 2015 passou para 37,5% e acabou em 2016 com os 50% previtos na lei.
Na última edição do Sisu da qual disponibilizou vagas - a primeira deste ano de 2022 - a UFPE ofertou 7.012 vagas de graduações, sendo 3.500 vagas para ampla concorrência e 3.512 vagas para cotas.
Além das cotas, a universidade mantem a concessão de bônus na nota do Enem para dois grupos de estudantes.
Os candidatos de medicina no câmpus Recife que estudaram todo o ensino médio em escolas de Pernambuco recebem um acréscimo de 7% na média do Enem. Já os vestibulandos que estudaram na Zona da Mata ou no Agreste e que concorrem a vagas nos câmpus de Vitória de Santo Antão e Caruaru ganham 10% na nota.
Vale lembrar que o estudante não pode concorrer pelo sistema de cotas e ganhar o bônus. Tem que optar por um dos benefícios.
GIL E A POLÍTICA AFIRMATIVA NA UFPE
Gil contou que sempre estudou em escola pública. "A cota não resolve a desigualdade na educação, mas é preciso para remediar esse problema que é tão grave", comentou o economista pernambucano. "A cota resgata muita gente que está em condição desigual".
"Entrar na universidade foi um presente que recebi e eu precisava valorizar. Entrar é dificil, mas permanecer acaba mais dificil ainda. Vim de uma escola pública que não me deu base, entrei num curso essencialmente elitizado", contou Gil.
Uma vez ele pediu para um professor explicar um assunto. Fez muitas perguntas durante a aula. Escutou de um colega de classe: "No dia que Gil tirar 10 a turma toda vai estar formada".
"Aquilo me ofendeu e eu quase desisti. Pensei 'sou o pior da turma, eu sou burro'. Eu estava competindo em condições desiguais. Mas também me fez entender quem eu sou", afirmou Gil. Ele disse que estudou bastante e tirou 10 na prova desse professor. "E depois quem desitiu do curso? Aquele colega que falou de mim antes", relatou.
"Meu objetivo desde sempre foi cuidar do meu país. Sou um produto das políticas públicas de educação. Estudei numa universidade pública, ganhei bolsas da Capes, da Facepe.
Educação é a chave para melhorar o mundo, para tirar as pessoas da vulnerabilidade", destacou. "A pior pandemia é a ignorância e a vacina é a educação. Eu sou um exemplo de que investir em educação dá certo".