Ativistas negras defendem recorte racial no debate sobre cuidado
De acordo com levantamento do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, as mulheres negras equivalem a 45% das pessoas que atuam em serviço de cuidados
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano - "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil" - gerou uma série de discussões na mídia, escolas e sociedade em geral.
Parte da invisibilidade mencionada na prova se deve ao fato de a maior parte das mulheres envolvidas no trabalho do cuidado serem mulheres negras. Essa é a opinião de pesquisadoras e ativistas ouvidas pela Agência Brasil, que observaram a falta de referências à dimensão racial.
De acordo com levantamento do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, as mulheres negras equivalem a 45% das pessoas que atuam em serviço de cuidados. As mulheres brancas são 31%; e os homens, sejam brancos ou negros, equivalem a 24%.
"No Brasil, a gente tem uma grande dificuldade de reconhecer mulheres negras independente do posto de trabalho. A gente tem uma grande dificuldade em reconhecer as potencialidades de mulheres negras", assinala a historiadora Janaína Costa, autora da dissertação de mestrado "Quantas histórias cabem em uma narrativa - deslocamentos, desigualdade e desafios na história cotidiana de trabalhadoras domésticas no Brasil".
Janaína considera que o próprio enunciado no Enem, ao delimitar apenas o recorte de gênero, contribuiu para invisibilizar as mulheres negras. "A perspectiva que não racializa a discussão não traz para o debate aquelas que historicamente são prejudicadas", complementa pesquisadora e criadora da página Ela é só a babá, que discute o trabalho doméstico a partir de experiências pessoais e estudos acadêmicos.