Pisa: Especialistas afirmam que Brasil precisa investir em políticas e ações de longo prazo para Educação

O impacto da pandemia da covid-19 na queda das médias do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2022, já era esperado, segundo especialistas. No entanto, a crise sanitária não pode ser colocada como a única responsável pelo baixo desempenho em matemática, leitura e ciências, principalmente nos países que já vinham com um cenário considerado muito ruim em edições anteriores do Pisa.

As médias brasileiras de 2022 foram praticamente as mesmas de 2018 nas três disciplinas. Apesar da média da OCDE nessa edição do estudo ser a menor de toda a série histórica (desde 2000), os estudantes do Brasil obtiveram pontuação inferior a ela em matemática, leitura e ciências.

Ex-secretário de Educação de Pernambuco e titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, o educador Mozart Neves Ramos, explica que é importante compreender o quadro geral desse levantamento, divulgado na última terça-feira (5).

“Desde 2012 para cá, o Brasil vem ocupando as últimas posições tanto em matemática, como em leitura e ciências. O grande impacto da pandemia que verificamos, foi principalmente nos países da comunidade europeia. Por exemplo, a Finlândia, que sempre vinha entre as melhores, teve uma queda enorme. Já os países asiáticos se deram muito bem, e praticamente não sentiram o efeito da pandemia, muito pelo contrário, países como Cingapura, melhoraram em todos os três itens avaliados”, afirmou o Mozart, em entrevista ao programa Primeira Página da Rádio Jornal.

Ainda segundo o ex-secretário da Educação, é importante replicar situações como as que ocorrem nos municípios de Sobral (CE), Coruripe (AL) e Cocal dos Altos (PI), que possuem resultados excepcionais nos índices de avaliação. Além disso, Mozart Neves ressalta o investimento na formação de professores e diretores das escolas. “Um diretor escolar eficaz, produz um incremento de 12 pontos na escala SAEB, e 12 pontos equivale a quase 8 meses a mais de aprendizagem”, disse.

“Nossos cursos são muito teóricos e exercem pouco a formação prática dos futuros professores. Já os diretores na sua maioria, são escolhidos por questões políticas, quando era para estabelecer uma seleção obedecendo critérios técnicos. Tem também a questão ainda do financiamento, que triplicou dos anos 2000 para cá, mas a educação não melhorou na mesma proporção”, concluiu. 

AGENDA SISTÊMICA E DE LONGO PRAZO PARA EDUCAÇÃO

A analista de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Natália Fregonesi, em conversa com a coluna Enem e Educação, deste JC, também chamou atenção para a necessidade do Brasil de criar uma agenda sistêmica e a longo prazo para a Educação.

Nesta edição, o estudo comparativo internacional focou nos conhecimentos e habilidades em matemática, mas também evidenciou gargalos em leitura e ciências.

“Precisamos entender o que, ao longo do tempo, tem feito com que o desempenho dos estudantes seja baixo. A pandemia amplificou isso, mas na realidade o cenário já era muito crítico. Não existe solução única que resolveria todos os problemas da Educação, mas o governo federal e o Ministério da Educação precisam criar agendas sistêmicas e de longo prazo com conversas claras e ações específicas”, pontua Natália.

Entre as políticas estruturantes que deveriam estar nessa agenda, a analista do Todos pela Educação destaca o investimento na formação inicial de professores.

“A literatura diz que os professores são um dos principais elementos que impactam no desempenho dos estudantes. Se temos professores bem formados, é muito possível que o desempenho vai melhorar, só que hoje os cursos são ruins e não estão preparando bem os professores para os desafios da educação”, declarou Natália Fregonesi.

INVESTIMENTO TEM QUE COMEÇAR NA PRIMEIRA INFÂNCIA

Em 2022, o desempenho médio brasileiro foi de 379 pontos em matemática. A pontuação é inferior à média do Chile (412), Uruguai (409) e Peru (391), ao passo que não há diferença estatisticamente significativa entre a média do Brasil, da Colômbia (383) e da Argentina (379).

Dos estudantes brasileiros, 73% registraram baixo desempenho nessa disciplina (abaixo do nível 2). Esse nível é considerado pela OCDE o padrão mínimo para que os jovens possam exercer plenamente sua cidadania. Entre os países-membros da OCDE, o percentual dos que não atingiram o nível 2 foi de 31%. Apenas 1% dos brasileiros atingiu alto desempenho em matemática (nível 5 ou superior).

Em leitura, o desempenho médio brasileiro foi de 410 pontos. A pontuação é estatisticamente inferior à média do Chile (448) e Uruguai (430), mas superior à da Argentina (401). Dos estudantes brasileiros, 50% tiveram baixo desempenho nessa disciplina (abaixo do nível 2). Entre os países-membros da OCDE, o percentual dos que não atingiram esse nível foi de 26%. Apenas 2% dos brasileiros atingiram alto desempenho em leitura (nível 5 ou superior), enquanto, nos países da OCDE, a concentração foi de 7%.

Já com relação a ciências, a média brasileira foi de 403 pontos, resultado inferior às médias do Chile (444), do Uruguai (435) e da Colômbia (411). Na América do Sul, o Brasil ficou em último lugar (empatado com Argentina e Peru). Entre os brasileiros, 55% registraram baixo desempenho nessa disciplina (abaixo do nível 2) e 1% atingiu alto desempenho (nível 5 ou superior). Nos países da OCDE, a taxa de baixo desempenho foi de 24%, e a de alto desempenho, de 7%.

Diante desses resultados, especialistas em Educação reforçam que não se pode falar em educação de qualidade no ensino fundamental e médio, se esse investimento não começar desde a Primeira Infância, na faixa etária de 0 a seis anos.

“Nessa avaliação nós estamos falando de estudantes de 15 anos, mas a trajetória deles começa na creche, na pré-escola. Então a gente precisa garantir na base que essas crianças tenham oportunidade de desenvolvimento pleno com acesso a recursos e ferramentas tanto na educação, como em termos de saúde e assistência social, para termos resultados lá na frente”, disse a analista de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Natália Fregonesi.