Poucas cidades no mundo têm uma relação tão intensa com suas pontes como o Recife. Por aqui elas são numerosas, têm nomes pomposos e histórias curiosas. Pena que a atenção do poder público a elas ainda esteja tão abaixo do que merecem. A regra é ver os passeios, principalmente os da área central e histórica da cidade, em péssimo estado de conservação, com luminárias depredadas, gradis arrancados, além de ferragens expostas nas partes inferiores.
Para se ter uma ideia, o programa municipal que trata da recuperação das vias foi anunciado apenas após imagens que mostravam seu péssimo estado de conservação viralizarem nas redes sociais, no início de dezembro de 2018. No dia 7 daquele mês, a Prefeitura do Recife, para evitar pânico entre a população (algumas imagens davam conta da possibilidade de desabamento de pontes), apresentou o Programa de Recuperação das Pontes do Recife, começando pelas pontes do Derby, na área central, e Torre e Motocolombó, na Zona Oeste. Custo do projeto inicial: R$ 20,7 milhões. À época, o secretário de Infraestrutura e Serviços Urbanos, Roberto Gusmão, alegou que eram os primeiros recursos conseguidos pela PCR junto ao governo federal desde 2013.
As pontes tiveram suas obras iniciadas no prazo previsto. As da Torre e Derby deveriam ser concluídas este mês, mas, os serviços irão até abril e o segundo semestre deste ano, respectivamente. Os trabalhos na Ponte Motocolombó, em Afogados, seguem até abril de 2021. Essas, no entanto, são só três das 27 pontes localizadas na capital. Infiltrações, ferragens expostas, passeios e guarda-corpos danificados são alguns dos problemas visíveis em muitas das estruturas.
Estudo alertou para falta de manutenção
Os problemas nas pontes do Recife também viraram assunto de sala de aula quando dois estudantes de engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) adotaram quatro pontes como objeto de estudo para o Trabalho de Conclusão de Curso.
As pontes analisadas foram as da Torre, Motocolombó, Estácio Coimbra, no Derby, e Princesa Isabel. Pelas imediações das estruturas estudadas circulam mais de 120 mil veículos diariamente, de acordo com a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU).
Na Motocolombó, o cenário visto era de completo abandono. Estruturas expostas, encanamentos enferrujados, rachaduras, buracos e manchas de infiltração.
Na ponte do Derby, os problemas eram semelhantes. Na parte de baixo, a estrutura metálica, além de exposta, estava rompida pela ação da água.
Em março de 2018, o professor que orientou os alunos, Tibério Andrade, afirmou que a ponte em pior estado era a da Torre. “Ela tem em torno de 40 anos e, muito provavelmente, nunca passou por uma intervenção. Se observa nos pilares um processo de corrosão nas estacas”.
A Princesa Isabel estava repleta de manchas brancas, chamadas lixiviações. O problema é causado pela infiltração de água.
Obras nas pontes do Derby, Torre e Motocolombó
Segundo a prefeitura, os serviços nas pontes do Derby e da Torre “contemplam recuperação dos tubulões, das travessas, transversinas e do tabuleiro da ponte, a substituição dos apoios, através de macaqueamento hidráulico (que possui a capacidade de 200 toneladas-força) e a pintura de proteção em todo serviço realizado.”
Nos fins de semana de março de 2020, a Ponte da Torre será bloqueada para conclusão dos serviços de recuperação. A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) informou que mais de 85% da obra já foi executada. Sobre a Ponte do Derby, o órgão diz que já foram mais de 75%.
Com relação à Ponte Motocolombó, de acordo com a prefeitura, a obra está em fase inicial com mais de 20% de execução. Em seguida, “passará por processos de recuperação estrutural das vigas; uso de concreto projetado onde houver maior necessidade de proteção (lançado através de bombas); e grauteamento (ato de aplicar um microconcreto fluido para preencher cavidades e dar mais resistência às estruturas).”
Outras pontes
Em nota, a Emlurb informou que está concluindo os projetos das pontes Joaquim Cardozo e Joana Bezerra, na Ilha Joana Bezerra, e Giratória, em São José, além do Viaduto Capitão Temudo.
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